Música

Fenômeno mundial do k-pop, o grupo sul-coreano BTS chega ao Brasil

Reality shows, novelas e games são estimulados pela indústria do gênero

Dom, 19/05/19 - 03h00
Principal expoente do gênero no mundo, o BTS conta com sete integrantes, mas há formações do estilo k-pop com até 40 membros | Foto: LISA O'CONNOR/AFP 20.05.2018

Fogos de artifício, dois monumentais tigres de bronze e, em cada um dos sete microfones, uma cor do arco-íris. Subitamente, alguém sobrevoa a plateia. É Jungkook, que, a exemplo dos demais membros do BTS, veste um alinhado terno branco feito sob medida pela renomada grife francesa Dior. Esse é um aperitivo da turnê “Love Yourself: Speak Yourself”, que começou na Califórnia, nos Estados Unidos, e chega ao Brasil no próximo final de semana, com apresentações nos dias 25 (sábado) e 26 (domingo) de maio, no estádio Allianz Parque, em São Paulo, com capacidade para 55 mil pessoas. 

Parte de uma série de oito apresentações que vai percorrer as Américas, a Europa e a Ásia, o anúncio do show avisa que se trata do “maior grupo de pop do planeta”. O esgotamento de todos os ingressos na capital paulista, que custavam entre R$ 205 (meia) e R$ 975 (inteira), torna a propaganda difícil de ser rebatida. Mas não é só isso. Depois de estrear em 2013 com o lançamento do single “No More Dream”, o conjunto de sete garotos sul-coreanos, que atualmente têm entre 21 e 26 anos, iniciou uma escalada impressionante e se consolidou como o maior expoente mundial de k-pop.

A expressão é uma abreviação para korean pop, ou, em tradução literal, “música pop coreana”. “O k-pop é completamente universal. O fato de ser cantado em coreano talvez dê um atrativo a mais, mas a produção poderia ser a mesma do (cantor canadense) Justin Bieber. É um ritmo que mistura dance com R&B e outras influências que justificam o apelo”, analisa o crítico e curador musical Carlos Albuquerque. Por sinal, nem todas as canções de k-pop privilegiam a língua de origem. Muitas delas misturam o inglês ao coreano. O próprio BTS procura seguir à risca a lógica da globalização em cada passo. “A qualidade das produções de k-pop é impressionante”, diz o fã Gabriel Muniz, 25. 

Depois de parcerias com a cantora norte-americana Halsey e com o compositor britânico Ed Sheeran, a banda anunciou uma música com o cantor Khalid, que já tem no currículo um disco de platina da revista “Billboard”. Os números do BTS, no entanto, são ainda mais impressionantes. Eles se tornaram os primeiros a emplacar três álbuns na primeira colocação da Billboard em menos de um ano, o que não acontecia desde os Beatles. O feito os levou a imitarem os garotos de Liverpool num cover para “Hey Jude”, ao participarem do programa “The Late Night Show”, em Nova York. Entre os 20 milhões de seguidores da trupe no Twitter, estão celebridades como Ryan Reynolds e Ariana Grande.

“A identificação vem pelo fato de serem artistas cativantes, que cantam e dançam e possuem um visual muito forte”, afirma Laiza Kertscher, 29. Produtora da Highway Star, que fica no bairro Calafate, em Belo Horizonte, Laiza foi pioneira nesse mercado quando começou a trabalhar com k-pop em 2013. O sucesso crescente levou a empresa a trazer para o Brasil, só neste ano, shows do Monsta X (19 de julho) e do Pentagon (15 de setembro), ambos em São Paulo. Já o grupo Masc iniciou em Goiânia turnê que se encerra em Porto Alegre no dia 28 de maio. Em BH, até o momento, só rolaram sessões de autógrafos do Kard e do 24K. 

Prisões. Apesar do sucesso, controvérsias também cercam o universo do k-pop. Youtuber, Iago Aleixo, 27, integra o time de quadribol Dragões da Tormenta, onde joga como apanhador. Porém, entre 2013 e 2015, ele participou do Champs. Formado por brasileiros, o conjunto agenciado por produtores sul-coreanos tentou emplacar no Brasil o “b-pop”, uma variação da matriz coreana. Aleixo conta que “ensaiava 16 horas por dia, sem pausa, de segunda a segunda”, e que era “proibido de deixar crescer a barba e o cabelo e não podia aparecer de óculos”. “Não era trabalho escravo porque a gente queria fazer aquilo”, diz Aleixo.

Na Coreia do Sul, grandes empresas de entretenimento atuam como gravadoras, agenciadoras de talentos e produtoras musicais. São os casos da S.M. e da YG Entertainment, que, com o apoio do próprio governo – o Ministério da Cultura do país possui um departamento só para cuidar do gênero –, recrutam garotos e garotas de classes menos favorecidas economicamente para treinamentos que chegam a durar três anos, com aulas de canto, dança, teatro e idioma. Nesse período, os jovens vivem em alojamentos. “São artistas manufaturados, gerados em fábricas”, diz o crítico musical Carlos Albuquerque. 

A estratégia não visa apenas à música. Reality shows, novelas, games e todo tipo de interatividade são estimulados pela indústria do k-pop. Em 2014, a Coreia aprovou uma lei para evitar práticas de trabalho insalubres e performances com teor sexual no meio. O escândalo maior aconteceu no início de 2019, quando o cantor Jung Joon-young foi preso, acusado de filmar mulheres sem consentimento e compartilhar os vídeos. Além dele, Seungri, da banda Big Bang, parou na cadeia, mas já foi solto, por envolvimento com prostituição.

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