Internet

Mapa ativa  a memória  dos espaços  

A Cidade em Palavras, criado por Thiago Corrêa, situa literatura que tem Recife como cenário desde maio

Qua, 01/10/14 - 03h00
História. Para Thiago Corrêa iniciativa permite reconstituir épocas e acontecimentos | Foto: Alê Ribeiro/divulgação

Com a ajuda do Google Maps, o jornalista Thiago Corrêa vem construindo uma antologia a partir de fragmentos de romances, contos, crônicas e poesias em que há vínculo do conteúdo com os lugares de Recife. Incorporado ao site do coletivo Vacatussa, voltado à crítica literária, o projeto A Cidade em Palavras está no ar desde maio e soma 43 citações.

Ele conta ter desenvolvido essa ideia durante sua pesquisa de mestrado centrada na relação entre literatura brasileira e internet. Há dois anos, Corrêa diz que já colecionava trechos de escritos de Marcelino Freire, Xico Sá, Alexandre Furtado, Raimundo Carrero, entre outros, antes de levar isso para a plataforma que está em constante atualização.

“Antes de colocar os trechos no Google Maps eu já guardava tudo isso num arquivo do word. Esse processo de juntar os textos, antes de subir, eu ainda mantenho. Inclusive, tenho alguns novos autores para acrescentar em breve e, como escrevo constantemente resenhas, há muitos escritores contemporâneos. Agora estou querendo expandir o projeto introduzindo outros nomes emblemáticos, como Clarice Lispector e Gilberto Freire”, afirma Thiago Corrêa.

De acordo com ele, a iniciativa serve como uma espécie de roteiro subjetivo que revela a cidade por meio de diversos olhares. Um movimento em comum percebido por ele é a maneira como o conjunto permite reconstituir épocas e fatos.

“Boa parte das histórias se concentra na região central de Recife. Isso é muito interessante de se observar porque esse local está abandonado, e surge a preocupação com a importância simbólica daqueles espaços, à medida que algumas memórias vão se perdendo. Há também a possibilidade de se recordar casos que pouca gente talvez conheça e que aconteceram, por exemplo, durante o período da Segunda Guerra Mundial, em Recife, como conta Homero Fonseca, em ‘Roliúde’”, pontua.

No título do qual ele retira alguns excertos, o escritor lembra como os soldados norte-americanos sediados na cidade tinham alguns privilégios, a exemplo do acesso aos cassinos.

“Apenas eles e as mulheres locais podiam entrar nesses espaços. Isso acabou gerando uma tensão entre eles e os homens da cidade que se sentiam mal com aquilo. Essa é uma história que recordo ali”, relata.

A seleção que apresenta, ao seu ver, contribui para divulgar também os nomes da cena pernambucana que, às vezes, ganham pouca atenção fora dali. “O meu trabalho é mais de curadoria. Eu vou separando os textos e localizando onde as cenas acontecem. Porém, o mérito é todo dos autores que faço questão de citar o nome e o título do livro. Acho que essa também é uma forma de divulgá-los”, sublinha.

Em relação à possibilidade de receber sugestões de leitores, ele conta que recentemente lhe foi enviada uma contribuição que veio do Rio de Janeiro, no entanto, não pretende ampliar a pesquisa para outras cidades ainda. “Eu estou muito interessado em continuar mapeando os lugares de cá e me preocupo com a qualidade das citações. As pessoas podem até me enviar trechos, mas vai ser preciso checar isso nos livros, o que leva tempo”, pondera.

Sobre essa atenção com o ambiente urbano ele conclui que é um desdobramento de todas as discussões que atualmente acontecem ali. “Recife hoje reflete também essa preocupação com a ocupação urbana em vários movimentos como o Ocupe Estelita. Esse olhar para cidade acompanha de tudo isso”, conclui.

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