Cinema

Mostra Indie começa em BH reunindo 43 produções de 15 países

Qua, 20/09/17 - 03h00

Uma marca da Mostra Indie, que vai começar nesta quarte-feira (20) com a estreia do filme “Na Praia à Noite Sozinha”, do sul-coreano Hong Song Soo, no Cine Humberto Mauro, com entrada franca, é certamente o olhar para a produção contemporânea. Mas a presença de retrospectivas, como a deste ano, que será centrada na obra do francês Philippe Garrel, 69, garante ao público a chance de conhecer um pouco mais sobre a trajetória de determinado autor e sua relação com a história do cinema.

Além disso, como acontece desde 2015, obras celebradas e que se perpetuam como referências serão contempladas, a exemplo de “A Bela da Tarde”, de Luis Buñuel, e “A Primeira Noite de Um Homem”, de Mike Nichols, que completam 50 anos. Ao lado dessas, figuram ainda “Acossado” (1960), o primeiro longa de Jean-Luc Godard, “Stromboli” (1950), de Roberto Rossellini, e “Mulholland Drive: Cidade dos Sonhos” (2001), de David Lynch.

Todos esses títulos estarão inseridos no programa Clássica e serão relançados nas salas comerciais a partir de novembro. Dessa forma, o festival reúne não só criações de 15 diferentes países, principalmente por meio do programa Mostra Mundial, que abarca 16 das 43 a serem apresentadas, mas também trabalhos de diferentes épocas.

Contudo, vão estar ausentes, desta vez, as produções de diretores brasileiros. De acordo com Francesca Azzi, organizadora do evento, o motivo dessa escolha foi o grande volume de obras da retrospectiva de Philippe Garrel e a limitação do orçamento.

“Quando percebemos que a retrospectiva do Philippe Garrel já tinha 22 filmes, nós tivemos que direcionar um pouco a edição, porque não caberia uma programação muito extensa. Algumas pessoas já reclamam que o festival passa alguns filmes apenas uma vez, sem dar outra chance. Não tínhamos também como colocar mais uma sala, porque isso encarece o evento. Então, precisamos manter essa sobriedade e enxugamos o número para 43 filmes, o que já é maior do que do ano passado”, explica Francesca.

Esta será a primeira vez que o festival vai começar em Belo Horizonte depois de ter sido realizado na capital paulista. Nas últimas edições, o movimento era inverso. “Como o festival começou em Belo Horizonte, nós sempre privilegiamos a cidade. Mas, como as condições estão muito difíceis em termos de patrocínio e já tínhamos a garantia de fazer a mostra em São Paulo, a gente resolver iniciar por lá. Assim, teríamos mais tempo de captar e conseguirmos trazer o evento para BH”, diz Francesca.

Conflitos. Ao comentar sobre as obras que integram a Mostra Mundial, a organizadora sublinha a maneira como elas dialogam e com o momento conturbado percebido em vários países do mundo. “A gente está vivendo um período de transição política, com retrocessos em vários países, não só no Brasil. Então, eu acho que, de certa forma, o cinema contemporâneo vai refletir essas perdas”, pontua a organizadora.

Um dos exemplos é o longa-metragem “Colo”, da portuguesa Teresa Villaverde, que aborda os impactos da crise econômica no dia a dia de uma família. “Portugal foi um dos países que sofreu bastante com o desemprego, e a Teresa Villaverde retrata isso de uma maneira específica no ambiente dessa família que está desmantelada. Ela trata dessa complexidade que é a estrutura familiar: ao mesmo tempo que todos estão juntos, no fundo cada um está pensando em si. Ela toca nesse assunto grave que é a sobrevivência do grupo familiar e como ele sofreu com essa crise. Algo parecido com o que todos nós estamos vivendo”, comenta Francesca.

A alemã Angela Schanelec, por sua vez, trata em “Western” do embate entre culturas, quando um grupo de trabalhadores alemães são contratados para realizar uma obra no interior da Bulgária. “Eles se tornam os estrangeiros do lugar e não conseguem interagir bem com aquela comunidade. A diretora observa todo o mal-estar que eles passam no lugar, que consideram mais pobre e mais burro e atrasado que a deles. Surgem vários preconceitos e desconfianças por parte dos dois lados. A comunidade local também age com certo menosprezo pelos alemães, e a diretora aborda isso sem muitas palavras. Isso vai se prolongando até que um personagem busca romper com aquilo e deseja entender esse outro mundo. Como o filme de Teresa, esse tem muito a ver com os temas que permeiam a Europa”, observa Francesca.

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