Gastronomia

Para saborear a cultura árabe

Com entrada gratuita, primeira edição do Festival de Comida e Cultura Sírio-Libanesa será realizada neste sábado (21) na Savassi

Sáb, 21/04/18 - 03h00

Uma das culinárias mais famosas e populares em todo o mundo, a sírio-libanesa é repleta de aromas, temperos, especiarias e ervas. Comer bem e servir bem os convidados é expressão de generosidade e de boas-vindas no mundo árabe. Não por acaso as refeições das famílias sírio-libanesas costumam se tornar grandes eventos. Acomodados em seus lugares, pai, mãe e filhos – e os convidados – trocam ideias, dividem seus anseios e expõem seus pontos de vista sobre diferentes assuntos.

Quem quer conhecer um pouco mais dessa rica gastronomia tem uma ótima oportunidade com o 1º Festival de Comida e Cultura Sírio-Libanesa, que acontece neste sábado (21), na Savassi. Como bons anfitriões, os organizadores abrem a “casa” não apenas para a comunidade sírio-libanesa, mas para qualquer pessoa interessada em conhecer mais de perto a cultura árabe. “A mesa sírio-libanesa sempre foi local de encontro da família. Não tenho mais pai nem mãe, mas sempre nos encontrávamos para trocar ideias. E o evento tem esse foco”, afirma Emir Cadar, cônsul da Síria na capital.

O ponto alto, como é de se imaginar, é mesmo a gastronomia, mas o festival ainda reúne outras tradições, que incluem apresentações de música e de dança, além de barraca com artesanato. “Haverá aulas de dança para quem quiser aprender e conhecer música árabe. As canções são muito variadas: tem desde os tipos mais chorosos até aqueles bem alegres”, destaca Cadar.

Na barraca de artesanato, o público poderá adquirir mosaicos árabes, toalhas de mesas, vestimentas e porta-canetas, tudo feito manualmente. “O artesanato árabe tem muitas peças de madeira, pedras coloridas e a presença de madrepérola. Os panos de mesa, geralmente, são todos bordados com ouro e prata”, adianta Michele Madi, que está à frente do Vila Árabe, um dos restaurantes participantes do festival.

O evento ainda contará com um espaço kids, montado no colégio Santo Antônio, com uma estrutura de brinquedos.

Gastronomia. A explosão de sabores típica da comida sírio-libanesa marcará presença nas barracas de comidas e bebidas. Dentre as opções disponíveis, estão quibe, esfirra, “shawarma” (sanduíche feito com fatias finas de carne ou frango, que são assados num espeto vertical, e servidos dentro do pão árabe, juntamente com pepino em conserva, tomate, cebola, coalhada seca ou pasta de alho e até batatas fritas), espetinhos de kafta, falafel, porções de pastas, como a de grão de bico e coalhada, além de mais de 40 tipos de doces, como mamoul, burma e baclava, todos típicos.

Participam do festival restaurantes como Vila Árabe, Baity Delícias Árabes, Ricardo Hamdan Cozinha Árabe, Síria Gourmet, Istambul Panificações, Alcici Comida Árabe, Tenda do Sheik e Wadad, além da Árabica Lanchonete, de propriedade de dois irmãos refugiados. “A culinária árabe tem atingido um público vegetariano e vegano muito grande. Temos pratos que atendem essas pessoas, como bolinhos feitos de grão de bico”, observa Michele.

À frente do Abbas Empório Árabe, Mohamad Abbas comenta que a presença de especiarias e temperos é o que marca a gastronomia árabe. “É uma comida que deixa rastro”, pontua. Na barraca dele, serão vendidos, dentre outros pratos, quibe cru, apontado por ele como carro-chefe do restaurante.

O festival é uma realização do Consulado da República Árabe da Síria de Minas Gerais em parceria com a Câmara de Comércio Líbano-Brasileira de Minas Gerais. A entrada é gratuita, mediante doação de 1 kg de alimento não perecível, que será destinado à Associação de Proteção aos Pobres e Carentes (Assopoc).

 

Festival serve como ponto de apoio para refugiados sírios

Emir Cadar explica que tanto o consulado como a Câmara de Comércio Líbano-Brasileira tomaram cuidado para que o festival não fosse realizado durante período de grandes conflitos na Síria, país em guerra desde 2011. “Ultimamente, achávamos que a guerra estaria chegando ao fim. Mas, infelizmente, ocorreu que os Estados Unidos bombardearam a Síria”, lamenta Cadar. 

O festival, portanto, adquiriu novos contornos: ser ponto de apoio para refugiados que moram em Belo Horizonte. Desde quando a guerra começou, cerca de 1.500 pessoas vieram para o Brasil, das quais 250 estabeleceram residência em Belo Horizonte. A maioria dos refugiados veio de Homs, cidade a Oeste da Síria duramente atingida pela guerra. Atualmente, muitos deles mudaram-se da capital para São Paulo e para cidades dos Estados Unidos, conforme detecta Cadar. Mas grande parte ainda continua morando aqui, trabalhando com gastronomia.

“O nível de escolaridade dos refugiados é alto, muitos deles são médicos ou engenheiros. Mas, como não conseguiram emprego aqui, eles partiram para a culinária e abriram várias lanchonetes. Esse foi um dos motivos que nos incentivou a fazer o festival”, diz.

Presença sírio-libanesa em Belo Horizonte

A colônia sírio-libanesa começou a ser formada no Brasil no ano de 1900. “A comunidade sírio-libanesa era muito subjugada durante o Império Otomano. Nessa época, crianças com 11 anos já deveriam se alistar no exército. Então, os pais estimulavam seus filhos a ir para fora”, explica. Atualmente, São Paulo é a cidade que mais abriga essa comunidade, mas BH também concentra grande boa parte dela, bem como Juiz de Fora e Uberlândia.

 

Agenda

O quê. 1º Festival de Comida e Cultura Sírio-Libanesa

Quando. De 10h às 18h

Onde. Rua Santa Rita Durão, no quarteirão entre ruas Pernambuco e Alagoas, Savassi

Quanto. Gratuito, mediante entrega de 1 kg de alimento não perecível

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