Literatura

Diálogos via publicações 

Caixa “Revistas do Modernismo 1922-1929”, que será lançada hoje, permite identificar conexões entre autores

Ter, 18/08/15 - 03h00
Experiência. Carlos Drummond de Andrade se tornou conhecido como um importante poeta modernista pela circulação nessas revistas | Foto: Rogério Reis / Tyba

Pedro Puntoni, um dos curadores da caixa “Revistas do Modernismo 1922-1929”, que reúne seis importantes obras, frisa a relevância delas para a criação de um espaço que permitiu florescer o pensamento modernista. Foram elas as publicações “A Revista”, “Estética”, “Klaxon”, “Verde”, “Revista de Antropofagia” e “Terra Roxa e Outras Terras”, que serão lançadas em conjunto hoje durante um encontro com os autores Eucanaã Ferraz, Ivan Marques e Eduardo Jardim, convidados para um bate-papo com o público, no teatro de bolso do Sesc Palladium.

“De um lado, essas revistas serviram como um laboratório de ideias e de publicação dos primeiros escritos de diversos autores. Por outro lado, elas contribuíram para a construção de um debate crítico. Elas, portanto, têm um caráter coletivo e possibilitaram encontros e a formação de um espaço de discussão, que foi fundamental para diversos escritores brasileiros”, observa Puntoni, que reuniu esse material junto com o professor Samuel Titan Jr.

Eucanaã Ferraz observa, por exemplo, que antes mesmo de Carlos Drummond de Andrade publicar o seu primeiro livro, “Alguma Poesia” (1930), ele já era conhecida como poeta modernista em razão de sua atividade em vários daqueles periódicos.

“Muita gente acha que Drummond só existe depois da década de 30, mas ele foi muito ativo nos anos 20 em jornais e revistas. Ele, inclusive, foi considerado um grande poeta brasileiro antes mesmo de publicar livros. Isso só foi possível porque haviam aqueles espaços de divulgação e circulação de ideias permitidas por aquelas revistas”, afirma ele.

Ferraz observa, assim, que elas se estabeleceram, como um ambiente de sociabilidade, de crítica e até mesmo de autocrítica do modernismo. Não raramente, portanto, os escritores colaboravam em publicações diversas, fossem elas de Belo Horizonte, São Paulo ou Rio de Janeiro, evidenciando uma rede de relações. Por esse motivo, Ivan Marques acrescenta que elas apresentavam diversas conexões e convergências entre si.

“De fato, não acho que essas revistas representem grupos particulares ou vertentes que brigavam dentro do modernismo brasileiro. Eu acho até que, de ‘Klaxon’ até a ‘Verde’, se percebe um mesmo grupo de escritores que colaboram nessas revistas. Por exemplo, Mário de Andrade esteve presente em praticamente todas elas, sendo um dos fundadores da ‘Klaxon’. Ele participou também de ‘A Revista’, de Belo Horizonte, e foi um grande animador da ‘Verde’, que era editada em Cataguases. Ele achava que as revistas também teriam um papel importante de interiorização das ideias modernistas. Então, ele fazia questão de apoiar, inclusive financeiramente”, completa Marques.

Em relação a isso, Ferraz afirma que o diálogo constante entre uma turma de autores representava ao mesmo tempo a força e a fragilidade daquele movimento. “Por um lado, nós vemos que são os mesmos autores escrevendo nas revistas mineiras, paulistas ou cariocas. Isso dá uma ideia de que havia um grupo forte, porém esse cenário também evidencia alguns limites desse movimento. Essas revistas não tiveram um alcance muito grande, embora constituíram espaços de grande importância. Atualmente, elas são muito mais uma vitrine do que foram as várias ramificações do modernismo”, diz Ferraz.

“Elas mostram também que o modernismo foi um fenômeno abrangente ao colocar em circulação uma variedade de obras, como poemas e fragmentos de textos de autores que sumiram. É muito importante ter essa visão das grandes obras, mas também das menores para se ter uma visão mais orgânica de um período”, conclui ele.

Agenda

O quê. Lançamento da caixa “Revistas do Modernismo 1922-1929”

Quando. Hoje, às 20h

Onde. Teatro de bolso do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro)

Quanto. Entrada franca


Saiba mais

A caixa com seis revistas foi organizada pela Imprensa Oficial de São Paulo e será vendida no evento pela livraria Quixote por R$ 250.

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