“A Vigilante do Amanhã”

Do mangá japonês para a tela grande

Scarlett Johansson fala de seu personagem no filme, uma policial ciborgue

Qui, 30/03/17 - 03h00

NOVA YORK. A narrativa não é exatamente a mesma. E a metrópole do futuro, tal qual imaginada pelo diretor inglês Rupert Sanders, é um amálgama de Tóquio e Hong Kong povoado por figuras de etnias diversas, encarnadas por um elenco multinacional encabeçado pela nova-iorquina Scarlett Johansson com auxílio da francesa Juliette Binoche.

Mas “A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell”, inspirado na série de mangá escrita e ilustrada por Masamune Shirow a partir de 1989 e na animação dirigida em 1995 por Mamoru Oshii, ambos japoneses, chega aos cinemas nesta quinta-feira (30) com objetivo tão difícil quanto fascinante: tornar-se a primeira história de sucesso na transposição do universo muito próprio dos animes para o cinemão norte-americano.

“As questões existenciais propostas no filme, como a tentativa de traduzir o que define a humanidade, são talvez mais próximas da cultura japonesa. Mas fizemos um filme sobre a experiência de descobrir quem você é. Algo com que todos nós temos de lidar em algum momento”, diz Scarlett.

O papo cabeça não é tentativa de contornar a polêmica gerada pela decisão de se escalar a muy caucasiana Scarlett para um papel associado a uma atriz asiática. Uma petição online com mais de 100 mil assinaturas de fãs do anime original ameaçou iniciar um boicote ao filme caso não se escalasse outra protagonista.

Não deu certo, e a bela mulher de 32 anos, um tico a mais que 1,60 m de altura, duas vezes separada (do ator canadense Ryan Reynolds e do publicitário francês Romain Dauriac, com quem teve sua filha, Rose, de 2 anos e meio), madeixas curtas e aloiradas, reagiu afirmando que a reclamação não fazia sentido, pois o corpo da personagem, criado artificialmente, poderia ter qualquer forma.

“Quis a Scarlett como protagonista porque ela é a melhor atriz de sua geração, sabe ser durona e emotiva. Era o que eu precisava para passar verdade ao dar vida a um ser meio gente, meio máquina”, defende o diretor do filme, rodado em 3D.

Sistema operacional. Sanders sonhava com a mulher que já havia sido uma voz sem corpo, em “Ela”, de Spike Jonze. No filme de 2013, Scarlett deu vida a Samantha, um sistema operacional capaz de despertar uma paixão tórrida no escritor vivido por Joaquin Phoenix.

“Encontrar o tom da atuação é que foi um equilíbrio delicado. Não queria fazê-la como um robô, mas também havia a limitação de viver alguém definido pela ausência de conexão entre corpo e mente. Foi um aprendizado me comunicar sem usar o gestual e me contentar com o estritamente necessário”, conta a atriz.

O anime de Oshii, o primeiro a imaginar uma versão live-action da história, fascina pelas imagens de um mundo dominado pela tecnologia, onde uma mulher transformada em policial ciborgue luta para descobrir quem era antes de se tornar mais máquina do que gente.

Foi Steven Spielberg, fã do diretor japonês, quem convidou Sanders (“Branca de Neve e o Caçador”, de 2012) para comandar “Ghost in the Shell”, com orçamento de mais de US$ 120 milhões. “Tudo o que não queria era fazer mais um filme de ação. Investi em emoção e em tentar fazer as pessoas refletirem sobre um futuro que está mais próximo do que pensamos. Chega de subestimar o público, a plateia é muito mais sofisticada do que Hollywood imagina e quer algo além de efeitos especiais estonteantes”, afirma o diretor. 

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