Folk

Outra viagem ao fantástico mundo do cantor Kurt Vile

Compositor norte americano solta álbum depois de dois anos e segue colecionando acertos

Seg, 15/07/13 - 03h00
Kurt Vile é um dos nomes mais interessantes do rock atual, mesclando baladas folk com camadas de puro psicodelismo | Foto: MATADOR/DIVULGAÇÃO

Kurt Vile é um destes achados que, por sorte, encontram sua prateleira no confuso mercado de música atual. Mais do que isso, é quase um pequeno milagre que um autêntico doidão (sua banda anterior se chamava ironicamente, The War on Drugs, em tradução livre, “a guerra contra as drogas”), que saiu da Filadélfia munido de canções tão belas quanto simples, beliscou a parada de sucessos, além de ter ganho o clamor da crítica especializada.


Se o genial Gram Parsons cunhou a expressão “Cosmic American Music” para definir sua música, nos anos 1970, a chancela veste com perfeição a música de Vile: são pequenos artefatos psicodélicos, mas com a delicadeza das grandes canções folk. Dá para imaginar que ele é o tipo de sujeito que ficava em casa gravando o som do mesmo dedilhado de violão por horas a fio, motivado por algo que seus pais não sabiam que ele carregava em seu bolso.

Mesmo que, no novo álbum, ele cante “Às vezes, quando estou na minha área, você iria pensar que estou chapado/Mas, como eles dizem, eu nunca mexi com essas coisas” (em “Golden Tone”), seu trabalho tem um indiscutível verniz de experiências sensoriais motivadas pelo uso de drogas.

Vile apresenta um tino melódico impressionante, onde, por baixo de toda a argamassa indie, se encontra, sem pudores, sólidos tijolos pop, um Tom Petty aqui, um Waterboys acolá e, acima de todos, Lou Reed, se este não estivesse tão preocupado em soar cínico, antes mesmo de cantar. Antes de qualquer coisa, trata-se de um grande compositor, capaz de tecer canções narcotizantes, daquelas que grudam no HD mental. As gravações simples, sem requintes, apenas adicionam um charme ao currículo do rapaz.

Seu passaporte para o sucesso foi o disco anterior, o belíssimo “Smoke Rings in My Halo”, lançado em 2011. Ali, revelou em dez músicas seu grande segredo: mediar as ambiências tortas de suas canções com dedilhados hipnóticos de violão e vocais entorpecentes, onde a repetição dá o tom. De tanta circularidade, o ouvinte sai com pequenos mantras, muito aderentes, e bem chapado.

O mais interessante de “Waking on a Pretty Daze” (Gravadora Matador Records), seu novo álbum, talvez seja o desapego de Vile quanto a tudo isso, e a mão firme que ele mantém em suas escolhas. Seria possível imaginar que, depois de tanta bajulação, ele limparia seu som, cortaria seu cabelo, arrumaria uma banda melhor.

Mas não: ele segue sua trilha à margem e comete mais um ótimo trabalho, repleto de climas e nuances. Coleciona épicos de bolso, como a faixa título, “Too Hard”, e “Goldtone”, além de belezas inquestionáveis como “Pure Pain” e a ótima “Shame Chamber”. Um disco livre e solto, imperdível para os dias que correm.

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