Música

Guto Goffi lança novo CD solo

Baterista do Barão Vermelho partiu de desenhos feitos por ele próprio há 15 anos para compor as faixas de 'C.A.O.S'

Por Patrícia Cassese
Publicado em 26 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
Guto Goffi e seu Bando do Bem:“Quis incluir nas letras o caos e a desorganização de nossa sociedade mundial, esse retrocesso todo” Frederico Mendes/Divulgação

Para obter o resultado desejado, o processo foi diferente do habitual. “No C.A.O.S, rasgamos os manuais e quaisquer regras pré-concebidas. Quis me jogar nesse abismo escuro de possibilidades quase infinitas, meio que um vale tudo na arte”, conta Guto Goffi, fundador do Barão Vermelho, sobre seu terceiro trabalho solo, que acaba de ser lançado.

O baterista, cantor e compositor carioca, na verdade, partiu de material fotográfico feito por ele próprio há aproximadamente 15 anos, e que acabou gerando as músicas e letras do novo álbum.

“Esse material fotográfico, aliás, estará exposto no cenário dos shows, que acontecerão na Casa de Cultura Laura Alvim (no Rio de Janeiro), em março e no começo de abril. E pretendo também usar esses painéis de fotos para que deem o tom certo que desejo quando chegar a hora da turnê. Em cada cidade pela qual vou passar, devo escolher um artista plástico diferente para expor seus trabalhos atrás do nosso palco. Quero, com isso, aproximar plateias que gostem de arte, independentemente de curtirem música ou as plásticas”, detalha, entusiasmado.

No caso do material artístico de sua própria lavra, ele diz que as figuras foram surgindo de forma espontânea. “Eu estava em um período de abstinência de drogas, e parece que os efeitos retardados estavam mandando seus sinais com muita lisergia e urgência...”, diz, absolutamente sincero.

“Confusões Artísticas & Obras Sonoras”

Para Goffi, as iniciais que anunciam o seu “C.A.O.S.” podem ser traduzidas por “Confusões Artísticas & Obras Sonoras”. “Esse é o conceito do disco, que flerta com o kaos da mitologia grega – ele é o momento que precede a criação. Também incluo, nas letras, o caos e a desorganização de nossa sociedade mundial, o retrocesso medieval em que estamos surfando e todos os sentimentos bons e ruins dessa humanidade desumana”.

Instado a falar sobre alguma faixa, selecionada a seu bel prazer, Guto opta por “Decassílablues”, a que abre os trabalhos. “Gosto de inventar palavras e acho a sonoridade da faixa muito moderna, algo que atualiza o velho blues para o ano 3.000. A letra é bem marginal e reflexiva, ‘to-dos-os-i-mor-tais-es-tão-mor-tos’, e estão mesmo. A morte é a única coisa que não volta atrás”, filosofa.

Já “A Travessia” reverbera o seu lado trovador, “meio Bob Dylan, de quem sou muito fã”. “Mais Feliz”, por seu turno, ele fez para a namorada atual. “Já mostra o Guto Goffi sem letras, é meu lado músico, mas compondo música cheia de poesia na abstração instrumental”, expõe.

No cômputo geral, Goffi acrescenta que, para que o trabalho atingisse a sonoridade almejada, a produção usou muitos recursos midiáticos. “Pude tocar flautas, violinos, acordeão, vibrafone,sem o menor pudor ou preocupações. Essa liberdade e distanciamento do que pode ou não pode, fez o meu rock diferente. O Nani Dias trouxe a modernidade que faltava ao Guto Goffi & O Bando do Bem. Somos diferentes de tudo o que se faz no rock brasileiro – estrangeiro, então, nem se fala, pelos elementos brasileiros”.

Agora é cair na estrada. “Quero ir aonde der, sempre de segunda a quinta, pois os finais de semana são dedicados exclusivamente ao Barão. Penso em retornar à Autêntica (casa de shows de BH), pois toquei o ‘Bem’ nesta casa que valoriza o autoral, tenho que fortalecer quem me fortalece”, conclui.