Show

Aline Calixto apresenta nesta quinta (23) o repertório de 'Serpente'

Novo álbum da cantora traz dez composições autorais que mergulham nas dores do amor

Qui, 23/11/17 - 02h00
Arte. Fotos do encarte e da capa do álbum captam a cantora saindo de um mergulho “denso e sofrido” | Foto: PHIL LEON/DIVULGAÇÃO

O mergulho que Gal Costa deu em 1978 na capa do LP “Água Viva” é diferente do que Aline Calixto, 36, concebeu para “Serpente”. “É um mergulho do qual estou saindo. Muita gente comparou as imagens, mas na da Gal ela está sorrindo, tem uma luminosidade. O meu é uma coisa densa, sofrida, de uma necessária libertação”, atesta. A cantora carioca radicada em Belo Horizonte apresenta nesta quinta-feira (23), na capital mineira, o repertório do novo disco, quarto de uma carreira solo iniciada no mercado fonográfico em 2009.

Mas há peculiaridades no atual trabalho que talvez o tornem mais próximo da “Água Viva” de Clarice Lispector, livro lançado pela autora ucraniana em 1973 e que propõe um mergulho na alma da personagem. “Enquanto mulher que já viveu muita coisa, achei que chegou o momento de, mais do que expor, compartilhar histórias com as quais muitas pessoas já estão se identificando, porque são coisas que todo mundo sente e vive”, afiança.

Feminismo. Ao longo de faixas como “Colapso”, “Sentimento Errado”, “O Tiro”, “Brilho Perdido” e a que dá título ao disco, Aline desfia o novelo de amores desfeitos pela perspectiva feminina e coloca o dedo na ferida em assuntos cada vez mais latentes que ficaram silenciados durante muito tempo, como machismo e relacionamentos abusivos.

“Esses temas sempre foram importantes e estão presentes em outros trabalhos meus também, como ‘Meu Ziriguidum’, que fala do empoderamento feminino”, exemplifica Aline. A música em questão, que batizou o antecessor de “Serpente”, dispara: “Eu vou de madrugada/ Eu vou com você ou não/ (...) E ninguém me segura/ Porque eu nem sei de mim”.

“O ‘Serpente’ fala dessas relações que para nós, mulheres, tem um abuso que muitas vezes é mascarado, mas está ali presente, e a gente precisa falar sobre isso com mais liberdade”, incentiva a intérprete.

Casos de assédio e de relações abusivas que vieram à tona nos últimos anos ganharam força com diversas campanhas criadas nas redes sociais feitas para impulsionar as denúncias. Aline é mais uma voz que se junta a esse coro inconformado e libertário.

“Hoje em dia muitas mulheres estão abrindo o jogo, revelando. Colocar isso também no disco é mais uma forma de dar voz e fazer com que as pessoas se libertem dessa história e consigam, assim, mudar essa situação”, avalia.

A iniciativa rendeu à cantora elogio público da filósofa Marcia Tiburi, que escreveu: “Ouvir Aline Calixto é um cuidado na contramão dos hábitos adoecidos”. Outra novidade do lançamento é que todas as faixas são assinadas por Aline, que apresenta parcerias com Déa Trancoso e Moacyr Luz.

“Componho essas músicas desde 2003. São temas espinhosos. Agora me sinto mais à vontade e confiante para falar”, sustenta. Para sublinhar essa agudez, Aline rodeia o samba com um som diferente, calcado na harpa de Cristina Braga. “O Domenico Lancellotti (diretor musical) trouxe essa ideia quando falei da conotação difícil e nublada que tange o disco”, conta a entrevistada, admiradora, de primeira hora, de Dona Ivone Lara.

Agenda

o quê. Show de Aline Calixto

quando. Quinta (23), às 20h

onde. Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2. 244, Lourdes)

quanto. R$ 40 (inteira)

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