Literatura

Padura revê sua obra na Flip 

Escritor cubano, autor do celebrado “O Homem que Amava os Cachorros”, integra mesa hoje no evento literário

Dom, 05/07/15 - 03h00
Separadas. Padura diz que procura manter sua literatura longe da política, que pode ser “traidora” | Foto: ADALBERTO ROQUE

Paraty, RJ. O cubano Leonardo Padura enxerga fantasmas nas ruas de Havana. “Cuba perdeu pessoas queridas e lugares emblemáticos”, diz o escritor, e lhe deixou com a sensação de que uma maldição persegue seus conterrâneos. “É como se não pudéssemos estar em lugar algum. É dolorido”, afirma Padura, 60, autor de “O Homem que Amava os Cachorros” (ed. Boitempo, R$ 49, 592 págs.). Os comentários de Padura sobre Cuba são assim, sutis, falando da situação política por alto.

Críticos de sua obra dizem que ele se omite em relação ao regime castrista. Os admiradores, porém, veem em sua postura certa sabedoria, de quem consegue dosar exatamente as análises possíveis num regime que censura opiniões. “Acho que, dos intelectuais cubanos, possivelmente sou o que mais fala. Tudo o que se pode dizer eu já disse”, defende-se. Padura se apresenta hoje na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Em entrevistas, deixa claro que não gosta que lhe questionem sobre política, que, diz, não é boa companheira da literatura. “A política pode acabar traindo a literatura”, afirma. “Se tenho a opção de manter a literatura distante da política, o faço. Isso não significa que não possa haver leituras políticas sobre minha obra”.

Diz que a última notícia da reaproximação entre os Estados Unidos e seu país de origem, a abertura de embaixadas nos dois locais, em julho, é importante e histórica, mas ainda não mudará de imediato o cotidiano dos cubanos. O dia a dia na ilha é o pano de fundo de seus romances.

Na Flip, o autor não tem como escapar de comentar “O Homem que Amava os Cachorros”, livro que narra a história de Leon Trotski e seu assassino, Ramón Mercader. No Brasil, a obra vendeu 50 mil exemplares, de acordo com a editora Boitempo, e foi recomendada pela presidente Dilma, com quem Padura almoçou no Palácio da Alvorada em 2014.

Em Cuba, foram vendidas 8.000 cópias, segundo o autor. Padura também deve comentar “Hereges” (Boitempo), romance sobre refugiados judeus em Cuba que será lançado no Brasil em setembro. A sensação fantasmagórica em Cuba, provocada pelas decisões de amigos e familiares de deixarem o país, é recorrente na obra do autor.

Em uma história de “Aquello Estaba Deseando Ocurrir” (aquilo estava desejando acontecer), livro que reúne contos escritos entre 1985 e 2009, um personagem lamenta os efeitos irreversíveis causados por um amigo que deixou Cuba dez anos antes. Em outro conto, o protagonista admite ser mutilado por tubarões só para reencontrar, na Flórida, a mulher que lhe deu a melhor noite de prazer em Havana. A obra deve ser lançada no Brasil em 2016 também pela Boitempo.

Compõe a mesa de hoje com Leonardo Padura a escritora britânica Sophie Hannah, renomada autora de romances policiais, que vai falar sobre o gênero.

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