“Life”

Capturando a alma de um mito 

Longa é história real do ensaio fotográfico de James Dean para a icônica revista

Qui, 21/07/16 - 03h00
Flerte. Longa acompanha realização de ensaio que mudaria a vida dos dois envolvidos | Foto: Paris / divulgação

No fim de 1954, James Dean aguardava a estreia de “Vidas Amargas”, primeiro dos três longas que fariam dele um dos maiores astros da história de Hollywood, antes de sua morte precoce em 1956. Pressentindo esse potencial, o fotógrafo Dennis Stock vendeu para a revista “Life” a pauta de um ensaio fotográfico com o ator.

Por meses, ele perseguiu Dean, buscando o astro, o glamour, Hollywood. Mas o que o ator estava disposto a lhe oferecer era vida, a verdade: a matéria-prima com que ele, Marlon Brando, Montgomery Clift e sua geração revolucionariam a interpretação no cinema norte-americano.

Essa é a premissa de “Life – Um Retrato de James Dean”, que estreia hoje. No longa do diretor Anton Corbijn (“O Homem Mais Procurado”), Dane DeHaan vive Dean, e Robert Pattinson é Stock, dois homens dançando um jogo de sedução e poder, atração e repulsa, fascinação e medo em torno um do outro.

Dean passa todo o filme fugindo das tentativas do estúdio, e de Jack Warner (Ben Kingsley), de transformá-lo em um produto, pasteurizado e pronto para venda em massa. E Stock não deixa de ser uma ferramenta nesse processo de industrialização. Mas o ator sente um misto de atração e compaixão por esse desejo obstinado do fotógrafo por fama e reconhecimento.

Então, ele decide ensiná-lo a ser um artista. A parar de buscar a fantasia, aprender a olhar para a realidade e transformá-la em arte, o mesmo que ele fez com Hollywood. Isso fica claro na foto tirada num dia chuvoso na Broadway, que o fotógrafo considera um fracasso e viria a se tornar uma das imagens mais icônicas de Dean.

O ator temia a fama porque sua vida era sua arte, intocável – se ele a perdesse, perderia sua identidade, o que o tornava único. Stock não entendia como alguém podia ter tudo na mão, tão fácil, e não querer tirar proveito. É a história de um artista medíocre descobrindo e ressentindo a magistralidade de um gênio, que lembra “Amadeus” e o recente “O Fim da Turnê”. No final, “Life” apresenta dois artistas prestes a explodir, um finalmente livre, outro preso, com grades na janela e no quadro atrás dele.

Esses enquadramentos precisamente encenados por Corbijn (ele mesmo um ex-fotógrafo) para encontrar na banalidade cotidiana significados maiores são a grande contribuição do cineasta à história. No entanto, sua realização parcimoniosa – a mesma de “Control” e seus outros longas – conferem ao filme, quase desprovido de trama e grandes eventos, um ritmo lento, como uma água no fogo que se recusa a ebulir. Se isso respeita o olhar observador de Dean sobre a realidade, acaba fazendo, ironicamente, com que “Life” se torne mais uma obra de interesse cinéfilo do que um produto para o grande público.

O longa também perde a chance de explorar a bissexualidade de Dean, com o flerte latente entre os dois protagonistas nas primeiras cenas desaparecendo lentamente com o passar da história. Ainda assim, DeHaan é o grande destaque do filme, encontrando esse equilíbrio entre o lado B do mito, que, mesmo na intimidade, não perde aquele brilho magnético, sedutor e intimidante do grande astro.

Pattinson não tem o mesmo talento, mas funciona bem como a contraposição disso: um homem que parece constantemente inseguro, insatisfeito e desconfortável em sua pele e sua vida. Ele deseja outra, com arte e fama. Dean o ensina a encontrar isso na sua própria.

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