Alceu Valença

Classe erudita ao lado de fantasias populares 

“Valencianas”, gravado com a Orquestra de Ouro Preto, homenageia cantor nordestino

Seg, 25/08/14 - 03h00
Classe. De terno e acompanhado de partituras clássicas, Alceu Valença interpreta seu repertório popular | Foto: BIANCA AUN/DIVULGAÇÃO

Filho do sertão pernambucano e rodeado pelo regionalismo do maracatu, coco e repente de viola desde criança, Alceu Valença, 68, fez da sua poesia assunto unânime e popular em mais de 40 anos de carreira. Envolto por apresentações enérgicas e uma estética exótica, o compositor nordestino resolveu deixar um pouco de lado as fantasias folclóricas no disco-homenagem “Valencianas - Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto” (Deck Disc), que chega às lojas nesta semana. Gravado com arranjos orquestrados impecáveis, o álbum percorre boa parte da carreira de Alceu Valença com tom erudito, mas preservando a essência popular das harmonias do mestre nordestino.

O show se afirmou como sucesso de público ainda em 2012, quando cerca de 2 mil pessoas lotaram o Palácio das Artes para assistir a estreia do espetáculo – que só agora ganha registro em disco e DVD.

Em 15 canções, o cantor pernambucano revive um pedaço singular da carreira, sendo que a maior parte do repertório do disco foi composto durante as décadas de 1990 e 1980, esta última, data em que Alceu Valença despontou definitivamente com o disco “Coração Bobo” (Ariola).

A produção dos arranjos de “Valencianas” ficou por conta do violinista pernambucano Mateus Freire, autor da “Abertura Valenciana”, tema instrumental de 13 minutos calcado no baião, no frevo e no maracatu, como um passeio pelas influências mais fortes da história de Alceu Valença – inclusive Luiz Gonzaga, que tem trecho de “Asa Branca” mesclado na canção.

Os demais temas, apesar de terem o peso de uma orquestra formada por 35 músicos no palco, se mantêm com uma roupagem acessível, sem firulas ou excessos em boa parte dos arranjos já complexos de Alceu Valença. Dessa forma, o maestro Rodrigo Toffolo tem méritos por introduzir com vigor e sutileza principalmente a marcação de cordas, como violinos e violoncelos, que, mesmo trazendo o tom erudito às canções, parecem fantasiar a obra de Alceu Valença com melodias oníricas – do jeito que ele sempre fez.

Assim, “La Belle de Jour” (1992) e “Girassol” (1987) se renovam aliando uma guitarra desleixada junto a solos de violão e violino. De outra forma, a clássica “Ladeiras” (1994) – que tem um dos arranjos mais ousados e dispersos do disco – ganha cadência bossa-nova encorpada pelas cordas da orquestra, enquanto “Sete Desejos” (1992) se aproxima de uma pegada jazzística forte.

Talvez a prova mais expressiva de que o erudito se encaixa muito bem nos arranjos regionais de Alceu Valença seja o desfecho com a explosiva “Anunciação”. Mesmo marcada por uma linha de baixo e bateria originais, as cordas da Orquestra Ouro Preto parecem reforçar o imaginário que Alceu Valença cria em suas canções, quando um violino clássico sola pontualmente o “ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah” final e contagiante da canção mais popular de Alceu Valença.



Detalhes

Disco. O álbum “Valencianas - Alceu Valença e Orquestra de Ouro Preto” tem previsão de chegar às lojas de todo o Brasil a partir de amanhã, pelo preço sugerido de R$ 25,90.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.