Música nas comunidades

Feito por e para os morros

Festival da Quebrada e Black na Laje, que serão realizados neste fim de semana, celebram a cultura das periferias

Sáb, 29/04/17 - 03h00
Rebento. Natural de Belo Horizonte, Djonga lançou neste ano “Heresia”, primeiro álbum da carreira depois do EP “Fechando o Corpo” | Foto: Mariana R/divulgação

Em uma de suas muitas rimas que rasgam sem piedade o puritanismo e a inocência de quem acredita que o Brasil não é um país racista, o rapper mineiro Djonga manda uma mensagem de força para mulheres e homens negros que enfrentam todos os dias o insustentável fardo do preconceito. “Sou da sua raça, mano, é a nossa vitória/ Já foram farsa, vamo contar nossa história/ Quilombos, favelas, no futuro seremos reis, Charles”.

Apesar de não terem sido escritas pensando-se no Festival da Quebrada, que será realizado neste sábado (29), no Conjunto Santa Maria, e neste domingo (30), no Morro das Pedras, as palavras do rapper – uma das atrações do evento – representam bem o objetivo do festival: dar voz à periferia por meio da arte e de discussões sobre a própria cultura e questões que permeiam e são compartilhadas pelas comunidades.

“A comunidade deve saber que ela é dona do espaço público, que é para ser usado por ela e para ela. É importante que as pessoas também saibam que elas têm capacidade de ser agentes culturais e que não é preciso ficar esperando que as ações sociais venham de fora”, justifica o vocalista da 12duOito, Jefferson Gomes, que produz o festival. O grupo também é uma das atrações do evento.

Djonga, rapper que vem destacando-se na cena atual graças a seu trabalho, concorda com Gomes, mas traz um contraponto. “É importante também que eventos assim levem as pessoas para fora da periferia, para que elas saibam que o Palácio das Artes também é um espaço público a ser ocupado por elas. Não quero dizer que elas tenham que sair da comunidade, mas mostrar que elas podem ir para lá também”, ressalta o rapper, que destaca: “Vou fazer um espetáculo com a simplicidade que estou acostumado, do jeito que sou, levando uma mensagem de empoderamento e autoestima”, adianta.

Atrações. Ao todo, mais de 20 atrações se dividirão nos dois dias entre o Conjunto Santa Maria e Morro das Pedras. Os estilos são variados e predominantemente advindos da cultura negra, como samba, funk, rap e reggae. Segundo Gomes, foi preciso fazer uma curadoria para definir quais artistas integrariam o line-up do evento. “Partimos de três pontos cruciais. Primeiro, era preciso que o grupo fizesse parte da periferia. Depois, que ele tivesse alguma ação cultural desenvolvida na própria comunidade. E, por fim, que já tenha participado das edições anteriores”, afirma.

Apesar de essa ser a primeira edição do evento, o Festival da Quebrada é um desdobramento do Se Essa Rua Fosse Minha, ação social realizada em 2013 e 2014, que promoveu atividades políticas e culturais no Conjunto Santa Maria. O projeto se tornou mais robusto depois de ter sido contemplado em edital com recursos da Fundação Municipal de Cultura. “O Se Essa Rua Fosse Minha é uma ação colaborativa que foi criada a partir de recursos das pessoas do bairro. Só de não ter que tirar dinheiro do bolso para pagar iluminação, por exemplo, já alivia bastante”, diz Gomes.


Atrações

Conjunto Santa Maria
10h30 – Grupo de samba de roda Fala Tambor
13h30 – Roda de conversa com agentes culturais
16h20 – Rap em Cena
17h30 – Disputa Nervosa Lá da Favelinha
19h50 –Tamara Franklin
21h – 12duoito
22h – Djonga e FBC
Morro das Pedras
14h – Intervenção Bboys
14h40 – Mist KiIla, Prata e Mib
17h – Núcleo Fantasma
17h50 – La plaza
18h40 – Fúria Negra

Agenda

O quê. Festival da Quebrada
Quando. periferia por meio da arte e de discussões sobre a própria cultura e questões que permeiam e são compartilhadas pelas comunidades, no Conjunto Santa Maria, das 9h às 22h30, e amanhã, no Morro das Pedras, das 12h às 20h
Onde. Conjunto Santa Maria (rua 4, esquina com rua Gentios, em frente ao número 1.249), e Morro das Pedras (rua Onze de Dezembro, 180)
Quanto. Gratuito

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