Perfil

Ayrton Montarroyos, 22, se destaca entre os nomes de sua geração

Cantor surgiu na cena musical aos 16 anos

Dom, 14/01/18 - 02h00
Trajetória. Ayrton Montarroyos estreou em homenagem a Gonzagão e foi indicado ao Grammy Latino | Foto: LUAN CARDOSO/DIVULGAÇÃO

“Modéstia à parte, sou um grande cantor, tenho muito talento, e você tem nas mãos a oportunidade de ouro de gravar comigo”. Com essas palavras Ayrton Montarroyos, 22, se apresentou ao produtor musical Thiago Marques Luiz. “Sou filho de Oxóssi, que é o orixá da caça. Com 15 anos, eu mandava e-mail para diversos produtores e percebi que estava me abaixando muito, ninguém me respondia. Resolvi mudar o discurso e mandei esse e-mail para o Thiago, de forma bem pretensiosa, achando que assim chamaria a atenção. Foi o que aconteceu”, conta.

O vídeo caseiro com a interpretação de Montarroyos para “Olhos nos Olhos” (Chico Buarque) chegou junto com o e-mail, em um link. Era a senha para a estreia do jovem cantor pernambucano no mercado fonográfico, em 2012. “O Thiago depois me disse que achou aquele e-mail um deboche e queria me responder só para dizer que eu devia ser mais humilde, que estava começando e ainda tinha muita estrada para percorrer”, relembra. No entanto, o próprio produtor teve que dar a mão à palmatória e admitir que aquelas palavras orgulhosas continham muita verdade.

“Ele estava na gravadora na hora, e todos que ouviram ficaram apaixonados. Mandaram ele me ligar para participar do CD que estavam produzindo. Imagina, eu era um menino de 16 anos”, diverte-se. O tal álbum era uma homenagem composta por três discos para saudar o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, com a participação de quase 50 artistas, entre grupos e intérpretes solo, como Fafá de Belém, Zé Ramalho, Elke Maravilha, Cida Moreira, Amelinha, Zezé Motta, Chico César, Maria Alcina, Angela Ro Ro, Célia, Zeca Baleiro, Dominguinhos e outros já consagrados.

Para ressaltar a bonita voz de Montarroyos, a ideia do produtor foi realizar sua tomada apenas com o acompanhamento de um violão. O intérprete ofereceu sua versão para “Riacho do Navio”, parceria com Zé Dantas lançada por Gonzagão em 1955. “Minha gravação foi citada por vários críticos como a melhor do disco. Aí comecei a colher os louros na minha terra. Fui capa dos jornais de Recife”, diz. Já em 2013, ele foi indicado ao Grammy Latino pela participação no disco “Herivelto Martins: 100 Anos”. “Na época eu não podia ir à premiação porque não tinha passaporte, visto nem dinheiro”.

THE VOICE. Desde então, Montarroyos acumulou experiências pouco comuns para um garoto da sua idade, e parece lidar cada vez melhor com os desafios impostos. “Nunca tive o sonho de entrar no ‘The Voice’. Fui convidado duas vezes e recusei. Na terceira, a minha tia praticamente me obrigou. Aquele é o mundo do entretenimento, e me trouxe uma bagagem importante. Aprendi a lidar com pressão e público. No dia 9 de fevereiro vou cantar no palco do Marco Zero (em Recife) para 200 mil pessoas, e a minha perna não treme mais”, garante.

A participação na atração da Rede Globo, em 2015, quando teve Lulu Santos como mentor, valeu ao cantor a segunda colocação. “Eu era a vírgula, o ponto de silêncio e som, a utopia do programa. Tive total liberdade para cantar o que eu queria. Levei para as pessoas os clássicos da nossa canção. Um dia, uma adolescente me parou num shopping para dizer que adorava a música ‘Carinhoso’ (de Pixinguinha e Braguinha), achando que era minha”, revela.

Clássico. Criado pelas tias e uma avó, a pouca idade não impediu a predileção de Montarroyos por canções antigas. “Gosto de música boa, o que independe de tempo. Minha geração tem excelentes cantores que são compositores pobres e insistem nisso, porque hoje em dia tem essa coisa do autoral”, critica. “Acho bonito as pessoas que acompanham artistas novos. Eu mesmo não tenho essa paciência”, afirma.

 

Projeto em dueto com Claudette Soares

Atualmente, Montarroyos está em uma turnê especial. Ele tem se apresentado ao lado da cantora Claudette Soares, que em 2017 completou 80 anos. “Participamos de um programa de TV para homenagear o centenário da Dalva de Oliveira e cantamos juntos ‘Neste Mesmo Lugar’ (de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti). O público gostou e começou a pedir shows”, declara.

Apesar de nunca ter se apresentado em Belo Horizonte, o cantor alimenta o sonho de trazer o show à cidade. “Fizemos dez apresentações em São Paulo, agora estamos em Recife e depois vamos para o Rio de Janeiro. Tenho muita vontade de não ficar só nesse triângulo, mas aí dependemos dos produtores locais”, observa.

Além do espetáculo, a ideia é que o projeto se transforme em disco. “Nós cantamos ‘Você’ (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), ‘Samba em Prelúdio’ (Baden Powell e Vinicius de Moraes) e mais uma porção de sucessos. Queremos, sim, gravar esse repertório”, diz.

 

Álbum solo prova a maturidade

Depois das participações, Montarroyos lançou, em 2017, seu primeiro álbum solo. Batizado apenas com o nome do intérprete, o trabalho apresenta 11 faixas. “É um disco que começa na terceira música e acaba na penúltima”, brinca o cantor. A abertura com “Diariamente” (de Paulo César Girão e Gérson) é sucedida por “Do Outro Lado”, instrumental assinada por Montarroyos.

“Foi um solfejo que fiz no estúdio e resolveram colocar no meu nome, mas é de todo mundo. Quando acordo, fico uns 30 minutos parado, sem fazer nada. Quis levar essa impressão para essa segunda faixa”, explica. “É a única em que eu não canto, não participo, nada, e foi escolhida por uma revista do Japão como a melhor do álbum. Uma prova de que as pessoas às vezes não entendem nada”, graceja o entrevistado.

Embora aponte Maria Bethânia, Dick Farney, Cauby Peixoto, Angela Maria, Dalva de Oliveira, Ney Matogrosso e Caetano Veloso como referências, o intérprete selecionou para o CD um repertório que equilibra com eficácia nomes de distintas gerações da MPB. “Não entendo isso de conceito, o que me guia é o sentimento. Escolho as músicas que gosto e acho bonitas, tentando não ser muito óbvio”, afiança. Com arranjos de Arthur Verocai, Diogo Strauz, Yuri Queiroga, Vitor Araújo, Zé Manoel e Rovilson Pascoal, o título conta com obras de Zé Manoel, Lula Queiroga, Cartola, Tibério Azul, Zeca Baleiro e outros.

“Canto mais músicas do passado pela qualidade, é um fato. Quando aparece uma coisa bonita e nova, eu gravo. China, Otto, Criolo e Ylana Queiroga já fizeram canções maravilhosas”, elogia. “Artista é tudo gente normal, não tem nada de mágico”.

 
“Ayrton Montarroyos”, primeiro álbum do cantor natural de Recife (PE), foi lançado em abril de 2017 e apresenta 11 faixas, uma delas é instrumental e traz a assinatura do anfitrião. As demais são composições de Zeca Pagodinho, Lula Queiroga, Zé Manoel, Zeca Baleiro, Cartola, Tibério Azul, Caetano Veloso e outros. Está disponível na internet.

 

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