Sempre um Papo

Navegações em família

Amyr e Marina Klink apresentam seus livros, um relato de vida e uma coletânea de imagens, respectivamente, em BH

Sex, 10/02/17 - 02h00

Após atravessar o Atlântico Sul numa embarcação a remo, narrar suas aventuras na água nos livros “Cem Dias Entre Céu e Mar” e “Paratii: Entre Dois Polos” e projetar o inovador Paratii 2, Amyr Klink virou sinônimo de navegador no Brasil. Por isso mesmo é inusitado ouvi-lo contar que sua mulher, a fotógrafa Marina Klink, conseguiu manter um veleiro escondido dentro do Paratii 2, só o revelando ao chegarem na Antártida. “Era um barquinho minúsculo, quadradinho, e ela o escondeu porque queria muito que as meninas velejassem à Antártida”, explica. “Até eu acabei velejando. E apanhei. Tive que tomar aulas com minha filha”, conta.

A história é uma das muitas compartilhadas pelo casal, que acumula 15 temporadas no continente gelado, e será um dos pontos sobre os quais Amyr e Marina Klink vão falar na segunda-feira (13), quando sobem juntos ao palco do Sempre um Papo.

Na ocasião, o navegador apresenta o livro “Não Há Tempo a Perder”, um depoimento dado à escritora e editora Isa Pessoa, cujo objetivo é desconstruir “a visão romântica” que se tem de sua carreira.

“Todos acham que tudo nasceu pronto, nasceu certo. E fiquei com vontade de explicar que sucesso é fruto de muito erros”, explica. Já Marina leva ao bate-papo seu segundo livro de fotografias,

“Antártica: Um Olhar Nômade”, com enquadramentos da presença de vida num lugar considerado deserto. “O objetivo é levar esse lugar distante e inacessível para dentro das casas das pessoas”, diz.

O livro de Marina nasceu de uma provocação do marido. Ou melhor, de uma bronca. Ela estava sentada no topo do mastro da embarcação, a 33 m de altura, quando Amyr pediu que ela descesse. Diante da recusa, ele não hesitou. “Disse que as fotografias que eu fazia não serviam para nada, que era um esforço absurdo. Eu desci. Fiquei brava, claro. Quando cheguei ao Brasil, tive uma ideia. Ele estava certo. As fotografias não serviam para nada. E tirei as fotos da gaveta e publiquei num livro”, conta Marina, se referindo a “Antártica: A Última Fronteira” (2013).

A primeira obra, fruto dessa investigação em seu arquivo, é composta de paisagens monumentais do continente. “Era a Antártida com a ausência do ser humano. Era um lugar utópico, não existia ninguém”, lembra. Já o livro que ela lança na segunda-feira é um retrato da presença do ser humano. “Meu olhar é esse. É a forma que encontrei de compartilhar minha preocupação com a preservação. Por que o lugar é tão lindo? Não é só porque é coberto de gelo. É por causa da falta de interferência do ser humano. Você não traz nada de lá, não deixa nada lá. Quem vai, volta transformado”, decreta.

“Não Há Tempo a Perder”. “O que eu mais gosto da Antártica é a experiência humana, não é a viagem, não é a beleza. É impressionante como o meio revela a pessoa. Não sou exatamente um observador do caráter humano, mas lá eu gosto muito de fazer isso”, conta Amyr Klink, conhecido por seu jeito tímido e introspectivo.

Na entrevista por telefone ao Magazine, ele salienta sua preocupação com a situação política do Brasil, com o excesso de “lamúrias” do brasileiro e com a degradação do meio ambiente. Amyr ainda explica que “o mundo ficou complicado”. “Não se pode mais ir para a Antártida sozinho”, lamenta, contando que gosta de navegar solitário, como o fez na viagem que o tornou famoso. Apesar do comentário, faz questão de frisar: “Minha paixão não é navegar necessariamente. Gosto é de viajar. Viajei de todos os jeitos, mais frequentemente de barco, mas a experiência de viajar enriquece a gente, faz a gente valorizar o que temos em casa, faz a gente trocar as experiências, muda essa visão egocêntrica, de sou brasileiro, sou maior. Fiquei conhecido pelas viajens marítimas, mas gosto de viagens em geral”.

Na obra que será lançada na segunda-feira, essa trajetória do explorador fica mais clara. Ao longo das 216 páginas da obra, ele vai revelando como superou burocracias, criou processos e lidou com os reveses da vida. “O problema é que não tem como seguir em frente hoje. E estamos num país que se acomodou. Não é possível que a gente aceite um governo ignorante, corrupto, sistematicamente. E a gente começou a achar que é normal. Não é normal”, defende.

Durante a breve conversa, ele ainda falou sobre a juventude do país. “É o drama da falta da autoestima do jovem. Ele tem acesso a todo tipo de informação. E isso explica certa indefinição, uma dúvida de como fazer, como alcançar. Ele se pauta só por mídias sociais e perde a convivência real. Eu vejo isso nos filhos dos amigos, nas minhas filhas. Ainda estamos nos lambuzando nessa tecnologia. O jovem conhece tudo sobre tudo e não sabe nada”, reflete.

O navegador ainda conta que está escrevendo seu próximo livro, que deverá ser concluído em dois anos. “Nele eu vou contar dos bastidores, da minha experiência em Paraty, sobre como decidi me meter no mundo dos barcos. E conto histórias de outras pessoas também”, finaliza.

 

Agenda

O quê. Sempre um Papo com Amyr Klink e Marina Klink
Quando. Segunda-feira (13/2), às 19h30
Onde. Auditório da Cemig (av. Barbacena 1.200, Santo Agostinho)
Quanto. Entrada gratuita

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