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Noite de gala da bossa nova

Apresentação desta sexta-feira (9) no Palácio das Artes revive histórico concerto feito no Carnegie Hall há quase seis décadas

Sex, 09/06/17 - 03h00

Uma noite em 1962, mais precisamente no dia 21 de novembro, ficou marcada na história da bossa nova, quando grandes nomes do gênero musical se apresentaram no icônico Carnegie Hall, em Nova York. Quase seis décadas depois, algumas coisas mudaram e outras permanecem. Hoje, Wanda Sá, 72; Marcos Valle, 73; Roberto Menescal, 79; Leila Pinheiro, 56; e o grupo vocal MPB4 sobem ao palco do Palácio das Artes, às 21h, para reencenar o histórico concerto.

Na ocasião, Tom Jobim, João Gilberto, Luiz Bonfá, Oscar Castro Neves e seu quarteto, Sérgio Mendes, Carlos Lyra, Chico Feitosa, Milton Banana, Sérgio Ricardo, Normando Santos, Agostinho dos Santos, Dom Um Romão, Ana Lúcia, Bola Sete e Carmen Santos, além de Wanda e Menescal, que participam do show desta sexta-feira (9), encararam uma plateia formada preponderantemente por norte-americanos, em que se destacavam músicos do jazz como Dizzy Gillespie, Gerry Mulligan, Tony Bennet, Herbie Man e Miles Davis, que afirmou, em 1972: “Só existe a música erudita europeia, a música negra americana e a música popular brasileira”.

Clássicos. Autor da canção “O Barquinho”, em parceria com Ronaldo Bôscoli, Menescal foi quem a interpretou na noite do Carnegie Hall, munido de voz e violão. No Palácio das Artes, porém, ele irá apenas tocar a música, que será cantada por Wanda Sá. “Já disse isso em livros e repito: foi a minha estreia e aposentadoria como cantor. Não me atrevo a cantá-la mais. Já não tinha voz para isso, agora, menos ainda”, brinca. Além dela, outras canções clássicas da bossa nova e que também estiverem presentes na apresentação em solo norte-americano vão integrar o repertório, como e o caso de “Chega de Saudade”, “Bim Bom”, “Samba de uma Nota Só”, “A Felicidade” e “Manhã de Carnaval”. No entanto, o espetáculo se dará liberdade para levar ao público algumas criações de outras fases do movimento, como “Bye, Bye, Brasil” e “Samba de Verão”.

Memória. “Temos o dever de manter toda a história da nossa música viva, pois a memória cultural brasileira é muito falha, e tudo o que aconteceu antes da internet precisa ser rememorado para ficar registrado”, reivindica Menescal.

Aliás, essa lacuna histórica está prestes a ser preenchida. O produtor Omar Marzagão pretende levar o espetáculo atual de volta ao Carnegie Hall, ainda em novembro deste ano, a fim de comemorar tanto os 55 anos da bossa nova quanto os 90 de nascimento do maestro Tom Jobim (1927-1994). Isso porque o único registro da noite de 21 de novembro de 1962 é um disco raro, intitulado “A Bossa Nova no Carnegie Hall”, que saiu pela gravadora norte-americana Audio Fidelity, só encontrado em sebos e que, no entanto, não traz as interpretações feitas por Jobim. “Frank Sinatra nunca gravou um álbum dedicado a um compositor norte-americano, mas gravou um dedicado ao Tom Jobim”, ressalta Menescal, referindo-se ao disco lançado pela dupla em 1967, o segundo mais vendido nos Estados Unidos à época, atrás apenas de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles. “A influência da bossa nova é mais sentida fora do país do que dentro, mas não descobri até hoje os motivos”, confessa Menescal.

Geração. Muitos não se recordam que, entre aqueles músicos tarimbados da noite do Carnegie Hall, também estava presente uma garota que iniciava a carreira. “Eu ainda era aluna de violão do Menescal e ele me chamou para ir. Não fazia parte do meu projeto ser cantora, eu apenas estava apaixonada em aprender música, cantar, compor, tocar. Foi uma noite inesquecível, porque ninguém sabia de fato como aquilo iria mudar nossas vidas. A maioria de nós ainda era muito amador, e muitos nem voltaram para o país, ficaram direto por lá e se estabeleceram”, relembra Wanda Sá.

Marcos Valle, que se considera da “chamada segunda geração da bossa nova”, pôde presenciar esse impacto causado pelo gênero alguns anos mais tarde. “Em 1967, eu fui para os Estados Unidos e o ‘Samba de Verão’ (parceria com o irmão Paulo Sérgio Valle) estava estourado nas paradas, principalmente entre os músicos de jazz, que sempre tiveram muito respeito pela qualidade melódica, harmônica e de letras da bossa nova”, identifica.

Leila Pinheiro, que se considera “filha da bossa nova”, assegura que é “inigualável a qualidade das músicas feitas por esses mestres”. “É preciso mostrar isso para as novas gerações, por isso é importante e fundamental manter a memória da nossa história viva, porque nós temos um lastro”, afirma.

No repertório

“Chega de Saudade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
“O Barquinho” (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli)
“Samba de Verão” (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle)
“Bye, Bye, Brasil” (Chico Buarque e Roberto Menescal)
“A Felicidade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
“Samba de Uma Nota Só” (Tom Jobim e Newton Mendonça)
“Manhã de Carnaval” (Antônio Maria e Luiz Bonfá)
“Bim Bom” (João Gilberto)
“Se Todos Fossem Iguais a Você” (Vinicius de Moraes e Tom)
“Garota de Ipanema” (Tom Jobim e Vinicius)

Músicos revelam lançamentos

Além de uma gravação em CD e DVD da atual turnê, os músicos participantes têm projetos paralelos que pretendem desenvolver. Menescal e Leila Pinheiro preparam um CD em dupla para esse ano. Wanda Sá lança nesse ano um disco em homenagem aos 60 anos de parceria entre Tom Jobim e Vinicius de Moraes. E Marcos Valle planeja shows no Brasil para 2018.


Agenda

O quê. Bossa Nova In Concert

Quando. Nesta sexta-feira (9), às 21h

Onde. Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro)

Quanto. R$ 160 a R$ 200 (inteira)

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