Resgate

Beatlemania à cubana

Em Havana, clubes se dedicam a propagar a música do quarteto britânico

Qui, 23/03/17 - 03h00
Turismo. Centro cultural em Havana se dedica a perpetuar a obra dos Beatles e recebe muitos turistas | Foto: YAMIL LAGE/ AFP

HAVANA, CUBA. Todo domingo, ao anoitecer, ocorre um acerto de contas com um passado de proibição. E isto é feito dançando, usando roupas de roqueiro e cantando a plenos pulmões o repertório dos Beatles, que eram censurados em Cuba. É um paradoxo.

A paixão pelos Beatles, que encanta cubanos com idades entre 60 e 75 anos, não só é pública, mas é vivida diariamente em um clube noturno do mesmo Estado que antes os forçou a uma Beatlemania quase clandestina. Cabeludos grisalhos, mulheres maduras de minissaia e botas pretas e barrigudos exibindo camisetas alusivas ao quarteto de Liverpool chegam ao Submarino Amarelo, um bar com música gravada e ao vivo, no bairro El Vedado, em Havana.

À primeira vista, pode parecer uma festa retrô. Há cartazes, letras de músicas reproduzidas em larga escala, e capas de discos dos Beatles. No palco, está Eddy Escobar, um roqueiro de 46 anos que é considerado o melhor intérprete cubano da obra do lendário grupo. Para os clientes assíduos, é muito mais do que reviver as lembranças. “Não é a nostalgia, mas o direito de viver o que não puderam viver por todas essas contradições (políticas) que existiram”, diz o jornalista Guillermo “Guille” Vilar à AFP.

Aos 65 anos, Vilar é o diretor artístico do Submarino Amarelo. Também foi um dos organizadores de um concerto em 1990, pelo décimo aniversário da morte de John Lennon, em um parque no centro de Havana, quando ainda havia censura. Como o famoso bar, hoje funcionam ao menos outros cinco na ilha, todos estatais. Inclusive um deles, o de Holguín (leste), foi iniciativa de Miguel Díaz-Canel, 56, dirigente do Partido Comunista e possível sucessor de Raúl Castro.

A 50 metros do Submarino Amarelo, há uma estátua de John Lennon, inaugurada em 2000 por Fidel Castro. Foi um ministro cabeludo, Abel Prieto, 66, que promoveu essa reconciliação histórica da Revolução com os Beatles. Castro, morto em novembro passado, se dirigiu a Lennon e disse que não tinha culpa da censura às músicas em inglês, o idioma do inimigo norte-americano, pois na época estava concentrado nas tarefas do governo. Desde então, o Lennon de bronze, do escultor José Villa, se transformou espontaneamente em um lugar de peregrinação de cubanos e turistas estrangeiros.

Mesmo tendo aparecido tarde, a música dos Beatles conquista os jovens. Escobar e outros músicos cubanos se encarregam de propagá-la, assim como os meios de comunicação. “Os Beatles chegaram para ficar, e eu os divulgarei para todos os que puder”, afirmou Escobar.

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