Artes visuais

Em busca da autonomia de voo 

Artista mineiro Eduardo Fonseca apresenta, no BDMG Cultural, obras que dialogam com o conceito de liberdade

Qua, 11/02/15 - 03h00
“Autorretrato da Ocupação” é uma das obras de Fonseca que podem, a partir de amanhã, ser conferidas pelo público no BDMG Cultural | Foto: EduardoFonseca

Até que ponto somos livres, e em que medida a palavra “liberdade” é um apenas um conceito, cuja essência escapa de uma vivência subjugada às regras impostas pela sociedade? Ocupando filósofos e artistas desde o Iluminismo, a questão é também o centro conceitual a partir do qual orbitam as dez telas do mineiro Eduardo Fonseca, presentes na exposição “Para, por Favor” – com abertura hoje, no BDMG Cultural. Utilizando pássaros como metáfora para a condição humana, Fonseca relaciona o voo com a possibilidade de se desvencilhar das amarras que nos impedem de alcançar a total autonomia.

“Somos livres para fazer um monte de coisas, mas temos que seguir regras”, reflete Fonseca. “Até que ponto essa liberdade que a gente conhece como tal significa que somos livres? Se é uma liberdade imposta, não vale de nada no fim das contas”, questiona o artista visual, que já possuía um trabalho baseado em figuras humanas, mas que, ao entrar no universo das aves, começou a naturalmente relacioná-lo a esse dilema.

A questão é trabalhada de várias formas nas obras. Há, por exemplo, uma série de três quadros, que revelam asas “portáteis”, ou seja, com cintas – que podem ser vestidas mentalmente pelo observador. “É uma representação de um sonho, de um momento da vida, que a gente se sentiu livre, uma lembrança de um passado em que você já teve mais liberdade”, diz o artista, comentando a série. Já em outra tela, dois galos se encaram, como se se preparassem para um inevitável confronto. Animais incapazes de voar, eles remetem, na obra, às relações diplomáticas entre dois países, explica Fonseca.

Praticamente todos os dez quadros presentes em “Para, por favor” foram feitos com óleo sobre tela. Além da técnica, o artista se valeu de colagens e da folha de ouro, material cujo significado é, para Fonseca, antagônico, remetendo tanto ao sagrado quanto ao profano.

Ocupação. Foi observando os dois sobrinhos que o artista encontrou o nome para a exposição. “Um ficava incomodando o outro, que ficava pedindo para parar, aí eu fiquei olhando aquilo e pensei: ‘vai encaixar direitinho’”, conta Fonseca. Assim, “Para, por favor” é também um chamado para que o público desperte do torpor e mude de atitude.

Formado em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais, Fonseca, 31, cursou mestrado na Universidade de Lisboa, em Portugal. Lá, vivenciou a crise que assolou o país e o continente europeu – assim como os movimentos sociais que surgiram em reação às agruras econômicas. Em março de 2013, retornou ao Brasil, poucos meses antes da eclosão das manifestações populares. Tendo participado de desdobramentos como a ocupação da Câmara Municipal e dos corredores culturais surgidos na mesma época, na capital mineira, Fonseca acabou naturalmente influenciado pela verve política, mesmo que metaforicamente. “Esse questionamento sobre até que ponto é possível impor regras pra nos amputar é algo que eu senti que aumentou a partir de junho de 2013”, reflete.

Tudo isso não significa que, mesmo atuando como artista, Fonseca esteja além das forças, políticas ou não, que cerceiam a liberdade individual de cada um. Por ter sido contemplado pelo programa Mostras BDMG, o artista tem que se ater tanto à linha proposta quanto aos cronogramas. “Ao mesmo tempo, eu fui inserido num determinado mercado, para o qual eu crio uma demanda. Para mantê-la, tenho que me prender a algumas metas. Mesmo questionando a liberdade, acaba que a gente não consegue sair fora desse jogo”, pondera ele.

Para a exposição, Fonseca também preparou um teaser (bit.ly/1KJyPhs) que traduz, em vídeo, o conceito de “Para, por favor”.

Agenda

O QUÊ. Exposição “Para, por Favor”, com pinturas de Eduardo Fonseca

QUANDO. Abertura hoje, às 19h. Visitas de amanhã a 15 de março, diariamente, das 10h às 18h

ONDE. Galeria de Arte do BDMG cultural (rua Bernardo Guimarães, 1.600, Lourdes)

QUANTO. Entrada franca

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