Literatura

Escritores encontram a cidade 

9º Seminário Beagalê coloca em discussão a mútua relação entre obra literária e espaço urbano, de hoje até quinta

Ter, 19/08/14 - 03h00
Pesquisa. Fabrício Marques prepara livro sobre cinco décadas de visão de escritores mineiros sobre a cidade e como a representaram | Foto: GUILHERME BERGAMINI

A visão que os escritores têm de Belo Horizonte é variada e contraditória. Foi a conclusão a que chegou o escritor jornalista Fabrício Marques na pesquisa “Cartógrafos da Vertigem Urbana”, que deve sair em livro em 2015. Antes da publicação, Marques adianta algumas de suas constatações no 9º Seminário Beagalê, que acontece de hoje até quinta, no Museu Histórico Abílio Barreto.

A temática debatida neste ano será A Literatura e a Cidade. Entre os convidados, estão a escritora cubana Emilia Gallego, que discute a memória da cidade criada pela literatura; o mineiro radicado em São Paulo Humberto Werneck, conhecedor das anedotas da geração de escritores formada por Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Rezende, entre outros; e o carioca Rodrigo Lacerda, neto de Carlos Lacerda, a quem retrata no romance “A República das Abelhas”; entre outros.

As afetações mútuas estarão em pauta: tanto a cidade inserida na literatura quando a literatura inserida na cidade. “De que maneira a literatura constrói esse imaginário da cidade, representa os conflitos que existem, as pessoas, os desejos, as lembranças que a gente tem e que a gente forja?”, questiona Fabíola Ribeiro Farias, chefe do Departamento de Coordenação de Bibliotecas e Promoção da Leitura da Fundação Municipal de Cultura (FMC).

Por outro lado, o seminário pretende refletir sobre os espaços possíveis para a literatura, desde bibliotecas a muros da cidade – onde se pode ler grafites poéticos, como “no concreto meu amor despenca”. Uma das mesas de debate tratará justamente da relação simbólica entre centro e periferia – pensados além da geografia propriamente. “O quanto de atenção a mídia, a imprensa e as grandes casas editoriais dão (ou não) acaba determinando uma periferia. A poesia que não é publicada, por exemplo, como ela sai desse lugar da literatura “alternativa” para o de literatura? Como ela perde esse restritivo para que ocupe o centro?”, indaga Fabíola.

Modernidade. A pesquisa de Fabrício Marques foi realizada como continuidade à serie de reportagens especiais “Um Passeio Histórico e Afetivo”, publicada no Magazine de 20 a 27 de agosto de 2006, com autores que escreveram no período de 1946 (a chamada modernidade tardia) àquele ano (época identificada como pós-utópica).

Marques angariou visões distintas da capital mineira. Ele cita duas para evidenciar as diferenças: “Sebastião Nunes fala que o lugar onde vive de forma alguma afeta a obra dele. Já outro poeta, o falecido Afonso Ávila, dizia que a Belo Horizonte que ele conheceu já não existia mais, e para ele se resumia à rua Cristina, no Santo Antônio, porque a cidade estava deturpada”.

“Mais para frente, o que a pesquisa mostrou é que a obra desses autores acaba sendo uma visão conservadora da cidade”, diz Marques. “Eles reproduzem sempre os mesmos pontos já conhecidos: o centro, a Savassi (como Roberto Drummond), a Pampulha (citada pelo Afonso Ávila e outros). Mesmo os autores inovadores na linguagem. Os que escapam disso são autores como Wander Piroli (1931-2006), que fala muito da Lagoinha, e o Manoel Lobato, da Sagrada Família”, cita.

Programação

Hoje, às 18h30. A literatura e a cidade, a cidade e a literatura, com Alicia Duarte Penna (MG), Rodrigo Lacerda (SP) e mediação de Leônidas Oliveira (MG).


Amanhã, às 9h. Cidades imaginárias e memórias da cidade, com Bráulio Tavares (RJ), Emilia Gallego (Cuba) e mediação de Nilson de Oliveira (MG).


Amanhã, às 14h. A literatura e os escritores na cidade, com Adriano Macedo (MG), José Eduardo Gonçalves (MG) e mediação de Maurílio Meirelles (MG).


Quinta, às 9h. Belo Horizonte e a literatura, com Humberto Werneck (SP), Fabricio Marques (MG) e mediação de Christian Coelho (MG).


Quinta, às 14h. Literatura no espaço urbano: o centro e a periferia, com Larissa Alberti (MG), Pedro Tostes (SP) e mediação de Eduardo Barbosa (MG).


Onde. Museu Histórico Abílio Barreto (av. Prudente de Moraes, 202), (31) 3277-9833.

Inscrições no site www.bhfazcultura.pbh.gov.br

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.