Godarc

Cultura em todos os lugares

Estúdio de tatuagem oferece à região da Pampulha um espaço multicultural que se abre a mostras de artes visuais

Dom, 22/04/18 - 03h00

Empatia, sustentabilidade, colaboração, cultura e arte são palavras caras à tatuadora e estudante de desenho Camilla Campos, 33. Em 2017, ela adquiriu um antigo depósito de pneus no bairro Santa Amélia, região da Pampulha, com o objetivo de fazer daquele espaço um lugar que concentrasse essas ações.

Foi assim que nasceu a Godarc, um estúdio reúne seis tatuadoras residentes, mas que vai além das tattoos: abriga mensalmente exposições artísticas que privilegiam a produção local e independente, com ênfase na arte feita por mulheres, sob o viés colaborativo.

“Queria um espaço que pensasse e incentivasse a arte e a cultura. Por isso, além de tatuagem, a Godarc tem promovido exposições de jovens artistas do cenário local, além de possuir um espaço de moda rotativo com confecções locais. Sempre promovemos palestras que ampliem a criatividade e esclareçam as pessoas sobre as questões do mundo e do que se enquadra na proposta da Godarc”, explica Camilla.

A ideia de criar um espaço multicultural fora do circuito Centro-Sul da cidade veio da percepção de que havia essa lacuna na região da Pampulha. “As pessoas daqui precisavam sair caso quisessem frequentar um espaço mais alternativo”, explica Camila, acrescentando que, apesar de o público da região ser conservador, a aceitação e a procura pela Godarc tem sido surpreendente. “Eu vejo uma curiosidade nas pessoas. E não de estranhamento e negação, mas vejo que elas querem conhecer, aprender e consumir arte. Tem sido muito bom”, garante a tatuadora.

Galeria. Na loja, com decoração industrial e toques retrô, há uma galeria de arte. As exposições acontecem mensalmente, sempre com algum tema definido e normalmente coincidindo com a temática de alguma ação de tatuagem que ela e as tatuadoras residentes realizam naquele mês.

“A gente abre espaço sempre para exposições mensais, e sempre favorecendo mulheres e artistas locais”, explica.

Mas ela ressalva que isso não é um pré-requisito, e que homens e artistas de fora da cidade também são bem-vindos, com apenas uma premissa: que sejam pessoas que respeitem os princípios do espaço. “Nós temos nossas bandeiras: a causa animal, a ecologia, e também não aceitamos nenhum tipo de preconceito e segregação. Nossa ideia é, sim, democratizar a arte”, ressalta.

Neste mês, a Godarc abriga a exposição “Memória do Corpo”, que reúne trabalhos de cinco artistas plásticos da nova geração de Belo Horizonte – Jade Marra, Jeannie Helleny, Sílvia Helena, Lucas Ero e Mateus Moreira – cujas criações exploram as relações dos corpos com o mundo e o cotidiano.

Para o próximo mês, o espaço multicultural irá homenagear o universo nerd. No dia 4 de maio, haverá uma evento em que todas as tatuadoras residentes irão trabalhar em cima de temas ligados a isso, além da abertura de nova exposição, que será de quadrinistas mulheres da cidade.

“Nossa ideia é sempre seguir uma temática. Normalmente ela vem de algum data importante naquele mês, como o Dia da Consciência Negra (em novembro) e da Mulher (em março)”, justifica.

Olhando para o atual cenário artístico da cidade, Camilla acredita que esteja mesmo no caminho certo. Ela é a favor de espaços que cada vez mais tornem a arte acessível para as pessoas.

“O festival Cura!, por exemplo, que trouxe os painéis urbanos no centro. São iniciativas maravilhosas. A arte precisa ser contemplada por todos e não por apenas um público fechado e restrito em galerias”, diz.

“Na Godarc, nós temos esse cuidado. Queremos que as pessoas venham até nós. Não precisa consumir, não precisa tatuar. Pode vir e ver a arte que está exposta. Temos isso como princípio”, afirma Camilla.

 

Olhares sobre o corpo em evidência

Olhares sobre o corpo no mundo contemporâneo. Esse é o tema da exposição coletiva em cartaz atualmente na a Godarc. Em “Memória do Corpo”, cinco artistas da nova geração das artes plásticas de Belo Horizonte – Lucas Ero, Jade Marra, Jeannie Helleny, Mateus Moreira e Silvia Helena – foram convidados para expor, durante todo o mês de abril (até 2 de maio), obras que estivessem alinhadas à temática proposta. 

Cada um dos artistas da exposição tem uma forma muito própria de retratar essas reações estabelecidas entre os corpos e a sociedade contemporânea. Jade Marra, uma das participantes da mostra, levou para a Godarc obras de sua série “Carne”. “Trabalho a possibilidade de subversão do entendimento socialmente construído a respeito do corpo feminino. Exploro a potência e a autonomia desse corpo ao reconhecer sua capacidade de agência para além do papel secundário a ele frequentemente atribuído”, explica a artista plástica.

Para ela, iniciativas como a Godarc favorecem bastante a produção artística da cidade e precisam ser sempre incentivados. “Achei importante e muito louvável um espaço como a Godarc. A cidade é muito grande e rica culturalmente. É preciso pensar arte em outras regionais”, salienta. 

Além disso, ela explica que a Godarc completa um movimento que observa dentro da cidade. Para ela, o cenário, a duras penas, vem apresentando alternativas louváveis, que democratizam a arte em BH. “A cidade está muito efervescente culturalmente. As pessoas estão pensando além do óbvio, levando a arte para a fora da galeria. Mostrar que arte e cultura não são inacessíveis”, ressalta.

Serviço

Localização. O espaço fica na av. Guarapari, 89, Santa Amélia. Funciona segs., ter., qua. e dom., das 10h às 18h, e de qui. a sáb., das 10h às 21h

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