Autonomia

Artes plásticas e escola são portas de entrada

Em 2016, os projetos já passaram por cidades do interior de Minas, pelo Espírito Santo e, ainda, por centros culturais de BH

Dom, 23/07/17 - 03h00

Se o movimento de conscientização das possibilidades de produção infantil em algumas áreas ainda é recente, há outras que já ganham atenção, em Minas, há mais tempo – não sem ter de enfrentar desafios. Desde 1999, o arquiteto, artista plástico autoditada e especialista em arte e educação Elias Rodrigues de Oliveira realiza cursos itinerantes e exposições que envolvem crianças e adolescentes de escolas públicas, por meio de recursos de leis de incentivo, em seus projetos Arteirartista e Arte na Infância – ele estima já ter atingido 50 mil crianças.

Em 2016, os projetos já passaram por cidades do interior de Minas, pelo Espírito Santo e, ainda, por centros culturais de BH. “Realizamos minicursos de arte para um processo de alfabetização gráfico-plástica. Damos uma introdução relevante à linguagem visual. É interessante porque a criança aprende questões como a articulação dos elementos, da cor, do espaço do papel. Essas técnicas, somadas à memória afetiva, resultam em peças nas quais elas falam sobre o que interessa a elas”, diz Oliveira.

Para o artista, no entanto, há muita rejeição por parte da academia no entendimento da arte feita pelas crianças. “A arte convencional está vinculada à história, aos estilos europeus, coisas que fazem sentido para o adulto, para o mercado. Essa criança, então, fica à margem, sem espaço na galeria, na mídia. E ela, que já não tem autonomia financeira, acaba impedida de realizar sua expressão cultural”, pontua. “Este homem diplomado está desconsiderando as contribuições que a criança pode trazer, inclusive fazendo com que adultos revisitem a infância”, argumenta.

A curadora educativa Clarita Gonzaga acredita que o caminho para a mudança passa pelo aprimoramento do ensino das artes na escola. “Eu não jogo no lixo a escola tradicional, mas o modo de ensino precisa de revisões, inclusive no campo da artes. Existe uma verticalização grande, até por um sistema, um currículo rígido, e isso pode comprometer a experiência da criança. No caso da arte, isso é definitivo, porque a maneira como a criança a vivencia será levada para a vida – e sabemos que muitas famílias não levam os filhos a exposições, por exemplo. É preciso trabalhar a autonomia na escola até para a formação de adultos mais conscientes, e a arte é uma possibilidade, já que, ao fazê-la, é preciso escolher cor, discurso e formas, por exemplo”, explica.

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