Dança

O passinho risca novos chãos  

Edital de ocupação Arte no Centro leva, nesta terça, o projeto Disputa Nervosa – Duelo de Passinho à sede do grupo Espanca!

Ter, 19/04/16 - 03h00
Jovens professores. O dançarino Johnathan Dancy (primeiro à esquerda) é um dos oficineiros da oficina de passinho do Lá da Favelinha | Foto: luiza therezo/divulgação

É difícil manter-se indiferente ao funk quando as batidas começam a ecoar das caixas de som. Nesse momento, até os detratores do gênero são pegos no flagra agitando ombros e pernas. Ainda mais se, na ocasião, alguém estiver dançando por perto. Brasileiro e periférico, o funk tornou-se uma das expressões culturais de maior potência na atualidade – e o passinho tem grande responsabilidade nesse processo de aceitação. Mais que isso, a dança originária dos morros cariocas cumpre importante papel de transformação social. Não são raros os casos em que o passinho devolveu a auto-estima de jovens brasileiros em situação de vulnerabilidade social.

Em Belo Horizonte, o Disputa Nervosa – Duelo de Passinho é um desses exemplos. O projeto acontece desde o ano passado no Centro Cultural Lá da Favelinha, instalado na Vila Novo São Lucas, e ensina a linguagem do passinho a crianças e adolescentes da comunidade. Nesta terça, alguns desses alunos irão se apresentar ao público, “duelando” numa noite dedicada ao funk na sede do grupo Espanca!. O projeto foi um dos aprovados pelo edital de ocupação Arte no Centro, cujo objetivo é democratizar o acesso à arte e viabilizar iniciativas culturais não hegemônicas.

Na competição desta terça, dois jurados e o público vão avaliar os dançarinos. O vencedor levará para casa um troféu, R$ 200 em dinheiro, roupas e outros presentes oferecidos pelos espectadores. Além do duelo, se apresentará o grupo Passistas Dancy, formado pelos dançarinos que ministram a oficina no Lá da Favelinha. O evento conta, ainda, com show de MC Pablo, sucesso nas comunidades de BH, que já soma quase quatro milhões de visualizações no YouTube.

Criador e gestor do Lá da Favelinha, o rapper Kdu dos Anjos conta que, ao que tudo indica, 2016 será o ano da dança no centro cultural. “No ano passado, recebemos essa profecia. A Ana Pi, bailarina daqui de BH que está estudando na França, fez uma oficina com a gente, e começamos a mapear os dançarinos da comunidade depois disso. Ela nos ajudou a juntá-los e, depois, fomos seguindo essa missão”, conta, comentando o potencial dos jovens dançarinos. “Eles estão dançando muito. É de arrepiar. Você vê a felicidade e a realização na cara dos moleques”, diz.

Atualmente, a oficina de passinho, que é gratuita e acontece todo sábado, às 15h, leva cerca de 15 crianças e adolescentes ao Lá da Favelinha – todos menores de idade e, em maioria, negros. “Quando o ‘menor’ começa a dançar, cantar ou fazer poesia, se torna um agente multiplicador daquela ideia. Passa a frequentar a escola, a circular a cidade, a conquistar a confiança da família. É algo que vai muito além da dança”, defende Kdu dos Anjos. O artista conta que já fechou, até agora, outras seis apresentações do grupo de passinho ao longo do ano – sendo as próximas em um projeto cultural para executivos, onde os dançarinos ensinarão os engravatados a riscar o chão; e no projeto Sesi Bonecos do Mundo, em que os passistas participarão junto ao grupo teatral Giramundo.

Para Johnathan Dancy, um dos oficineiros do projeto, as aulas de passinho são uma maneira mais didática de aprender a dança. “A maioria de nós aprendeu a dançar vendo vídeos na internet. Mas têm muitos movimentos difíceis, como os de jogada de perna, que são complicados de aprender sem alguém por perto. Com um professor isso fica mais fácil”, afirma o mineiro, de 19 anos, que foi um dos dançarinos que ensinaram o passinho a integrantes do Ballet Jovem do Palácio das Artes, em novembro do ano passado. “Acho importante mostrar o passinho para as classes mais altas. É uma cultura muito bacana. Uma dança que mistura vários estilos, como capoeira, samba, break, frevo”, afirma.

O rapper Kdu dos Anjos, que dará uma canja no show de MC Pablo, espera que o projeto deslanche cada vez mais nos próximos tempos. “Nossa ideia é circular com os dançarinos por outras ‘quebradas’, rodar a cidade. Ajudá-los a conhecer outras danças, a gravar seus vídeos, a se profissionalizar”, conclui.

Programe-se

O QUÊ. Arte no Centro apresenta Disputa Nervosa – Duelo de Passinho

QUANDO. Nesta terça, às 19h

ONDE. Sede do grupo Espanca! (rua Aarão Reis, 542, centro)

QUANTO. Entrada franca

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