Cinema

Paixão pelo horror 

Mostra Medo e Delírio no Cinema Contemporâneo tem início amanhã no Cine Humberto Mauro

Qui, 23/10/14 - 03h00

Geralmente associada à quase folclórica figura de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, a produção brasileira de filmes de terror é tratada sob um olhar bem mais ampliado pela mostra Medo e Delírio no Cinema Contemporâneo, que tem início amanhã no Cine Humberto Mauro. Ao combinar títulos declaradamente filiados ao terror e outros que apenas se apropriam de alguns dos seus elementos, a seleção realizada pelo pesquisador e crítico de cinema Marcelo Miranda promete um rico panorama sobre o gênero ao longo dos últimos 20 anos.

Kleber Mendonça Filho, Andrucha Waddington, Kiko Goifman e Nelson Pereira dos Santos são apenas alguns dos cineastas reunidos pela programação da mostra, que agrega 39 produções nacionais divididas em duas ou três sessões diárias que se estendem até o próximo dia 2 de novembro – coincidentemente ou não, Dia dos Mortos.

“Apesar de ter sido muito popular nos anos 1960 e 1970, o cinema brasileiro de terror é, hoje, muito pouco visto e conhecido. Entendo isso como um reflexo do momento em que houve a retomada da produção nacional, em 1994, e os cineastas precisavam se legitimar diante da sociedade, tratando de temas considerados nobres, como nossas várias mazelas sociais. A maior parte das atenções acabaram se voltando a uma produção mais realista e social, deixando em segundo plano o que escapava dessa lógica”, contextualiza o curador Marcelo Miranda.

“Por essas e outras, há uma série de filmes recentes que passaram um tanto desapercebidos pelo grande público, assim como outros que permaneceram quase inéditos”, observa o crítico, para em seguida apresentar algumas possibilidades de aproximação entre os filmes que integram a mostra. “Em linhas gerais, é um gênero que lida com a violência e as feiúras humanas, sem medo de explorar os limites das sensações dos personagens – e, em certo sentido, também dos espectadores”, resume.

Suspense, humor e crítica social são apontados pelo curador como alguns traços que, ao longo da mostra, se misturam aos elementos do terror, oferecendo ao público diferentes tipos de experiência ante a programação.

Para a abertura oficial do evento, entretanto, Miranda optou por duas obras mais ortodoxas: o curta “Sexta-feira da Paixão” (2014), do mineiro Ivo Costa, e “Encarnação do Demônio” (2008), do fundador José Mojica Marins. Enquanto o primeiro tem como ponto de partida um típico “causo” do interior de Minas, o segundo encerra a saga de Zé do Caixão, coveiro interpretado por Mojica desde a década de 1960. “Como os dois primeiros longas dessa trilogia foram produzidos em 1963 e 1967, esse filme acaba conectando duas fases muito interessantes do cinema de horror no país”, pontua.

Tão interessado na exibição dos filmes quanto nas reflexões que as obras são capazes de despertar em relação às apropriações tupiniquins de um gênero de tradição principalmente estadunidense, Miranda chama atenção a duas palestras e um debate que, na próxima semana, se realizam na mesma sala Humberto Mauro.

“Esperamos, com isso, contribuir para que os filmes de terror voltem a ser mais vistos e mais problematizados, pois esse é um gênero que permite muita criatividade aos seus criadores”, defende. Entre os convidados para essas atividades, estão os pesquisadores Carlos Primati, Rodrigo Carreiro e Laura Cánepa, assim como as diretoras e roteiristas Julia Rojas e Gabriela Amaral Almeida – ambas com obras incluídas na programação da mostra.

Apaixonado pelo estilo e confiante na força que o mesmo vêm ganhando na produção nacional, Miranda celebra o fato de que um dos nomes mais comentados do cinema nacional, o pernambucano Kleber Mendonça Filho – de “O Som ao Redor” – já assumiu o horror como gênero do seu próximo longa-metragem, “Bacurau”.

Agenda

O quê. Mostra Medo e Delírio no Cinema Contemporâneo

Quando. De amanhã a 2 de novembro

Onde. Cine Humberto Mauro (av. Afonso Pena, 1.537, centro)

Quanto. Entrada gratuita

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