Concerto

Homenagem a Suassuna 

Orquestra Ouro Preto se apresenta ao lado de Antônio Nóbrega, representante do grupo Quinteto Armorial

Sáb, 11/04/15 - 03h00
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O popular e o erudito, o armorial e a orquestra de câmara se encontram em um diálogo que a arte permite acontecer. A Orquestra de Ouro Preto (OOP) se apresenta ao lado do representante de uma das mais radicais experiências da música armorial. O pernambucano Antônio Nóbrega, instrumentista, cantor, bailarino e compositor, foi o violinista do Quinteto Armorial, grupo idealizado por Ariano Suassuna, que rompia com os moldes exclusivamente ocidentais de produção musical. A apresentação abre a série Domingos Clássicos, amanhã, às 11h, no Grande Teatro do Sesc Palladium.

Para dar início à programação de 2015, a brasilidade foi o tema eleito para guiar o concerto. Assim, Ariano Suassuna, escritor falecido no ano passado, será o homenageado da apresentação. Amigo e parceiro artístico do escritor paraibano, Antônio Nóbrega apresentará, por meio da música, a essência do Movimento Armorial empreendido na década de 70 por Suassuna e tantos outros pensadores e artistas.

“Falar de música clássica a partir de uma brasilidade seria uma forma de chamar a atenção para algo diferente, para um encontro entre o popular e o erudito, que é possível pelo mundo das artes”, diz o maestro Rodrigo Toffolo, membro fundador da OOP e regente titular do grupo desde 2007. Para Nóbrega, Ariano foi um intelectual atento ao Brasil em toda plenitude. “Conhecemos Suassuna muito por sua dramaturgia, menos pelo romance e quase nada pelas crônicas e ensaios, onde há muita reflexão sobre o país. Ele, pra mim, se assemelha bastante a outros dois grandes pensadores importantes para a nossa cultura e história: Mário de Andrade e Darcy Ribeiro. O trio comungava os cuidados e o zelo com o Brasil em sua inteireza. Eu guardo essa presença de Ariano em mim. Ele foi a pessoa a quem eu dei minhas mãos, ao mesmo tempo em que ele era uma espécie de pai”, conta Nóbrega.

A busca pela valorização de uma cultura totalmente nacional foi o ponto central do movimento liderado por Suassuna e se expandia pelas diversas áreas artísticas. Na música, o Armorial reforçou os elos entre o erudito e a música nordestina, assim como as raízes ibéricas e barrocas da região.

Fundado por Suassuna, o Quinteto Armorial, do qual Nóbrega fez parte, foi um dos grupos mais importante e fortes que levaram a cabo os princípios do movimento. “Ele quis sugerir uma sonoridade que ficasse menos colada com a música de câmara europeia. A essência do Armorial consiste em uma atenção que demos e deveríamos dar mais à cultura popular. No mundo globalizado e contemporâneo, a música tem reforçado a presença da cultura ocidental, erudita e pop. Mas não somos fruto só do Ocidente. Temos uma presença culturalmente forte dos indígenas e africanos. Não estamos atentos suficientemente para essa cultura. Essa é uma lição que permanece. Eu e outros artistas trabalhamos a partir desse imaginário lúdico popular. O Armorial é um pensamento, uma postura e continua vivo, precisando ser ainda melhor compreendido”, reflete Nóbrega.

Rodrigo explica que a erudição é um fator presente na execução das músicas. “É preciso ter uma formação erudita para tocar os instrumentos, mesmo os mais populares. A gente pode imaginar a música armorial como uma paisagem sonora dos livros de Ariano. Mas, embora ela reforce suas raízes nordestinas, ela se estende por elementos de outras regiões. Para mim, ela é música brasileira, como a pluralidade que temos no país”, diz Rodrigo Toffolo.

No repertório do concerto, músicas armoriais, cantadas e instrumentais, serão apresentadas com criados por Mateus Freire, membro da OOP. A dança também estará presente em algumas canções que Nóbrega faz questão de dançar.

Algumas composições feitas para orquestra de câmara também serão executadas, como composições de símbolos do movimento como Clóvis Pereira, César Guerra Peixe e Capiba. Obras de Nóbrega também serão apresentadas.

Agenda

  • O quê. Série Domingos Clássicos com a Orquestra Ouro Preto e Antônio Nóbrega
  • Quando. Amanhã, às 11h
  • Onde. Grande Teatro do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro)
  • Quanto. R$ 5

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