“The Walking Dead”

Personagens demais afastam o público

Personagens demais afastam o público

Qua, 07/12/16 - 02h00

“The Walking Dead” mostra, há sete anos, as peripécias de um pequeno grupo de sobreviventes do apocalipse zumbi. Agora, porém, a maior ameaça a Rick, Michonne, Maggie & Cia. não é o vilão Negan: é a audiência. Depois de guardar por meses um dos maiores segredos da televisão – o famoso “quem morreu?” –, “TWD” estreou esta sétima temporada com 17 milhões de espectadores, segundo episódio mais assistido de sua história (o recorde é de 17,2 milhões na quinta temporada). No Brasil, a estreia teve 3,3 pontos, segundo o próprio canal Fox: isso significa a maior audiência da TV paga no dia, e a segunda maior da TV como um todo. De lá para cá, porém, foi só morro abaixo.

É mais ou menos como passar de um champanhe de  2.000 para um de “apenas” R$ 500. Para a maioria, a segunda opção seria luxo. Mas para paladar – e bolso – mais requintado, tem gosto de fracasso. A audiência caiu para 12,5 milhões no segundo episódio e chegou a 10,4 no sexto – a mais baixa em quatro anos. Convenhamos, 10 milhões de pessoas não é nada mal, em tratando-se de praticamente qualquer outro show. Mas, para “The Walking Dead”… isso acende um alerta, mesmo que a Fox não admita e afirme que, no portfólio do canal na América Latina, a série continua batendo recordes.

Talvez o maior erro do roteiro tenha sido expandir demais o número de personagens, espalhando o grupo principal em locais diferentes e dando aos secundários mais espaço do que merecem. É pedir demais ao público que receba bem 40 e tantos minutos de uma história centrada numa personagem cujo nome, àquela altura, quase ninguém se lembrava.

Depois de anos “carinhando” personagens que a gente conhece, gosta ou detesta, chora junto, dá aquela sensação de que estamos vendo estranhos na tela, no lugar que nossos heróis deveriam ocupar. Pode até ser que estejam construindo um cenário para novos choques ou um final apoteótico no próximo domingo, último antes da pausa de meio de temporada. Mas o público, entediado, não está com paciência para acompanhar essa obra tijolo a tijolo.

Em pesquisa online do site tvline.com, mais de metade dos entrevistados disse que a série foi longe demais com a violência explícita nas mortes da estreia desta sétima temporada, e mais de 40% disseram que iam parar de ver. Pelo jeito, estavam falando sério. O pior é que, se esses dois motivos para a perda de audiência se confirmarem, criam um círculo vicioso: o único jeito de eliminar esse monte de personagens zero à esquerda é matando todo mundo, o que aumenta a dose de violência, que vai aumentar a rejeição, e assim por diante. Mas focar em personagens-chave e lhes dar a chance de se desenvolverem, como nos primeiros anos da série, pode ser o caminho da salvação. Especialmente levando-se em conta que há mais temporadas pela frente.

Jeffrey Dean Morgan foi a escolha perfeita para interpretar Negan, o melhor vilão que “The Walking Dead” já teve. Mesmo quando não está em cena, os demais se encarregam de repetir a mensagem: agora, é ele quem manda. Ele encarna a resposta para todas as questões morais dos anos iniciais da série: no fim do mundo, só o mal prevalece. Seu complexo de deus autoproclamado, que se diverte em humilhar, torturar e matar, faz dele o personagem mais interessante do ano, mas pode estar sendo demais para a audiência. O público até tolera crânios zumbis partidos ao meio, mas de pessoas queridas, pelo jeito, não.


Ator pode sair ‘antes da hora’

Se “The Walking Dead” tem um deuteragonista – aquele papel secundário, em oposição ao protagonista –, é Carl, vivido por Chandler Riggs. Nos quadrinhos, continua firme e forte. Mas, na TV, seu futuro é incerto. O ator passou na faculdade e, segundo seu pai, pode deixar a série, que o cansa demais. “Gosto de fazer coisas normais. Ir para a faculdade seria maravilhoso. Talvez eu possa fazer algumas aulas a distância... mas ainda não sei como vai funcionar”, disse. (IM) 

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