“Invocação do Mal 2”

Exorcismo com sabor de déjà vu

Sem a novidade e a excelência técnica do original, sequência decepciona

Qui, 09/06/16 - 03h00
Assombrada. Médium vivida por Vera Farmiga é assombrada pelo espírito de uma freira macabra na continuação | Foto: Warner / divulgação

O sucesso de crítica e público do primeiro “Invocação do Mal” tinha dois grandes motivos. O primeiro é a competência técnica e narrativa com que o diretor James Wan revisitou vários elementos do gênero de terror, sem reinventar nenhum deles, mas mostrando sua eficiência em manipular o público quando bem realizados. E o segundo foi a solução do longa para o maior problema das produções de terror sobrenatural – a figura do especialista, uma ferramenta sem profundidade que aparece apenas para explicar a história ao público e aos protagonistas –, dando a ele o centro da trama e escalando os carismáticos Patrick Wilson e Vera Farmiga para dar vida aos exorcistas Ed e Lorraine Warren. 

Em “Invocação do Mal 2”, que estreia hoje, o segundo elemento está de volta. Infelizmente, o primeiro, não. Como anunciado no letreiro inicial, o longa se propõe a contar o “caso mais assustador” vivido pelos Warren. Mas se a história real foi aterrorizante como um exorcismo, o filme é arrastado e repetitivo como um terço bizantino.

Considerada o “Amityville inglês”, a trama acompanha o calvário dos Hodgson, família de classe baixa na Londres dos anos 70, quando a filha Janet (Madison Wolfe) passa a ser possuída pelo espírito de um velho morador da casa onde vivem. Recém-divorciada, a mãe Peggy (Frances O’Connor) pede ajuda à Igreja, que, dado o estado de Janet – na escala Linda Blair de possessão, ela é ao menos um 7 (só não vomita, desce a escada feito aranha e se masturba com o crucifixo, o resto está todo lá) –, recorre ao vade retro profissional de Ed e Lorraine do outro lado do Atlântico.

A câmera de Wan continua uma exímia caça-fantasma, passeando pelos cômodos em busca da prova de que aquela pulga atrás da sua orelha é mesmo o capeta. O problema do filme é que a montagem de Kirk Morri arrasta essa busca de tal forma que o suspense e o medo criado pela fotografia eventualmente se transformam em tédio.

Com 2h13 de duração, “Invocação do Mal 2” é mais uma das sequências hollywoodianas em 2016 que acreditam equivocadamente que maior duração equivale a maior qualidade. Os problemas de ritmo decorrentes disso ficam claros no segundo ato repetitivo e na montagem paralela do clímax no final, mal ajambrada e pouco convincente. Aterrorizar o espectador é como andar numa corda bamba – se você faz isso por 2h13, ou vai cair, ou vai ficar chato.

Como Ed e Lorraine afirmam várias vezes durante o filme, o segredo para encarar esses demônios (e o grande tema da produção) é a fé – acreditar que o que acontece ali é real. O mesmo vale para o espectador, que precisa comprar o que se passa na tela. O que, sem a mesma excelência técnica do longa anterior, fica bem difícil para quem não é fã fervoroso do gênero.

E quando todo o espetáculo de horrores de Wan não funciona como devia, as deficiências do roteiro ficam evidentes. Além dos diálogos pavorosos (não num bom sentido) desse tipo de produção, “Invocação 2” repete o erro que o anterior tinha superado, inserindo dois especialistas (vividos por Franka Potente e Simon McBurney) totalmente desnecessários, levando em conta a presença de Ed e Lorraine.

E graças a Farmiga e Wilson, os dois são mesmo a melhor coisa do filme. Sem nunca terem chegado a ser astros de primeiro escalão, eles são especialistas em elevar o material que recebem, independente de sua qualidade – seja Wilson encontrando um respiro de leveza ao tocar Elvis no violão, ou Farmiga dando ao único monólogo bom do longa o mesmo tratamento que Cate Blanchett dá aos bons roteiros que recebe. “Invocação 2” vale por esses momentos. Nos outros, é mais um daqueles filmes que dão vontade de ver “O Exorcista” pela primeira vez de novo. 

Em sequência , há mais truque do que maestria

São Paulo. O segundo “Truque de Mestre” indica que seus produtores pretendem criar uma franquia nos moldes de “Onze Homens e um Segredo”. Em vez de ladrões descolados planejando um grande golpe, temos mágicos fazendo o mesmo.

A fórmula inclui elenco estelar sem protagonistas, um novo integrante por episódio (Lizzy Caplan) e um vilão com casting surpreendente (Daniel Radcliffe). Há cenas de ação com montagem e trilha espertas e reviravoltas na história.

Os Quatro Cavaleiros criam um espetáculo para denunciar um jovem magnata que lançará aparelhos que controlam informações dos consumidores. Mas eles são capturados por Walter Mabry (Radcliffe), ex-sócio e atual inimigo do magnata, que os obriga a roubar o cartão que é a base da nova tecnologia.
A premissa é bastante atual. Mas o filme, fiando-se na temática do ilusionismo, está mais interessado em tapear o espectador com uma série de viradas na trama.

Neste segundo “Truque de Mestre”, há certamente mais de truque do que de maestria. (Ricardo Calil)

FOTO: Paris / divulgação
Todo o quarteto de mágicos original está de volta na continuação

Temática gay não evita conservadorismo

São Paulo. Os casórios nos filmes já serviram para ridicularizar a riqueza e o ideal de normalidade (“Cerimônia de Casamento”), trazer afetos à tona (“O Casamento do Meu Melhor Amigo”) e mostrar que casar pode não ser a melhor solução (“O Casamento de Muriel”), entre tantos exemplos. “Casamento de Verdade” é um manual de etiqueta da modalidade mais recente de união, o casamento gay, para evitar gafes imperdoáveis, como o preconceitos. Outra função do filme é estimular os que ainda temem abrir o armário.

Jenny (Katherine Heigl) é a queridinha dos pais. Só não é mais perfeita porque, em vez de procurar um bom marido, ela prefere ficar com o das outras. Um dia, Jenny decide contar que a colega de quarto é, de fato, namorada e que elas decidiram se casar. O que os vizinhos vão dizer? A pergunta do pai resume o espírito do filme. O problema são os outros. Jenny deixa de fazer a boa moça, a irmã assume que seu casamento hétero é uma farsa e os pais decidem que só a felicidade importa e todos vão ser felizes para sempre.

O filme evita tratar questões mais insolúveis, como desarticular preconceitos, ao mostrar que a assimilação se resolve com a normalização, o que quer dizer casar, reproduzir um modelo de ordem e parar de fazer barulho. Por trás da ideia irrefutável de que todo mundo tem, no mínimo, direito à felicidade no amor, “Casamento de Verdade” dilui a problemática da diversidade a um dos tópicos.

O ideal que o filme difunde não deixa de ser útil em países como o Brasil, que ainda vê no casamento gay uma ameaça à instituição. Essa representação progressista, no entanto, não o impede de ser tão conservador quanto as comédias de mais de meio século atrás, em que rebeldia se resolvia com marido e filhos. (Cássio Starling Carlos) 

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