Artes Cênicas

Eid Ribeiro: um viciado no teatro

Aos 75 anos, Eid Ribeiro segue produzindo e aumenta seu legado na cena teatral de BH com mais uma estreia

Qui, 16/08/18 - 03h00
Antenado. segue espetáculos da cena da atual | Foto: AThos Souza / Divulgação

O diretor e dramaturgo Eid Ribeiro, ao longo de sua carreira de 55 anos, atravessou diversos períodos históricos e artísticos na cidade: o golpe militar de 1964, a ditadura, o processo de redemocratização do Brasil e o advento de mecanismos importantes, como as leis e fundos de incentivo à cultura. Poderíamos chamá-lo de “enciclopédia”, mas, mais do que isso, talvez o que melhor defina o artista – que completou 75 anos em março deste ano – seja “ponte” ou “elo geracional”, já que ele permanece ativo, produzindo e se relacionando intensamente com os novos artistas, que começam sua caminhada no mundo do teatro. “O teatro é o que amo fazer.

Queria fazer teatro e fazer dele minha vida. Eu decidi viver com o mínimo possível. Quanto menos você possui, mais liberdade você tem”, filosofa. 

Mineiro de Caxambu, Ribeiro começou a fazer teatro em 1963, no Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE. “Queríamos fazer um teatro popular que fosse em direção ao trabalhador, nas ruas, nos sindicatos, nas fábricas”, relembra o artista. Depois do golpe militar de 1964, o CPC foi extinto, mas o desejo de continuar fazendo peças direcionadas a plateias mais populares continuou presente. Ribeiro se tornou aluno do Teatro Universitário e, junto com Alcione Araújo, fundou o Grupo Geração. Alguns anos depois, assumiu a função de diretor, na qual estreou com a peça “Fábula da Hora Final”, “um tema beatnik”, segundo ele.

Depois do Geração, o diretor foi morar no Rio de Janeiro e trabalhar como assistente de Amir Haddad, num grupo de teatro amador. “Depois de três anos, falamos: ou todo mundo larga seus empregos para viver de teatro, ou não conseguimos seguir trabalhando. O grupo acabou”, rememora Ribeiro, que na época trabalhava como jornalista.

Após a experiência malsucedida com Haddad, Ribeiro viveu um hiato de sete anos sem fazer teatro. Ele juntou suas coisas e voltou a Belo Horizonte. Depois da pausa, ele nunca mais abandonou os palcos. Seu primeiro trabalho na volta à cidade foi “Risos e Facadas”, e, junto com Ronaldo Brandão e outros artistas, fundou a Companhia Absurda, que segue ativa até hoje. Daí, vieram muitos trabalhos, numa frequência espantosa: são mais de 70, em 55 anos de carreira. “Eu perdi as contas, não me lembro de todos”, diverte-se.

Linguagem. Embora Ribeiro tenha uma longa trajetória e trabalhos diferentes entre si, é possível perceber elementos fundamentais no olhar de encenador. Um deles é sua relação com irlandês Samuel Beckett e obras basilares como “Fim de Jogo” e “Esperando Godot”. “Sou apaixonado, porque também entendo que o ser humano é um ser falido, é algo que não deu certo. Fico olhando o planeta hoje e percebo isso: os grandes conglomerados da poluição, da fome. É como uma premonição, Beckett enxergava longe”, pondera.

Também a capacidade de Tadeusz Kantor de transformar seu teatro de cabaré popular em um espaço para reflexões profundas causa admiração em Ribeiro. Mesmo depois de tantos trabalhos, ele diz não possuir um método definitivo. “O trabalho é na sala de ensaio, em parceria”. 

Fruto de uma época em que diretores tinham a mão “mais pesada” na criação, Ribeiro garante que se relaciona bem com os artistas mais novos. “Gosto de ver as coisas que estão vindo e chegando. Continuo vivo e me mantenho antenado. Agora, tem coisa que eu gosto e outras, não. Tem bom e mau teatro”, diz. 

 

Diversidade de estilos e linguagens

Para o público da cidade, não faltarão oportunidades para ver a potência do teatro pensado, escrito e encenado por Eid Ribeiro, já que, a partir de hoje, é possível apreciar cinco trabalhos distintos. Um deles é a estreia de “O Atormentador”, com Glauce Guima e Diego Roberto, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium. A outra vitrine é a mostra “Armatrux Eid Ribeiro”, que, até o próximo dia 2, apresenta quatro espetáculos, fruto da parceria entre o grupo e o diretor. “O Atormentador” reúne textos de Eduardo Galeano e de Gonçalo Tavares. A trama mescla lendas, fábulas, utopias e distopias. Já a mostra do Armatrux celebra a parceria de dez anos entre eles com as peças “De Banda pra Lua” (2007), “No Pirex” (2009), “Thácht” (2014) e “Nightvodka” (2017), que serão apresentadas em três diferentes espaços.

Serviço
O quê. “O Atormentador”
Quando. De 16 a 26 de agosto. De quinta a sábado, às 20h; domingo, às 19h.
Onde. Teatro de Bolso do Sesc Palladium (av. Augusto de Lima, 420, centro)
Quanto. R$ 15 (inteira) 

Programação completa:

"Nightvodka"

Classificação: 12 anos
16  a 19/8 – Quinta-feira a sábado, às 20h, e domingo, às 19h
Teatro Francisco Nunes (av. Afonso Pena, s/n, centro / Informações: 3277-6325)

"De Banda pra Lua"

Classificação: livre
18  e 19/8 - sábado e domingo, às 11h
Teatro Francisco Nunes (av. Afonso Pena, s/n, centro / Informações: 3277 6325)

"Thácht"

Classificação: 12 anos
23 e 24/8 – quinta e sexta-feira, às 20h
Espaço Aberto Pierrot Lunar (rua Ipiranga, 137, Floresta / Informações: 2514-0440)
25 e 26/8 – sábado, às 20h, e domingo, às 19h
Zap 18 (rua João Donada, 18, Santa Terezinha / Informações: 3475-6131)

"No Pirex"

Classificação: 12 anos
30/8 a 02/9 – quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h
Teatro Marília (av. Professor Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia / Informações: 3277-4697)

Durante a "Armatrux Mostra Eid Ribeiro" será realizado no Teatro Francisco Nunes, na sexta-feira (17/8), das 14h30 às 17h,  um bate-papo sobre dramaturgia a partir do tema "O encontro de gerações na dramaturgia", com mediação de Eid Ribeiro . No local haverá uma vídeo instalação com imagens da trajetória do Armatrux com o diretor. 

Na sexta-feira (24/08), depois do espetáculo "Thácht", no Espaço Aberto Pierrot Lunar, haverá o bate-papo "Limites da criação artística na produção contemporânea" e, em seguida,  show com a banda performática Mascucetas.

Na sexta-feira (31/8), das 14h30 às 17h, o Teatro Marília também recebe um bate-papo, sobre o tema "A edição de arte e cultura: desafios", com a participação de representantes de editoras de livros de cultura e arte. Os eventos contarão com feira de livros e produtos do Armatrux, além de feira de gastronomia.

Serviço
Armatrux  Mostra Eid Ribeiro
Ingressos: R$20 inteira e R$10 meia.
Todos os ingressos estarão a venda na bilheterias dos teatros e no site: www.sympla.com.br 

 

 

 

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.