Lançamento

Eternizando heróis de uma guerrilha

Livro 'Trajetória do Cinema de Animação no Brasil' narra o percurso do gênero no país e destaca seus protagonistas

Sex, 01/12/17 - 02h00
Consagração. Percurso histórico culmina com indicação do longa “O Menino e o Mundo” ao Oscar | Foto: Filme de Papel / divulgação

Durante o curso de design, por volta de 2012, a paulista Ana Flávia Marcheti começou a frequentar o festival Anima Mundi e decidiu se especializar em animação. Quando foi atrás de livros para conhecer a história e o processo criativo dos animadores brasileiros, porém, ela foi pega de surpresa pela escassez, ou, em muitos casos, inexistência, de publicações e material de pesquisa sobre o tema. “Achei absurdo porque temos o Anima Mundi, um dos maiores festivais da América Latina e do mundo, temos um mercado em expansão. Mas só existiam art books de blockbuster estrangeiro, e nenhum do Brasil”, explica.

Ana Flávia resolveu, então, suprir ela mesmo essa lacuna, começando uma bolsa de iniciação científica para pesquisar a história da animação no país. A empreitada acabou se tornando seu trabalho de conclusão de curso, em que ela transformou a pesquisa em um livro. E, com a celebração dos 100 anos da animação no Brasil em 2017, a jovem fez uma campanha de financiamento coletivo para publicar a obra.

O resultado é “Trajetória do Cinema de Animação no Brasil”, que Ana Flávia lança no dia 12, às 15h, na Biblioteca Pública Estadual, dentro da programação do 15º Mumia. O livro, que condensa em 300 páginas produções e personagens dos primórdios do gênero no país até os dias atuais, “faz um traçado histórico, mas o foco é o processo criativo das animações realizadas aqui”, descreve a autora.

A obra divide esse percurso em cinco momentos, que compõem seus cinco capítulos. O levantamento vai desde as origens, com as charges animadas no início do século XX, passando pela experiência do primeiro longa em “Sinfonia Amazônica” até a expansão para publicidade, comerciais e alguns longas no fim do século XX, culminando com a indicação de “O Menino e o Mundo” ao Oscar.

No último capítulo, Ana Flávia entrevista cinco animadores contemporâneos de áreas e técnicas diferentes: Marcos Magalhães, pioneiro e fundador do Anima Mundi; Kiko Mistrorigo, um dos criadores do desenho “TV Pinguim”; Paulo Conti, pioneiro do stop motion; o indispensável Alê Abreu, de “O Menino e o Mundo”. “E a quinta é a Rosana Urbes, única mulher do livro, primeira brasileira a ganhar o prêmio de melhor curta no Festival de Annecy e que já trabalhou em grandes produções da Disney”, conta a autora.

Uma das ausências que o leitor belo-horizontino pode sentir no livro é a falta de referências à produção da Escola de Belas Artes da UFMG, primeiro curso superior de animação do país. “Fui conhecendo as pessoas durante a minha pesquisa e só tive contato com o pessoal daqui e o Sávio (Leite) – que foi um dos primeiros apoiadores do projeto de financiamento – depois que ela já tinha terminado. Queria que tivesse sido antes”, lamenta Ana Flávia.

Ainda assim, ela acredita que o livro capta a essência da arte da animação no país: seu espírito de guerrilha. “A animação começou como guerrilha e ainda é até hoje, com o Alê Abreu fazendo um longa com um orçamento absurdo. Se hoje existe um mercado em crescimento, ele se deve a muitas pessoas, como os realizadores do ‘Sinfonia’, que simplesmente fizeram porque gostavam. Tinham uma vontade, foram lá e fizeram. A animação brasileira é muito isso”, sintetiza.

Agenda

o quê. Lançamento “Trajetória do Cinema de Animação no Brasil” (300p., R$ 130)

quando. dia 12, às 15h

onde. Biblioteca Pública Estadual, na praça da Liberdade, 21, Funcionários

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