Televisão

O debut de Nany People

Atriz mineira faz sua estreia em novelas em 'O Sétimo Guardião', da Globo

Qui, 21/03/19 - 03h00

“Nunca é tarde para nada, veio na hora certa, fiz uma carreira consistente, feliz no teatro, e foi graças a isso que acabei chegando até aqui”, comemora Nany People, 53. O motivo de tanta alegria é o bom momento profissional que a atriz e humorista vive – ela, que nasceu na cidade de Machado, no Sudoeste de Minas Gerais, faz sua estreia em novelas em “O Sétimo Guardião” (Globo), interpretando o químico Marcos Paulo, que se submeteu a uma cirurgia de redesignação de sexo.

A fama para Nany chegou de uma maneira inesperada, após ela ser convidada para participar do programa de Hebe Camargo, no SBT, em 1998. Na época, ela já morava em São Paulo, onde também trabalhou como hostess de uma boate LGBT por mais de 20 anos.

O caminho até os palcos, entretanto, não foi um mar de rosas. “Tomei muita água para dormir de fome. Cheguei a São Paulo com um colchão de espuma e um sonho na cabeça. Com 13 anos fui trabalhar pra embalar condimento e já dava dinheiro em casa. Em São Paulo fui bilheteira de teatro, fui camareira da dona Nicette Bruno no teatro, garçonete no café Piu-Piu, maquiadora, fui passadeira. Chegava a passar 60 camisas no fim de semana”, relembra ela, que hoje possui no currículo trabalhos no teatro, no cinema e na televisão.

“O Sétimo Guardião”

A escalação de Nany People para a novela de Aguinaldo Silva veio após o autor e a Globo optarem por colocar uma atriz transexual – no caso, a mineira. “Este personagem, a priori, foi idealizado para ser da Renata Sorrah, e acabei sendo convocada. O pessoal acha: ‘A Nany estava em casa e o telefone tocou’. Não é bem assim. Eu fiz um teste, fui chamada para fazer um registro, mandaram uma cena, fui lá, gravei bonitinha, bem quietinha. Fui por minha conta e risco. E tem que ser uma atriz transex para dar chances a transexuais também”, conta a atriz.

Na trama, Marcos Paulo, que trabalha com a vilã Valentina (Lilia Cabral), não quis mudar o nome após a cirurgia de redesignação de sexo. Por isso, a atriz define o personagem como “transgressora”. “Ele é um químico, que respeita muito a origem da palavra. Por isso, ele bate o pé no nome. Não importa a versão que ele tenha, ele será sempre o Marcos Paulo”, explica Nany.

“Ele não fez só mudança de sexo, ele fez uma lipoescultura. A Valentina estava esperando chegar o Sinhozinho Malta e chega a viúva Porcina”, brinca a atriz, referindo-se à chegada de seu personagem na fictícia Serro Azul, onde se passa a história de “O Sétimo Guardião”.

Nany garante que foi muito bem recebida pelo elenco do folhetim da Globo. “O primeiro núcleo que gravei foi com Tony Ramos, que foi um lorde, um pai pra mim, maravilhoso, deu dicas de como aprender a contracenar com a câmera. Eles tiveram uma paciência de Jó”, disse a atriz, que nas redes sociais não poupa elogios ao ator e também a Lilia Cabral, com quem contracena na maioria das vezes. (com agências)

 

Descobertas na vida em São Paulo

Nany People conta que teve noção da sua sexualidade aos 20 anos, após se mudar para São Paulo. “Quando me descobri transexual, não sabia nem que o nome era esse. Com 10 anos, fui jogada no psiquiatra porque eu tinha disfunção social. Eu não me encaixava porque queria ter o comportamento das meninas, mas era cobrada para ter o dos meninos”, conta.

Ao contrário de Marcos Paulo, seu personagem em “O Sétimo Guardião”, Nany optou por não fazer a cirurgia de redesignação de sexo. A decisão foi tomada após um pedido de dona Yvone, mãe da atriz que faleceu em 2004. “Quando fui levada ao Hospital das Clínicas, descobri que era transexual, fiz tratamento três anos e meio. Quando foi marcada minha cirurgia, minha mãe se ajoelhou no chão e disse: ‘Não faça isso’. Achei que pra mim não era viável, e a vida me mostrou que não era necessário”, revela Nany, que diz que não se arrepende da decisão. (RL/com agências)

Trajetória

Trabalhos. Nany People já participou de vários programas de TV – em 2017, foi repórter do “Xuxa Meneghel”, na Record TV, e no ano passado foi a Lady Pepeca no humorístico “Xilindró”, do Multishow. Além de trabalhos no cinema, Nany também fez carreira no teatro. Desde 2013 ela viaja pelo país com o stand-up comedy “TsuNANY”.

 

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