Palácio das Artes

Justiça manda vereador retirar do ar vídeo relacionado a exposição

Secretário de Cultura, Juca Ferreira entrou com queixa-crime contra o vereador por vídeo em que ele associa a mostra de Pedro Moraleida à PBH

Qua, 11/10/17 - 19h17

O juiz Jorge Paulo dos Santos, da 4ª Vara Cível de Belo Horizonte, emitiu na terça-feira passada (10) uma liminar determinando que o vereador Jair di Gregório (PP) retire imediatamente do ar o vídeo “Aberração aqui não Juca Ferreira: BH não é lixo”, divulgado na semana passada em suas redes sociais, sob pena de multa diária de R$ 1.000. O secretário de cultura de Belo Horizonte entrou com uma queixa-crime, conforme explica, não apenas pelo vídeo, mas por uma série de ataques feitos pelo vereador ao longo de uma semana, associando Ferreira à exposição “Faça Você Mesmo a Sua Capela Sistina”, de Pedro Moraleida. Gregório considera que a mostra faz apologia à pedofilia.

“Infelizmente tive que recorrer à Justiça. Penso que a política tem que ser praticada com respeito mútuo, mas esse senhor passou uma semana me desrespeitando, me caluniando. E ele sabia que a prefeitura e eu não temos a ver com o Palácio das Artes e, portanto, não temos relação com a exposição”, diz Juca Ferreira, aludindo ao fato de que a curadoria da exposição de Pedro Moreleida é da própria Fundação Clóvis Salgado, que é um equipamento do governo do Estado, não da prefeitura.

O secretário afirma, ainda, que os ataques de Gregório não se deram por desconhecimento, mas simplesmente para capitalizar em cima de uma figura pública. “Ele sabia, tem gravação dos vereadores dizendo no plenário da Câmara que a prefeitura não tem a ver com a mostra. Ele sabia, então eu acho que a motivação para esses ataques é a demagogia religiosa dele, uma coisa para criar adesão, como se fosse um paladino da moral e dos bons costumes. Ele está tentando captar adesão usando a honra alheia. É um Carnaval artificial que faz parte de uma onda nacional de tentar restabelecer a censura. Mas eu acho que ele buliu com a pessoa erra, e agora só parou porque entrei com essa queixa crime”, destaca.

A liminar destaca que “não é objeto da ação a exposição em cartaz no Palácio das Artes, mas sim tão somente os comentários lançados pelo réu à pessoa do autor em seu vídeo”. Juca Ferreira acredita que Gregório o escolheu como alvo dos ataques por saber que ele, como já expressou em outras ocasiões, é contra as tentativas de censura que vêm acossando o universo das artes plásticas, incluindo os episódios da mostra “Queermuseu”, em Porto Alegre, e a crítica a performance “La Bête”, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo.

“Ele sabe que sou contra a censura e essa é a razão dos ataques. Ele tenta desmoralizar uma pessoa que pensa diferente dele. É um nível de primarismo muito irresponsável”, diz o secretário, saindo em defesa de “Faça Você Mesmo a Sua Capela Sistina” e do projetoa Arteminas, em que exposição de Moraleida se insere. “Essa mostra já rodou o mundo, já esteve no MoMA, talvez o principal museu do mundo, rodou a Europa”, destaca. Ferreira diz que, além da exigência de retirada imediata do vídeo, sob pena de multa, uma segunda parte da queixa-crime avalia os danos que Gregório causou a sua imagem e sua reputação.

Procurado pela reportagem, o vereador disse, por meio de sua assessoria, que se manifestaria apenas por nota oficial, e em seguida enviou um breve texto dizendo que, assim que for notificado, vai acionar sua assessoria jurídica.

Artistas vão processar políticos

Uma reunião realizada no apartamento da produtora Paula Lavigne, no Rio de Janeiro, na semana passada, com representantes das artes visuais e outros setores da cultura – um grupo de cerca de cem pessoas –, definiu que artistas que se sentiram difamados em vídeos de políticos e grupos na internet vão entrar na Justiça. Eles se referem a vídeos que autoridades como os prefeitos do Rio, Marcelo Crivella, e de São Paulo, João Doria, divulgaram associando suas produções a à pedofilia e zoofilia.

Participante da reunião, o curador da exposição “Queermuseu”, Gaudêncio Fidélis, notificou extrajudicialmente ontem o prefeito carioca Marcelo Crivella pelo vídeo postado por ele em oposição à realização da coletiva no Museu de Arte do Rio. O texto da notificação destaca entrevista do prefeito à rádio CBN, na qual disse que “a população do Rio é soberana e não tem o menor interesse em exposições que promovam zoofilia e pedofilia”. O texto também cita o vídeo “em que, estimuladas pelo prefeito, pessoas dizem que não querem no Rio de Janeiro exposição de zoofilia e pedofilia”. 

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