Artes visuais

Bienal de Arte Digital celebra os dez anos de Festival de Arte Digital

A bienal dá liberdade para o festival e tira dele a responsabilidade de aprofundar em certas discussões”, diz o idealizador

Qui, 22/02/18 - 03h00
O norte-americano Joe Davis ao lado da obra que doou à bienal | Foto: Cristina Lacerda/divulgação

RIO DE JANEIRO. A Bienal de Arte Digital nasce após o Festival de Arte Digital (FAD) completar 10 anos, em 2017. Tadeus Mucelli, curador e um dos idealizadores dos dois eventos, comenta que a iniciativa mais recente, além de celebrar essa história, figura como um desdobramento natural desse percurso.

“Nós achamos que casava muito bem comemorar os dez anos de atuação do FAD dessa forma. As discussões, durante o festival, estavam ficando tão profundas do ponto de vista do que queríamos propor que a gente pensou assim: se a gente quiser continuar sendo apenas um festival talvez ele perderia uma característica comum desse formato que é ser mais efêmero. Geralmente, a curadoria busca qual artista trabalha algo de forma disruptiva e expõe a sua obra. Esse é, geralmente, o olhar dos festivais de arte eletrônica. Mas nós queríamos fazer algo mais acabado e que pudesse dar conta de um tempo mais dilatado também”, afirma ele.

A ideia, de acordo com Mucelli, é manter os dois projetos, e, portanto, a bienal não deverá substituir a programação do FAD, mas deverá permitir que ele possa tornar-se mais versátil de agora em diante. “Nós vamos poder estar em um ano trabalhando só com performances ou, em outro, só com intervenções, de repente. A bienal dá liberdade para o festival e tira dele a responsabilidade de aprofundar em certas discussões”, completa o idealizador.

Nesta primeira edição da bienal, por exemplo, houve dois dias reservados para a realização de um simpósio que contemplou discussões e algumas performances. “Quando a gente se propõe a fazer uma bienal, primeiro a gente está interessado em oferecer uma interface de mediação com a sociedade sobre processos que, talvez, pela própria rotina do dia a dia, as pessoas não consigam perceber. E o lugar para produzirmos algumas reflexões capazes de levar as pessoas a outros campos de pensamento é justamente esse”, pontua Mucelli.

Tais encontros também permitem que o atual panorama da arte digital seja melhor debatido. Mucelli, inclusive, observa que, de 2007 para cá, muitos novos profissionais passaram a fazer parte desse circuito.

“Outras pessoas, que são de fora do campo artístico, começaram a produzir arte e a se interessar por esse meio. Você tem, às vezes, engenheiro que chama um artista para fazer algum trabalho, e vice-versa. E, nesse cenário, houve um crescimento substancial de brasileiros que produzem arte com algum tipo de tecnologia, seja ela alta ou baixa”, afirma o idealizador.

Participação. Um dos convidados da bienal que integrou o simpósio foi o artista norte-americano Joe Davis. Seus trabalhos baseiam-se em pesquisas ancoradas em vasto conhecimento científico e revelam as potencialidades dessas conexões entre arte e ciência.

Ao comentar sobre o próprio ofício, Davis pondera que não se vê como um cientista, mas como alguém capaz de transitar entre dois mundos. “Eu acho que a unificação do conhecimento é algo que faz parte do nosso destino, e os artistas não deveriam ter medo de aritmética. Há conexões históricas e profundas entre a arte e a matemática, mas parece que todo mundo esqueceu disso”, alerta Davis. 

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