Música

Encontro de 'chorões' em BH 

4ª edição do Festival Choro Livre começa no sábado (10) com shows e roda de chorinho no Mercado Distrital do Cruzeiro

Qui, 08/10/15 - 03h00
Na roda. Festival promove roda de chorinho no sábado com participações de Cristovão Bastos, Eduardo Neves, Marcelo Jiran e Zé Carlos | Foto: GUSTAVO BAXTER / O TEMPO

O choro sempre “perseguiu” Dudu Nicácio. Quando o músico e produtor cultural morava no Caiçara, estava próximo de dois clássicos pontos de encontro dos chorões de Belo Horizonte: os bares Pedacinho do Céu, no próprio bairro, e o Bar do Bolão, no Padre Eustáquio. À época, nos idos de 2007, tornou-se frequentador assíduo das entusiasmadas rodas de choro de seu entorno. Dudu já promovia o festival de samba Do Morro ao Asfalto, e então, testemunhando o aquecimento da cena do chorinho na capital, teve um insight: por que não fazer um festival na cidade dedicado ao gênero? Assim surgiu o Festival Choro Livre, que promove sua quarta edição a partir de sábado, inundando o Mercado Distrital do Cruzeiro com muito chorinho.

Dudu Nicácio conta que a ideia de fortalecer a cena do choro em BH acompanhou outros dois debates: da ocupação do espaço público e da administração dos mercados municipais. “Era um momento dramático com relação à discussão sobre os mercados populares. Os mercados da Lagoinha e de Santa Tereza estava fechando, e continuam fechados até hoje. O Mercado Novo era um espaço totalmente abandonado. A Feira dos Produtores, no Cidade Nova, era e ainda é um lugar super desconhecido para quem não é da região”, contextualiza. Assim, surgiu a ideia de fazer o festival nos mercados. “O choro tem uma sociabilidade grande, a coisa de sentar para tomar uma cerveja. É uma música propícia para o encontro. E o que pensávamos em termos de locação deu, realmente, muito certo”, relembra.

Depois da edição de 2008, vieram outras duas, em 2011 e em 2012, todas ocupando diversos mercados da cidade. Com o passar dos anos, porém, Dudu conta que a administração municipal passou a dificultar a liberação dos espaços. “A gestão dos mercados foi ficando hostil, seguindo a dureza dessa administração, e começamos a ter problemas. Neste ano, então, resolvemos fazer todo o festival no Mercado Distrital do Cruzeiro, que já vem passando por um processo de reestruturação e tinha mais chance de dar certo”, explica. “É claro que eu prefiro o outro formato, que ocupa vários espaços públicos da cidade. Mas é a burocracia política atrapalhando a cultura. São oito anos de uma relação muito dura, quase uma não relação, com o executivo municipal. Uma hostilidade que provocou mobilizações muito bonitas em BH, mas até que enfim está acabando. Tomara que tenhamos uma sucessão mais amistosa, que dialogue com a cidade”, critica.

Programação. Desde 2008, a grande maioria dos grupos de chorinho mais representativos de Belo Horizonte passou pelo Choro Livre. “Dos grupos de BH, praticamente todos tocaram no festival. Pedacinhos do Céu, Tapa Buraco, Corta Jaca, Piolho de Cobra, Flor de Abacate, Siricotico”, elenca. “Isso sem contar os instrumentistas. Tem muita gente que toca isoladamente e é super importante na história do choro de BH. Por isso, a cada edição fazemos uma roda em homenagem a um chorão da cidade. Já homenageamos Seu Mozart, Ausier, Alaide, Bolão, Tião do Bandolim, Zazá do Pandeiro”, recorda.

Em 2015, o festival se divide em dois dias. Neste sábado, acontecem shows dos grupos mineiros Mico Estrela, Toca de Tatu e Banda de Coreto, além de uma roda com dois célebres músicos cariocas: o pianista Cristóvão Bastos e o saxofonista Eduardo Neves. Participam da roda, também, os músicos mineiros Marcelo Jiran e Zé Carlos – o Zé Chorão de BH, homenageado desta edição. “Zé Carlos é um cara extremamente importante para o choro de BH e passou da hora de ele ser homenageado”, pontua Dudu. “O convite a Cristóvão Bastos veio da ideia de levar o piano ao centro da roda, uma tradição do choro que se perdeu. O Eduardo Neves é um músico incrível, que tem flertado muito com BH”, comenta o produtor, lembrando que ambos os músicos vão ministrar workshops na Casa Una.

O Choro Livre continua no dia 31, com uma roda que contará com Hamilton de Holanda, Marcelo Chiaretti, Juliana Perdigão e Sílvio Carlos, além de shows dos grupos Assanhado, Isto É Nosso e H-Fieira – todos de BH.

Agenda

O quê. Festival Choro Livre – Shows e Roda de Choro

QUANDO. Sábado, a partir das 15h

Onde. Mercado Distrital do Cruzeiro (rua Ouro Fino, 452, Cruzeiro)

WORKSHOP. Amanhã (Cristóvão Bastos) e sábado (Eduardo Neves), às 10h, na Casa Una (rua dos Aimorés, 1451, Lourdes)

Quanto. Entrada franca para todos os eventos.

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