Luto

Piza morre aos 89 em Paris

Artista plástico, que vivia na França desde a década de 50, se consagrou internacionalmente pelas gravuras e relevos

Sáb, 27/05/17 - 03h00

SÃO PAULO. O artista plástico Arthur Luiz Piza morreu, na última sexta-feira (26),  aos 89 anos, em decorrência de uma doença hematológica. Piza estava internado havia 20 dias em um hospital de Paris, cidade em que vivia desde 1951. O artista expôs na 1º Bienal Internacional de São Paulo em 1951 e, após a mostra, mudou-se para Paris. Na Europa, começou a aperfeiçoar sua técnica de gravura. Assim, ganhou destaque nas bienais em solo paulistano, como em 1953, quando recebeu o Prêmio Aquisição, e em 1959, quando ganhou o Prêmio Nacional de Gravura.

Sua formação artística foi marcada pela influência de dois mentores: o pintor Antonio Gomide (1895- 1967), com quem aprendeu pintura e afresco e o polonês Johnny Friedlaender (1912- 1992), cujo ateliê em Paris lhe serviu de laboratório para seus estudos de gravura. Inspirado pelo surrealismo,
Piza se consagrou internacionalmente por meio de suas gravuras e relevos. “Ele introduziu a questão do relevo de forma muito original na Europa. Em termos de técnicas de gravura, foi considerado um dos maiores gravadores da segunda metade do século XX”, afirmou o crítico de arte Paulo Sérgio Duarte.

Segundo Duarte, as obras de Piza travavam um intenso diálogo com a produção do escultor construtivista Sergio Camargo (1930- 1990), cujos relevos também ganharam notoriedade. Ambas as obras se influenciavam reciprocamente, num ciclo virtuoso. “Eu comecei pintando, e era atraído por esse lado da gravura”, disse Piza, em 2015. “Conhecia as de Goya e Rembrandt e acho que, inconscientemente, tinha essa coisa de poder fazer (arte) para mais gente ver”, disse o artista, sobre a possibilidade de reproduzir até 99 vezes cada gravura. Piza, que também fez aquarelas e colagens, mantinha seu repertório em estado de renovação contínua.

Além da relevante produção artística, Piza também teve papel importante na rede de solidariedade a exilados brasileiros que buscaram abrigo em Paris após o golpe militar de 1964. Clélia (Piza, sua mulher) e ele os ajudavam a conseguir empregos, os colocavam em contato com outras pessoas, diz Rosa Freire d'Aguiar, jornalista e amiga do casal. Ele deixa a mulher, Clélia Piza. Não teve filhos.

 

Galeria

Artista tem obras expostas em BH 

Murilo Castro, proprietário da galeria de mesmo nome que atualmente expõe uma mostra com obras do artista, em Belo Horizonte, lamenta a morte de Piza. Antes de 2017, ele já havia feito outras duas mostras, em 2013 e 2005, centradas nas criações do paulistano. “A exposição de 2005 foi maravilhosa e foi ela que abriu a nossa amizade. A que está em cartaz agora era para ter sido inaugurada no ano passado. Foi ele quem me pediu para adiar, porque estava planejando vir ao Brasil em 2017”, conta Castro.
 
O galerista ressalta que Piza concebeu uma poética fortemente ancorada na experimentação. “Ele desenvolveu uma obra com uma honestidade, uma linguagem própria e uma criatividade fantástica. Era alguém que estava sempre andando para frente e nunca refazia nada”. 
 
Para Castro, os trabalhos mais recentes, confeccionados com arame, refletem isso. “Piza os chamava de tramas e podem ser consideradas uma tridimensionalização das gravuras. Ele usava várias densidades e texturas de arames para construir peças que são de grande importância no desenvolvimento da obra dele”, diz. (Carlos Andrei Siquara)
 

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