Cinema

Glenn Close é 'A Esposa'

Longa, que pode render o primeiro Oscar à atriz – indicada ao prêmio por seis vezes sem ganhar –, estreia nesta quinta-feira (10)

Qui, 10/01/19 - 02h00
Atriz é Joan, uma mulher que vive à sombra do marido | Foto: reprodução

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Em “A Esposa”, filme sobre submissão, machismo e paixão, Glenn Close é quem mantém o espectador de olhos grudados na tela. Tanto que a atriz norte-americana ganhou uma estatueta no Globo de Ouro, no domingo, por sua atuação nessa coprodução entre Suécia e Reino Unido, dirigida por Björn Runge, que estreia nesta quinta-feira (10) nos cinemas.

Aos 71 anos, Glenn Close é uma atriz fantástica que ainda mostra em cena toda a sua força. “A Esposa” certamente seria um filme menor se ela não fosse a protagonista, assim como “Atração Fatal” (1987) ou mesmo “Ligações Perigosas” (1988), afinal, quem mais faria o papel da Marquesa de Merteuil?

Em “A Esposa”, Glenn Close é Joan, a mulher do celebrado, e um tanto ególatra, escritor Joe Castleman. A história começa quando Joe recebe o Prêmio Nobel de Literatura. Na posição de musa do autor, Joan o acompanha em todas as festividades que vêm junto com a honraria. Quando a família viaja para Estocolmo, na Suécia, onde o escritor receberá o prêmio, os ressentimentos desse relacionamento longevo entre marido e mulher começam a vir à tona de forma praticamente incontrolável.

Em forma de flashback, o espectador acompanha o passado desse romance e passa a entender o comportamento presente dessa mulher que se anulou completamente para que seu marido e grande amor pudesse prosperar até alcançar o ponto máximo de sua carreira.

No longa, o ressentimento de Joan não toma forma por conta da injustiça da situação. Ela não inveja o marido, apesar de ela própria ser uma escritora talentosa, que nunca pôde expor seu trabalho por viver à sombra de Joe. O que Joan não suporta é ser tratada por ele como se fosse apenas uma musa, um objeto de adoração.

Quando Joe diz a uns bajuladores: “Joan não escreve”, o espectador vê na expressão da mulher que aquela frase a feriu como se fosse uma arma letal. Incrível a atuação de Glenn, que torna a personagem completamente real em sua ebulição interior, enquanto mantém plácido seu semblante. Ela ama Joe, valoriza os anos que passaram juntos e tem orgulho da família que formaram. Porém, a idade lhe deu a segurança necessária para se expressar e ganhar voz.

“A Esposa” pode não ser grandioso, mas tem boas cenas, como a que abre o filme. No quarto, o público logo vai perceber que o casal Joe e Joan está junto há muito tempo não pela idade dos protagonistas, mas pela intimidade deles na cama.

Outra boa cena, que mostra toda a segurança de Glenn Close, é vivida por ela e Christian Slater, que interpreta Nathaniel Bone, um escritor insistente, que quer ser o biógrafo de Joe. Em um bar, em Estocolmo, os dois bebem e conversam sobre temas delicados. Joan mantém sua finesse e faz um pedido a ele (e, por consequência, ao espectador). “Não tenha pena de mim”, ela diz.

Na trilha do Oscar. A vencedora do Globo de Ouro está também indicada ao Bafta, a premiação britânica de cinema, cuja lista de indicados foi divulgada nessa quarta-feira (9). Ela é nome provável também entre as indicadas ao Oscar de melhor atriz. Glenn Close já recebeu seis indicações, mas não venceu nenhuma vez. Injustiça tremenda que pode ser reparada este nano por sua atuação em “A Esposa”, apesar de Lady Gaga ser o nome mais popular nos termômetros do Oscar.

Glenn é uma atriz que transforma papéis em personagens memoráveis. Sua Alex, de “Atração Fatal” (1987), filme de Adrian Lyne, é símbolo até hoje da mulher obcecada. E quem esquece a cena em que a atriz, na pele da Marquesa de Merteuil, retira a maquiagem enquanto se olha no espelho e se vê só no desfecho de “Ligações Perigosas” (1988), filme de Stephen Frears?

Além de ter sido indicada ao Oscar por esses dois filmes, ela esteve na lista também por “O Mundo Segundo Garp” (1983), “O Reencontro” (1984), “The Natural: Um Homem Fora de Série” (1985) e “Albert Nobbs” (2012), em que vivia uma mulher que, em pleno século XIX, se vestia de homem para poder ser dona de seu negócio, em atividade permitida somente aos homens.

A atriz nunca teve medo de se arriscar e participou de filmes como “O Reverso da Fortuna”, “Marte Ataca!”, “A Casa dos Espíritos”, “A Fortuna de Cookie”, além de infantis como “Deu a Louca na Chapeuzinho” e “Os 102 Dálmatas”.

Na TV, ela estrelou “Damages”

Glenn Close foi para a TV numa época em que os atores de cinema ainda não tinham descoberto as boas produções na telinha e fez participações em “Will & Grace”, “The West Wing” e “The Shield” até chegar a “Damages” (2007-2011), do FX, em que vivia a advogada Patty Hewes. A primeira temporada de “Damages” – com atuação impecável de Glenn Close e também de Rose Byrne – é uma das melhores já produzidas no gênero. A série está disponível no Now, serviço de streaming da Claro/Net.

“Atração Fatal”. Atriz é o retrato da obsessão neste filme, de 1987, sobre uma mulher que persegue um homem (Michael Douglas), levando o amor a um nível insano.



“Ligações Perigosas”. Glenn vive a Marquesa de Merteuil, que se envolve num perigoso jogo de sedução com o Visconde de Valmont (o ótimo John Malkovich).



“Damages”. Como Patty Hewes, a atriz aterroriza a vida de Ellen Parsons (Rose Byrne) nesta ótima série de suspense do FX.

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