FIT-BH

Para cantar o amor sertanejo 

A anunciada diversidade de linguagens do festival se comprova com a presença de um musical na programação

Por gustavo rocha
Publicado em 16 de maio de 2014 | 03:00
 
 
Autoral. Companhia Cênica, de São José do Rio Preto/SP, se notabiliza por escrever a própria dramaturgia de seus espetáculos ESTEVAM COLLAR DIVULGAÇÃO

O termo sertanejo, você deve desconfiar, diz respeito àquele que vem do sertão. Assim, a música desse estilo, em sua gênese, representa as narrativas, o ambiente, as mazelas, as paixões do povo que vive nesse local específico. Bem diferente do fenômeno que a transformaria em música pop, no fim dos anos 1980, com o boom de duplas sertanejas como Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo & Luciano e Chitãozinho e Xororó.

Pois, ao resgatar vida e obra da dupla Cascatinha e Inhana – que fizeram sucesso a partir do fim dos anos 1950 –, o musical “Sabiás do Sertão – Teatro Musical Brasileiro”, da Companhia Cênica, busca não só a memória da música sertaneja como também reminiscências do lugar de onde vem: São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. O espetáculo é atração dentro da programação do Festival Internacional de Teatro e Rua (FIT-BH).

“Temos por vocação falar de nossa região, de nossa gente, encontramos na obra deles uma possibilidade de falar disso”, revela Fagner Rodrigues, integrante do coletivo. Cascatinha e Inhana eram casados e formaram a primeira dupla sertaneja, que se tenha notícia, formada por marido e mulher. “Contamos uma história de amor”, adianta Fagner. A dupla, antes de fazer sucesso, se apresentava nos circos da região de São José. “Eles são de um tempo em que quem cantava no circo, utilizava apenas a voz e o microfone”, ressalta o artista.

O musical apresenta justamente os bastidores de uma apresentação de circo e seu repertório é composto por toadas, guarânias, rasqueados, boleros, rancheiras, além de sucessos imortalizados nas vozes da dupla, como “Índia” e “Colcha de Retalho”. “Esse espetáculo proporciona experiências diferentes para pessoas de diferentes faixas etárias. Os mais velhos se identificam e sabem cantar as músicas, já os mais novos ficam surpresos que certas músicas sejam da dupla. A verdade é que fazemos um resgate histórico: eles estavam bastante esquecidos”, destaca.

A dramaturgia, assinada por Carla Roncati, é autoral – uma das características da Cia. Cênica. “Optamos por uma estrutura narrativa que não fosse tão atrelada aos fatos. Há uma fábula que contamos a partir das canções deles e também de fatos”, acrescenta Rodrigues.

A novidade para a trupe é a presença de Luiz Carlos Laranjeiras, diretor geral do espetáculo ao lado de Rodrigues. “É a primeira vez que tivemos uma pessoa externa dirigindo o grupo, e o Luiz é um mestre da cultura popular que nos ajudou muito”, avalia.

Nostalgia? Embora essa viagem ao passado possa ter o seu “quê” de nostalgia, o artista garante que – como a narrativa se passa no presente, contando uma história do passado – o retrato daqueles artistas do passado remetem a eles: artistas do presente. “Nós também vivemos na corda bamba. Essa vida de artista é muito instável. Se antes a dupla se dividia entre o circo, o rádio e a TV, hoje, nós fazemos malabarismo com esses vários editais”, avalia Fagner.

Magazine Viu

O quadro da independência do município é falso e trocá-lo pode abalar as estruturas da política local. Com tal mote, a Cia. do Chá abre caminhos de debate crítico sobre política e arte em “S/ Título, Óleo sobre Tela”. A questão que se coloca à encenação, porém, é o que fazer com tantas ramificações. O texto de Sara Pinheiro fervilha em imagens, poesia e referências – e não se aprofunda. Não deixa de ser próprio da sensibilidade contemporânea uma experiência que é plural, horizontal e ligeira.

A direção de Gustavo Bones e Mariana Maioline escolhe pesar sobre o viés político, tentando ampliar a densidade de algo que está no texto, e passa menos detidamente por outras questões presentes. A discussão estética é aspecto menos explorado. Cenário e alguns figurinos remetem ao passado da arte figurativa, enquanto as vestes da personagem de Sara se tingem como arte abstrata (aquela que prioriza relações formais). Há mais latente em “S/Título” do que se vê. Um maior diálogo entre texto e cena podem revelá-lo. (Luciana Romagnolli)