Encontro

Literatura como cura para os mais diversos males

Bate-papo 'Você é o que lê', com Gregório Duvivier, Maria Ribeiro e Xico Sá será nesta quarta (21), no Teatro Bradesco

Qua, 21/03/18 - 03h00
Gregório Duvivier, Maria Ribeiro e Xico Sá, realizam bate-papo nesta quarta-feira | Foto: Dani Villar/divulgação

“Sem a literatura não sobrevivemos à miséria humana. Precisamos ouvir ou ler histórias para nos mantermos vivos e atentos”, sintetiza o jornalista e escritor Xico Sá. Ele vai participar do bate-papo “Você é o que lê”, com o ator, escritor e humorista Gregório Duvivier, e a atriz, escritora e documentarista Maria Ribeiro, a ser realizado nesta quarta (21) à noite no Teatro Bradesco.

Para ele, “os livros são antídoto e vacina contra muitas mazelas. Você lê um livro incrível como ‘Um Defeito de Cor’, da mineira Ana Maria Gonçalves, e sente o poder da história, como é poderosa a escrita”, declara Sá. Duvivier também observa que a literatura pode ser um remédio para a solidão e para o fanatismo – “algo que nos acomete atualmente”, diz o artista, que, em seguida, cita como exemplo o premiado trabalho do escritor israelense Amós Oz.

“Ele é um autor que gosto muito e fala sobre essa questão no livro ‘Como Curar um Fanático’ (2004). O grande inimigo do fanatismo é a curiosidade. Ela não só nos torna menos fanáticos como também melhores amantes. O amante é uma pessoa curiosa, que consegue se colocar no lugar do outro. O fanático, por outro lado, é um sujeito que não sabe se colocar no lugar do outro. Isso é algo impossível para ele. Então, a literatura basicamente requer do leitor a capacidade de se colocar no lugar do outro. Por isso, ela nos torna não só menos fanáticos como também melhores amantes, ou seja, mais aptos à prática do amor”, sublinha ele.

Apesar dessa importância do universo literário, Duvivier lamenta que no Brasil ainda se dê pouco valor aos seus escritores. “É uma pena que o país tenha tanto descaso pela literatura, por seus autores, com tantos nomes brilhantes e que em qualquer outro lugar do mundo seriam canonizados. No Brasil, muitas vezes eles morrem em um processo de semi-esquecimento. Não é de esquecimento total porque há leitores que ainda se lembram dos nossos bons autores, mas é um grupo pequeno, como os de colecionadores de selos. Eu vi isso acontecer, por exemplo, com João Gilberto Noll (1946–2017), que é um autor que eu gosto muito e morreu nesse estado: com pouco leitores no Brasil adorando ele, mas o resto da população e o governo todo sem saber quem ele é. Pergunta ao nosso ministro da Cultura quem é João Gilberto Noll. Acho difícil ele ter alguma ideia. Nós temos um governo completamente dissociado e desinteressado da cultura, sobretudo na área de literatura, que talvez seja a mais desprezada e esquecida”, critica Duvivier.

“E é a literatura que nos torna dignos, civilizados. Ela nos alça à categoria de civilização ao sabermos contar histórias. Nós nunca ouvimos nossas histórias e somos um país que teve sua história sempre contada pelos outros. Por isso tudo a literatura é fundamental em várias escalas: para o país e para os indivíduos. E não estou falando da literatura apenas escrita, mas a oral também com suas narrativas e mitos, isso é o que nos torna humanos. Um país sem narrativas e mitos não é um país”, reforça ele.

Duvivier também revela ser “fã da literatura mineira”. “O que se faz hoje em Minas é excepcional. Para mim, a melhor dramaturga atualmente do país é a Grace Passô. Ela tem textos brilhantes. ‘Amores Surdos’ e ‘Por Elise’ são peças irretocáveis, magistrais e muito comoventes. Eu sempre saio do teatro muito comovido pela Grace. Adélia Prado, que é a maior poeta do Brasil, também é mineira. Como falei, em um país que não tem muito hábito de contar a própria história, as mulheres sempre souberam fazer bem isso”, conclui ele.

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