“Magic Mike XXL”

Eles são mais que corpinhos bonitos 

Sequência troca tanguinhas por sedução e personagens bem desenvolvidos

Qui, 30/07/15 - 03h00
Vestidos. Longa explora personagens e mostra que eles também são sedutores de calça | Foto: Warner

Em certo ponto, uma personagem de “Magic Mike XXL” afirma que “em tempos difíceis, Deus envia homens sarados de tanguinha para aliviar a dor”. E essa é a definição perfeita do filme que estreia hoje. Numa época em que o Congresso é comandado por um séquito de sociopatas, a população apoia o encarceramento de crianças e a separação entre Estado e religião parece cada vez mais frágil, você tem o direito a Channing Tatum e Joe Manganiello rebolando suas virilhas por duas horas em widescreen.

O abdômen dos dois – uma prova de que, se Deus existe, Ele é muito gay – já seria motivo bastante para a existência do longa. Mas “XXL” é também um bom filme. Se a produção anterior era um comentário sobre a crise financeira, com o striptease servindo como resposta à falta de oportunidades, esta continuação mostra a evolução desse cenário, com a recessão econômica e as demissões em massa atingindo o próprio mercado do “entretenimento adulto”.

O líder Dallas parte com Kid para a Europa em uma nova empreitada e deixa Richie (Manganiello), Ken (Matt Bomer), Tarzan (Kevin Nash) e Tito (Adam Rodriguez) desempregados, com uma mão na frente e outra atrás. E com seu negócio demorando a engrenar e um pé na bunda da namorada, Mike (Tatum) decide acompanhá-los em uma viagem para uma “despedida em alto estilo” em uma convenção de strippers.

Porque, como Richie afirma ao ver os colegas planejando o que vão fazer de suas vidas, “se isto é o fim, não quero que minha última memória seja a demissão, mas a alegria e o prazer!”. Ele se refere ao strip, mas podia estar falando do jornalismo ou tantas profissões em vias de extinção.

Essa ideia de que, em tempos de crise, é preciso reencontrar o prazer é o grande tema de “XXL”. O roteiro de Reid Carolin (esposa de Tatum) oferece a cada um dos personagens um momento para se dar conta de que o segredo de seu sucesso não está no quanto a tanguinha deixa à mostra, mas sim no prazer que eles sentem – e oferecem – no palco. Parafraseando, não é o tamanho do abdômen, mas sim o prazer que ele proporciona.

O resultado disso é mais “magic” e bem menos “mike”. As tanguinhas só aparecem no ato final, mas até lá, o longa prova que seus rapazes não precisam tirar a roupa para seduzir a freguesia. O melhor exemplo disso é a performance de Richie em uma loja de conveniência. Na ausência de Matthew McConaughey de legging, ela é a show-stopper de “XXL”: uma espécie de Anne Hathaway em “Os Miseráveis”, sem o sofrimento da prostituta morrendo, com sensualidade e Backstreet Boys.

O grande problema da produção, na verdade, é ritmo. O aposentado Steven Soderbergh, que comandou o original, deixa a direção nas mãos de seu produtor, Gregory Jacobs, e assume aqui “apenas” a fotografia e a montagem. E se ele prova mais uma vez que é um excelente cinegrafista – filmando várias cenas à meia-luz, reforçando a ideia do fim de uma era, ou dando um show de decupagem nas cenas apertadas em um caminhão de sorvete, que constroem por meio da mera utilização do espaço a camaradagem dos personagens – seu trabalho na montagem não é tão bem-sucedido.

Como todo road movie, “XXL” é episódico e acaba se estendendo demais em cenas que enfocam personagens secundários. O clube onde eles vão atrás de uma nova MC, Rome (Jada Pinkett-Smith, competente, mas sem o brilho de McConaughey), é o melhor exemplo. Mas mesmo a parada em uma mansão – uma sequência muito bem escrita e atuada, que sintetiza o tema do longa e em que a sumida Andie MacDowell rouba a cena promovendo um manifesto do direito das mulheres ao prazer, em qualquer idade – parece uma redução de marcha perto da interação dos protagonistas no início do filme.

Os dois casos mostram como as personagens femininas são bem mais desenvolvidas que no longa anterior – e que em 90% dos filmes em cartaz. Mas quem nós queremos enganar: alguém vai ver “XXL” pelo elenco feminino?

 

Veja a programação semanal dos cinemas de Belo Horizonte:

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.