Mostra

Entre a urgência brasileira e o antídoto asiático

Unida à MAX, 11ª CineBH exibe 101 filmes em oito espaços da capital

Ter, 22/08/17 - 03h00
“O Garoto”, de Charles Chaplin, abre hoje as sessões ao ar livre na praça da Estação | Foto: Universo / divulgação

A grande novidade desta 11ª edição da CineBH, que começa nesta terça-feira (22) e vai até dia 27, é que – dado o seu forte caráter de mercado – ela se une em 2017 à Minas Gerais Audiovisual Expo (MAX). Assim, aos 14 encontros e 37 convidados de 13 países do CineMundi, que busca fortalecer a coprodução internacional no cinema brasileiro, juntam-se os 457 projetos, 12 sessões de pitching e mais de 110 convidados da MAX – buscando fazer de Belo Horizonte a capital nacional do audiovisual no mês de agosto. “A expectativa é superar os R$ 290 milhões em negócios e o público de 10 mil pessoas do ano passado”, avalia Fernanda Machado, diretora de fomento à indústria criativa da Codemig.

Para o público em geral, porém, o que isso significa é que a programação cinematográfica dos dois eventos também ganha um reforço significativo. Serão 101 filmes – 41 longas, um média e 59 curtas – de 16 países e seis Estados brasileiros, em oito espaços diferentes da capital.

O destaque é a instalação de uma tela de cinema na praça da Estação, que vai exibir clássicos como “E.T.” e “Blade Runner” e já começa nesta terça-feira (22), com “O Garoto”, de Charles Chaplin, acompanhado de trilha ao vivo pela Orquestra de Câmara do Sesiminas, às 19h. O porém é que o horário coincide com a sessão de abertura, com “Corpo Elétrico”, às 20h – e o público vai ter que fazer a primeira de muitas doloridas escolhas na programação.

“O festival é muito curto, a grade é muito intensa, e a gente faz um malabarismo para conciliar e exibir todos os filmes que acha importante. Acabam tendo várias sessões sobrepostas”, reconhece Pedro Butcher, que assina a curadoria principal da CineBH, ao lado de Francis Vogner e Marcelo Miranda.

Para esta edição, o trio escolheu o tema “Cinema de Urgência”, buscando refletir sobre os vários filmes – especialmente documentários – que estão tentando responder à atual instabilidade sociopolítica do país. “A gente começou a pensar no que seria esse cinema de urgência porque o cinema, necessariamente, precisa de tempo”, explica Butcher.

Esse questionamento se reflete na presença de filmes como o curta brasileiro “Na Missão, com DKadu”, o longa senegalês “A Revolução Não Será Televisionada” e o alemão “Videogramas de uma Revolução”, que retrata a crise política romena. “Tem uma frase do Godard que diz que, diante da capacidade da mídia de produzir esquecimento – porque as coisas vão sendo esquecidas e substituídas por outras –, o cinema, com o tempo que ele precisa, produz memória”, reflete o curador.

Um dos pontos altos dessa discussão, porém, será a sessão comemorativa dos 50 anos de “Terra em Transe”, com comentários dos professores Ismail Xavier e Ivana Bentes. “Foi muito bom termos conseguido os dois porque ele não é um filme fácil de ler. Não é naturalista, tem diálogos e atuações over e delirantes, sem nada do que é corrente no cinema hoje. Vai ser muito bom ter essa dupla para trazer a atualidade dele à tona”, observa Butcher. A exibição será no Humberto Mauro, sábado, às 16h30.

Ao mesmo tempo, no entanto, o curador ressalta que a programação conta com o que ele chama de “filmes antídotos”. Diante da sensação massacrante e da onipresença exasperante da crise política dentro e fora da mostra, ele e seus parceiros selecionaram produções que não têm necessariamente a ver com a temática principal e servirão de alívio para o público.

Dentre eles, o destaque fica para a forte presença asiática na seleção internacional. Na lista, estão longas inéditos de autores como Johnnie To (“Three”) e Takashi Miike (“The Mole Song: Hong Kong Carpaccio”), além de “Bangkok Nites”, de Katsuya Tomita. “Eles são interessantes porque são cineastas que trabalham com códigos do cinema comercial, mas têm personalidade muito forte. Reforçam a ideia de que é possível fazer cinema de comunicação de massa sem perder a originalidade e a força”, analisa Butcher.

Por fim, o curador destaca ainda a retrospectiva integral do cineasta homenageado, o franco-russo Pierre Léon. E os três filmes que ele escolheu para suas sessões comentadas: “O Caminhão”, de Marguerite Duras; “O Pecado de Cluny Brown”, de Ernst Lubitsch; e “Um Grande Mergulho”, de Jack Hazan. “Ele tem uma urgência e necessidade de fazer filmes e, como também é crítico, é perfeito para nossa proposta de alguém que traga seus filmes favoritos para comentar”, finaliza.


Agenda

O quê. 11ª CineBH / MAX

Quando. Desta terça-feira (22) a 27/8

Programação completa. www.cinebh.com.br

Quanto. Entrada gratuita

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