“Nossa Parceria”

Bossa no berimbau, samba na guitarra Primeiro CD de Davi e Moraes Moreira conta com Carlinhos Brown e Pedro Baby “Nossa Parceria” 

Seg, 27/04/15 - 03h00
Parceria. Davi Moraes e Moraes Moreira também assinam a produção do disco com Chico Neves | Foto: festival quebra mar/divulgação

Pode parecer improvável, mas “ouvir no berimbau o balanço da bossa nova” é das delícias mais recentes da música popular brasileira, um conceito que figura como carta de apresentação de “Nossa Parceria” (Deck Disc), álbum de inéditas composto por Moraes Moreira e o filho, Davi Moraes. Juntos há anos no palco, pai e filho unem em seu primeiro disco juntos morenas dengosas, cavaquinhos afiados em conversação com guitarras baianas, fazendo do samba, o gênero mais genuíno do Brasil, uma novidade despretensiosa.

Aguardado há muito pelo público, “Nossa Parceria” é matutado há tempos por Davi e Moraes. Após terminarem a turnê de 40 anos do emblemático “Acabou Chorare” – álbum ícone dos Novos Baianos, lançado em 1972 –, os dois decidiram compor pela primeira vez em parceria, graças a um patrocínio da Petrobras para o primeiro projeto conjunto de pai e filho.

A tônica do disco inteiro é o samba. E é a partir do chacoalhar de caixinhas de fósforo que Davi e Moraes inserem suas particularidades que vão do frevo ao choro em seis canções inéditas e outras quatro regravações, todas registradas entre o Estúdio 104, sob a produção de Chico Neves, e o Mavilha8, com coprodução de Berna Ceppas e Daniel Carvalho.

Multi-instrumentista, Davi Moraes mostra sua versatilidade no cavaquinho, bandolim, guitarra, banjo e percussão, além de colocar à prova seus versos autênticos. “Centro da Saudade”, escrita ao lado de Carlinhos Brown e Pedro Baby, apresenta uma bossa nova com letra mastigada calmamente por Davi, em versos espertos e malandros (“tome camomila / pó de guaraná / vai lhe botar pilha / venha se deitar / amanha é dia de não trabalhar / venha pra caminha / que eu vou lhe dengar”. Única canção composta a quatro mãos por Davi e Moraes, “Nossa Parceria” coloca a guitarrada baiana para ferver com solos de metais e bateria e tumbadoras marcantes de Cesinha.

Na linha instrumental, pai e filho apresentam duas canções novas. “Seu Chico”, choro com steel drum (tambor de aço) inovador de Marcelo Lobato, e “Chorinho Pra Noé”, interpretada apenas no bandolim de Davi Moraes e no violão de Moraes Moreira. Nas regravações, “Bahia Oi Bahia”, de Vicente Paiva e Augusto Mesquita, brilha sem precisar se subverter: a ordem de cavaquinho, violão e tamborim impera sobre a voz forte de Moraes Moreira.

Sem recorrer a inventividades ou elementos contemporâneos de uma música brasileira cada vez mais sem rótulos, Davi e Moraes transformam o samba em um patrimônio referência para qualquer instrumento. Exemplo maior é “Bossa e Capoeira”, faixa de abertura do compositor Batatinha, que repagina o samba com guitarras e percussões leves – com alguma influência daquelas notas rápidas de Pepeu Gomes.

Em todo o álbum, Moraes e Davi ampliam a bossa nova de João Gilberto e o samba carioca da Lapa ao jeito baiano de ser: com pegada de frevo, feeling de Carnaval e gosto de dendê, como diz a letra de “Quando Acaba o Carnaval”, assinada por pai e filho (“pegue a minha mão e vem / atrás do caminhão / segue a direção do som/ olha pra quem diz no pé / em meio à multidão / é bom andar com fé”.

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