Lançamento

‘Pecado Capital’ sai em DVD 

Marco da teledramaturgia, novela de 1975 é considerada a melhor de Janete Clair por adotar um tom realista

Seg, 28/07/14 - 03h00
Memória. Betty Faria e Francisco Cuoco estrelaram a primeira versão nos papéis de Lucinha e Carlão | Foto: Globo/divulgação

SÃO PAULO - Betty Faria lembra até hoje do choque que teve ao ver “Roque Santeiro” ser impedida de ir ao ar pela ditadura. Com a interrupção de seu trabalho como a viúva Porcina, coube a ela encarar a suburbana Lucinha em “Pecado Capital”, novela criada às pressas por Janete Clair e que sai agora em uma caixa com dez DVDs. “Foi um estranhamento total, porque eu já havia gravado 30 capítulos de outra obra”, comenta. 

Seu par romântico na trama, Francisco Cuoco, também lamentou perder o papel de Roque Santeiro no folhetim de Dias Gomes, mas diz ter gostado de fazer um tipo popular, o taxista Carlão.

Acontece que a substituta de “Roque Santeiro” acabou se tornando um marco da teledramaturgia brasileira. “Ela é considerada pela crítica a melhor (novela) de Janete Clair porque é nela que a autora adota o realismo”, diz o pesquisador Nilson Xavier, autor do “Almanaque da Teledramaturgia Brasileira”. “Até então, Janete era criticada pelas tramas rocambolescas e muito fora da realidade”, completa.

Segundo o pesquisador, a direção de Daniel Filho foi fundamental. Foi dele a ideia ousada de matar o protagonista Carlão, um taxista que vive um dilema moral depois de encontrar em seu carro uma mala de dinheiro, fruto de um roubo a banco. Além da vida, Carlão também perde a noiva Lucinha para o rico Salviano Lisboa, vivido pelo ator Lima Duarte.

“O Daniel (Filho) queria as coisas muito perto da realidade. Ele pedia para a Betty, ao fazer café, que fervesse a água e deixasse a gente sentir o cheiro”, lembra Cuoco. O gingado de seu personagem também nasceu de uma orientação do diretor. “Ele dizia para eu andar como se estivesse subindo uma ladeira”, conta.

Sem glamour. “Com o Daniel, não havia glamour. Ele não aceitava personagem acordar de maquiagem”, lembra aos risos Betty, que era casada com o diretor.

No elenco da próxima novela das 18h da Globo, “Boogie Oogie”, junto de Betty, Cuoco diz que gravar “Pecado Capital” era bem diferente de hoje. Havia intimidade maior com o elenco reduzido e sobrava até tempo para um carteado.

“A gente ia para a rua mesmo, não tinha cidade cenográfica, era tudo mais difícil. Hoje é um luxo gravar no Projac. Imagina! Na externa a gente ia pro pau. Eu fico até sem graça quando vejo atores jovens reclamando”, diz Betty. “Era uma vida bem dura”.

“Pecado Capital” ganhou um remake em 1998, com Eduardo Moscovis e Carolina Ferraz nas peles de Carlão e Lucinha. Francisco Cuoco voltou à trama nessa segunda versão, reescrita por Glória Perez e dirigida por Wolf Maya, como Salviano Lisboa. Betty Faria e Lima Duarte fizeram participações especial. O final, no entanto, foi modificado.


Agenda

O Quê. DVD “Pecado Capital”, direção de Daniel Filho. Som Livre. R$ 164,90.

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