Fotografia

Da fuga à realização pessoal

Mineiro de Araxá, Cyro Almeida fez registra do dia a dia dos moradores de bairros violentos de Belém, no Pará

Qua, 22/02/17 - 03h00

Quando Cyro Almeida começou a fotografar a cidade de Belém, no Pará, ele escutou de Luiz Braga, um de seus maiores influenciadores na fotografia, a recomendação para que as pessoas parassem de fotografar a cidade por causa do perigo que correria quem se submetesse a um trabalho assim. “Alguém como ele, considerado o maior fotógrafo do Norte do país, apenas reforçava a violência ao dar declarações como essas”, lembra Almeida.

Incomodado com a observação, o mineiro de Araxá teve a ideia de registrar exatamente os locais desaprovados por Braga e concebeu o projeto “Pequena Rota do Insuspeitável”. Após percorrer os bairros São Brás, Guamá, Condor, Jurunas e Cidade Velha, ele apresenta o resultado hoje, em Belém, e em março, no Festival de Fotografia de Tiradentes.

Em vez de fazer uma exposição com seu material, Almeida optou por imprimir num jornal as imagens que registrou durante os meses de janeiro e fevereiro. Assim, poderá levar o registro das pessoas fotografadas até onde elas residem ou trabalham. Para o projeto, ele percorreu as zonas consideradas perigosas, retratando não a violência local, que já ocupa em demasia as páginas dos jornais, mas o dia a dia de homens e mulheres que têm suas vidas marcadas pela marginalização da sociedade, mas que, ainda assim, encontram alegria na simplicidade e na labuta diária.

O projeto teve financiamento de R$ 40 mil pelo XV Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, cuja curadoria reconheceu a necessidade de registrar a paisagem urbana de Belém. “No edital, enviei recortes de jornal em que associava o nome do Luiz à violência. Coloquei o dedo na ferida”, pondera.

História. Além do incômodo com o comentário de Luiz Braga, o projeto nasceu, também, de uma crise pessoal. Cyro começou a trabalhar com fotografia como uma válvula de escape. Em 2009, após concluir cinco anos de psicologia na UFMG, ele jurava que passaria o resto de sua vida no meio acadêmico, mas se sentia paralisado para dar o próximo passo e precisava de uma válvula de escape. A fotografia surgiu como uma sugestão de um professor. Ele gostou tanto da arte que decidiu se especializar em documentários fotográficos.

“Vim à cidade em 2009, um pouco antes da minha crise acadêmica, para a casa de um amigo, com a possibilidade de fazer um mestrado por aqui (Belém). Não sou uma pessoa religiosa nem espiritual, mas quando cheguei senti uma saudade de um lugar em que eu nunca estive antes, foi uma conexão mágica”, relembra o artista.

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