Infantojuvenil

Autismo e tragédia escolar para enxergar a dor do outro

Kathryn Erskine lança hoje, às 14h, “Passarinha”, obra ganhadora do National Book Award

Sáb, 27/02/16 - 03h00
Inspirada por sua filha, Kathryn Erskine criou obra sobre autista | Foto:

 

"Passarinha” é um livro infantojuvenil, mas não segue a tradição do gênero de escolher temas leves e lúdicos. Pelo contrário. Escrita pela norte-americana Kathryn Erskine, a obra ganhadora do National Book Award se ancora em dois temas fortes. O primeiro é o massacre de 32 pessoas na Virginia Tech University, em 2007. O segundo é a síndrome de Asperger, um transtorno do espectro autista que se diferencia do autismo clássico por apresentar fala compreensível.
 
O romance já começa com um sentimento difícil. A falta que Caitlin, 10, sente de seu irmão mais velho, Devon, que foi morto, ao lado de seus colegas, num tiroteio na universidade. Na sequência, uma complicação para o momento: Caitlin tem Asperger e, enquanto toda a cidade quer demonstrar seu apoio perante os terríveis fatos, a menina prefere se fechar em um mundo à parte, onde pode ficar sozinha com a memória do irmão, que era justamente quem a ajudava a fazer sentido de um mundo que ela não entende bem. “Não quero estar com eles nem falar com eles nem passear com eles”, diz, categoricamente, ao pai. A partir daí, Erskine tece com maestria uma história em que, a partir da intolerância dentro de uma família e de uma sociedade, reconstrói a vida de seus personagens.
 
“Os dois temas estão relacionados em meu modo de ver. Qualquer forma que possamos entender e apreciar pessoas que são diferentes de nós é benéfica. Faz com que elas não sejam mais estranhas ou alguém que devemos temer, mas as humaniza e nos mostra quão parecidos todos nós somos”, explica Kathryn, que é mãe de Fiona, que convive com a síndrome (“Eu queria ajudar as pessoas a entendê-la contando uma história através dos seus olhos”).

“O Sol é Para Todos”. Além dos temas fortes, Kathryn revela que “Passarinha” é inspirado, também, em “O Sol É para Todos”, primeiro romance de Harper Lee, que morreu na última semana aos 89 anos. “O livro é sobre tolerância e compreensão. Eles também são similares no sentido de que a personagem principal é uma menina jovem que é muito próxima ao seu irmão mais velho”, diz. 

Em inglês, a obra de Kathryn se chama “Mockingbird”, em referência a “To Kill a Mockingbird”, título original do livro de Harper. Aliás, o livro de Kathryn é recheado de jogos de palavras como esse, característica que dificultou o trabalho da tradutora Heloísa Leal. “Pode-se dizer que este é um romance de sincronicidades, em que todas as imagens se encadeiam perfeitamente para formar uma totalidade viva”, resume Heloísa. Apesar do desafio, o mais interessante jogo de palavras do livro chega intacto ao português quando Caitlin questiona ser chamada de “especial” (“Achei que especial era bom”, revela Caitlin ao descobrir que os colegas usam a palavra com o sentido de perturbadora). “As crianças enxergam através desses eufemismos – grupos de leitura com cores diferentes, por exemplo. Eles sabem quem lê rápido e quem lê devagar. O que precisam aprender é que leitores lentos podem ter talentos que os outros não têm”, explica Kathryn.

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