Mangá

Clássico de Tezuka chega ao Brasil

“Ayako” conta uma história sobre o pós-guerra no Japão

Sex, 16/03/18 - 23h50
Conhecido como o “pai do mangá”, Osamu Tezuka criou obras como “Astro Boy” e “Kimba” | Foto: IMDB/reprodução

SÃO PAULO. Chega ao Brasil com status de clássico o mangá “Ayako”, de Osamu Tezuka (1928-1989), quadrinista japonês conhecido por dar forma, traços e estilo ao mangá. Publicado originalmente na revista “Big Comic”, entre 1972 e 1973, o livro conta uma história do pós-guerra no Japão, repleta de conspirações, traições, corrupção do governo, movimentação da máfia e execuções com motivação política.

Autor de mangás clássicos destinados ao público infantojuvenil (shounen e shoujo, na denominação japonesa), como “Astro Boy” e “A Princesa e o Cavaleiro”, e famoso mundo afora pelos animes (desenhos animados japoneses, cuja pronúncia é animê), Tezuka também dedicou boa parte da carreira a quadrinhos adultos. Temas tão diversos como Buda, Adolf Hitler e o pós-guerra no seu país natal receberam atenção do quadrinista.

Essa é a primeira vez que “Ayako” é publicado no Brasil. A edição especial tem 720 páginas e é a primeira do Ocidente na ordem original, com os dois finais imaginados por Tezuka e em volume único. No livro, a família Tenge vive na região de Tohoku, ao norte do Japão, quando Ichiro retorna da guerra, em 1949. Ele passa a ser visto com desonra pela família e em seu vilarejo, por ter sido prisioneiro de guerra. Envolvido em esquemas políticos escusos, ele recebe a missão de assassinar um líder político da esquerda local, tarefa que vai acabar influenciando diretamente o futuro de toda a família.

A personagem do título é, a essa altura, apenas uma garotinha no meio de uma família que o leitor descobre, a cada página, estar muito perturbada. Abusos, violência e crimes acabam condenando a menina a uma reclusão que, por sua vez, também definirá o futuro do clã. O mangá se desdobra até os anos 70, explorando nuances políticas, ramificações criminosas e temas tão diversos e sensíveis como choque de gerações, corrupção policial, violência contra a mulher e até incesto.

Especialista reconhecido no mundo dos quadrinhos, o jornalista britânico Paul Gravett recentemente definiu “Ayako” como o mangá asiático número 1 para “expandir seus horizontes”. Entre outros apelidos, Tezuka era chamado de Deus-Mangá. O editor da Veneta, Rogério de Campos, explica que nos anos 60 houve uma onda de obscurantismo e tentativas de censura que ameaçavam tomar o quadrinho japonês. “Esse material é especialmente interessante porque significou um movimento de resistência. O Tezuka rompe com a imagem de ‘Walt Disney japonês’ para mostrar que os quadrinhos podiam tratar de coisas adultas”.

“Ele (Tezuka) foi visionário e considerava o mangá como um ideograma facilmente entendível para qualquer língua”, diz a professora Sonia Bibe Luyten, pesquisadora pioneira do mangá no Brasil e autora de “Mangá: O Poder dos Quadrinhos Japoneses”, já na terceira edição.

Mônica Mangá. A Turma da Mônica Jovem, fenômeno mais recente da Maurício de Sousa Produções (uma edição chegou a vender 500 mil exemplares), tem inspirações claras no mangá.

FOTO: Toei Animation/divulgação
“Cavaleiros do Zodíaco” e “Dragon Ball” (foto): sucesso no Brasil

Mercado de mangá aumenta e se diversifica no Brasil

Segundo a Total Publicações, maior distribuidora de revistas do Brasil, o segmento “geek”, no qual o mangá está incluído, se mantém estável enquanto outras áreas estão em queda. Em 2017, foram mil títulos de 12 editoras diferentes e 9 milhões de exemplares distribuídos apenas em bancas.

O boom do mangá no Brasil começou no início dos anos 2000, com títulos como “Dragonball”, “Cavaleiros do Zodíaco” (Editora Conrad) e “Sakura Card Captors” e “Samurai X” (JBC). Desde aquela época, o mercado só se consolidou, segundo o gerente de conteúdo da Editora JBC, Cassius Medauar. “Mas, óbvio, ele sofre o mesmo que todos os mercados de leitores do Brasil: não há aumentos muito grandes”, diz.

Para ele, nos últimos cinco anos, com a entrada maior do mangá em livrarias, ocorreu uma diversificação nos temas e subgêneros, porque as editoras conseguem investir com riscos e tiragens menores. “O mercado também está maduro, já são quase 20 anos de mangás no Brasil. O público pede mais variedade, e há também a evolução tecnológica: pessoas passam a ter acesso ao que existe no mundo dos mangás e a querer ler esses novos títulos”, afirma.

Assim como já ocorreu com os quadrinhos ocidentais, “Ayako” chega para provar que mangá, também, é coisa de adulto. Com 720 páginas, “Ayako” sai a R$ 129,90.

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