Mostra

Dança, como dança um black 

Movimento Soul BH transforma a cidade num templo da black music neste domingo (28) e no próximo sábado, no Parque Municipal

Dom, 28/08/16 - 03h00
No groove. Criador do Movimento Soul BH, DJ Walter. dança na praça Sete | Foto: SISTEMA

Se você circula pelo centro da cidade, provavelmente já se deparou com animados dançarinos – ostentando cabelos black, ternos e sapatos bicolores –, se divertindo ao som de James Brown. Tradicionais em Belo Horizonte, os grupos de black music resistem desde os anos 70, ocupando o espaço público e fomentando uma cultura negra e periférica que raramente encontra espaço em casas de shows. Prova disso são pioneiros como Black Soul, Quarteirão do Soul e o Baile da Saudade.

Mas, para além dos “dinossauros do soul”, a cidade mostra que há espaço para novos reforços: como o Movimento Soul BH, que surgiu em 2008 promovendo eventos de dança e discotecagem em locais como a praça Sete, o Viaduto Santa Tereza e a Feira Hippie. Outro ponto cativo é o Parque Municipal, onde a equipe realiza, no próximo sábado, a “Mostra BH”. O evento terá uma programação com mais de 10 horas de discotecagens e apresentações de bandas e grupos de dança.

Idealizador do Movimento Soul BH, o DJ Walter Soul conta que a equipe surgiu da vontade de perpetuar a cultura black na capital mineira. “Há 10 anos atrás, começaram a resgatar o funk tradicional em BH e passamos a fazer eventos de rua para dançar e reviver a época de ouro dos anos 70”, conta. “Sempre fizemos tudo do nosso bolso. É um movimento que não tem posição empresarial ou governamental. Fazemos porque amamos”, completa, lembrando que a mostra é o primeiro projeto aprovado pela equipe na Lei Municipal de Incentivo a Cultura.

DJ Walter Soul afirma que conheceu a cultura black nos anos 70, quando adolescente. “Eu tinha uns 14 anos quando comecei a curtir black music. O interessante eram as vestimentas, as danças e a música de James Brown, Aretha Franklin, Gerson King Combo e Tony Tornado”, relembra. “Era uma cultura bem difundida. Todo bairro tinha seus bailes, as músicas tocavam no radio. Mas tinha um preconceito social e político muito grande. A polícia sempre chegava e as pessoas não sabiam sobre seus direitos”, relembra.

Segundo o criador do Movimento Soul BH, ao passo em que a relação com a polícia melhorou com os anos, o preconceito social, infelizmente, persistiu. “O preconceito social ainda existe, por ser uma cultura negra, de periferia e de dança. Não é comercial, para vender ou para atender um determinado público. É de rua e para todos”, assinala.

Para Walter Soul, além de resgatar a black music, a intenção do movimento sempre foi promover a interação social no espaço público. “Naquele momento em que a periferia está na rua, os moradores de rua se integram ao movimento, se sentem parte daquilo. É mendigo dançando com médico, é criança, jovem, idoso tudo misturado”, diz, lembrando a importância da dança. “O ritmo é a liberdade de expressão. Ninguém nunca dança igual ao outro, a não ser nos momentos em que a galera se reúne para interagir e ensinar os passinhos antigos. Mas não precisa saber dançar para estar ali. É só sentir a música e deixar ela te levar”, defende o DJ, que também é dançarino.

Para celebrar a cultura black, a “Mostra BH” contará com nomes das antigas e outros mais jovens, como o da DJ Black Josie. “Os eventos de rua ainda são pouco estruturados, então é super importante uma mostra como essa, que atinge um patamar mais profissional. É uma conquista que coloca o soul num novo lugar em BH”, defende a DJ, que prepara um set com brasilidades, homenagens às mulheres da black music e, claro, muito James Brown. “Se faltar eles me matam!”, brinca.

Outro convidado, o rapper Roger Deff, lembra a pungência da cultura black em BH. “É uma cultura que contribui muito para a construção da autoestima do jovem negro, inclusive ajudando a suscitar discussões sobre o racismo e a exclusão”, pontua. “BH é considerada um dos principais polos do movimento black no Brasil. Os encontros que acontecem todo domingo na praça Sete (promovidos pelo Movimento Soul BH) são um bom exemplo disso. A coisa está muito viva e ativa, não é só recordação”, finaliza.

Agenda

“Movimento Soul – Mostra BH”

Sábado, dia 3 de setembro, a partir das 12h30

Parque Municipal, em frente ao Teatro Francisco Nunes (avenida Afonso Pena, 1.377, centro)

Entrada franca

Além da mostra, o Movimento Soul BH faz eventos semanais, sempre aos domingos, no mesmo local, das 9h30 às 13h30

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