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Ofício mais vivo que nunca 

Em “Webtelejornalismo”, jornalista e pesquisadora Letícia Renault investiga a transição do telejornalismo para a web

Qua, 29/10/14 - 03h00
Carreira. Depois de passar 25 anos atuando como repórter de TV, Leticia Renault reflete sobre o telejornalismo agora como pesquisadora | Foto: E-Papers

Repórter da rede Globo em Uberlândia, da Alterosa em Belo Horizonte e da Band em Brasília por muitos anos, a jornalista Letícia Renault migrou para o universo acadêmico já há algum tempo. Mas seu foco e sua preocupação com o telejornalismo foram junto. “O telejornal é a informação de mais fácil acesso, que não custa nada e continua sendo um dos principais bens de referência e consumo simbólico da sociedade brasileira”, argumenta a jornalista.

Na tese de doutorado que ela defendeu no ano passado na Universidade Federal de Brasília (UnB), Renault investigou a migração do conteúdo dos principais telejornais brasileiros para a internet. O resultado dessa pesquisa pode ser conferido no livro “Webtelejornalimo”, que vai ser lançado amanhã, na Quixote, às 18h.

“Busquei entender como o telejornalismo sai do vídeo da TV, que é um fluxo, e se restabelece no ambiente da internet, de conexão, disperso, com vários braços que você pode pegar onde quiser”, explica a autora.

O exemplo mais concreto dessa transposição são os sites dos telejornais. Eles se tornaram o objeto da pesquisa de Renault, que passou a se referir a eles como “webtelejornalismo”, termo que viria batizar seu livro. Para o recorte da tese, ela trabalhou com as páginas do “Jornal Nacional”, “Jornal da Band”, “Jornal da Record” e o “Jornal da Globo”, acompanhando seus conteúdos até o ano de 2012.

E para a autora, as conclusões a respeito da sobrevida da prática que ela realizou por 25 anos foram muito boas. “O telejornalismo não vai sobreviver, ele já sobreviveu”, afirma Renault. Ao contrário do impresso, que entrou em crise ao competir com a vastidão do conteúdo multimídia oferecido pelos veículos online, a pesquisadora argumenta que o telejornal sempre foi multimídia por natureza. “Ele já trabalhava associando texto e linguagem audiovisual, que é o que domina a internet hoje”, analisa.

O que a migração do conteúdo dos telejornais para a web traz, segundo a autora, é um fortalecimento da reportagem. “O público não vai agora atrás do âncora, do canal ou do horário. Ele abre o vídeo da matéria porque é ela que lhe interessa”, explica. Antes, a reportagem era exibida uma vez e morria logo depois disso. “Agora, ela continua viva no computador, em smartphones, em várias telas. E esses catálogos online resolveram um outro problema da TV brasileira: os 50 anos de arquivos de imagem que ainda são de muito difícil acesso”, avalia a autora.

E com o internauta sendo bem menos passivo que o espectador da TV, ele quer comentar, sugerir, pautar. Esse diálogo é estabelecido com o repórter, e Renault acredita que é para esse novo ambiente que o telejornalismo precisa ainda se reconfigurar. “Eu fui repórter por anos, apurava, escrevia, mas nunca tive que fazer imagem. Hoje, meus alunos têm que sair da faculdade sabendo operar câmera de celular, editar, postar”, reflete.

Essa ideia de que vídeos com valor-notícia podem ser feitos por qualquer pessoa com um smartphone ou uma câmera na mão é a grande transformação para o modelo tradicional do telejornalismo, que perde a “hegemonia da imagem”. “Não por acaso, minha pesquisa já caminhou para um novo foco, que não está no livro, que é a apropriação da linguagem telejornalística por outros meios, como os sites da ‘Veja’, da ‘Folha de S.Paulo’ e do ‘Estadão’, produzindo vídeos para competir com os portais e com a TV”, adianta Renault.

Nesse admirável novo mundo, em que um caos informativo disputa a atenção de um público altamente disperso e volátil, a pesquisadora acredita que alguns veículos têm tirado mais proveito das possibilidades apresentadas pela rede do que outros. Ela cita como exemplo a Band, que já passou a exibir seu jornal ao vivo simultaneamente na web e na televisão. “A Globo e a Record ainda vivem esse sonho de que a TV é o principal meio e a internet vem depois”, comenta.

Programe-se

O quê. Lançamento do livro “Webtelejornalismo”, de Letícia Renault, editora e-papers, 250 páginas, R$ 38

Quando. Amanhã, das 18h às 21h

Onde. Livraria Quixote – rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi 

Quanto. Entrada franca

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