Investigação

Polícia Federal libera parte do Museu da UFMG para equipes resgatarem acervo

Universidade criou duas comissões para auxiliar na recuperação das peças; incêndio atingiu salas que guardavam coleções de arte popular, arqueologia, paleontologia, etnografia, botânica e zoologia

Qua, 24/06/20 - 15h33
Incêndio em Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG | Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

A Polícia Federal (PF) liberou algumas áreas do prédio incêndiado do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG para que as equipes da instituição comecem o resgate de parte do acervo remanescente. O incêndio destruiu o edifício onde ficava a reserva técnica do museu na última semana. No local ficavam guardados acervos que não estavam em exposição.  

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De acordo com a PF, a corporação isolou as áreas de interesse pericial, mas nas próximas semanas, já deve começar o monitoramento do trabalho de resgate do acervo da reserva técnica, para, em seguida, ser realizado o processamento pericial dos demais escombros.

As causas e a dinâmica do incêndio só serão informadas após a conclusão dos trabalhos periciais. Um inquérito foi aberto no mesmo dia do incêndio para apurar a autoria e a materialidade do ocorrido. 

Além das perícias determinadas, outras diligências policiais estão sendo realizadas. Não há uma data para a conclusão das investigações. 

Os peritos da Polícia Federal já fizeram o escaneamento em três dimensões do prédio atingido pelo fogo e também coletaram amostras para realização de exames químicos. Eles trabalharam na perícia do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro que pegou fogo em 2018. “A estratégia buscou resguardar o conteúdo probatório da investigação e priorizar o resgate da maior parcela possível do acervo do museu, com a maior brevidade possível”, informou a corpororação em nota.

Segundo a UFMG, as primeiras salas atingidas pelo incêndio foram cobertas por fuligem e fumaça. Nelas estavam itens de paleontologia e objetos de grande porte da arqueologia. Já a sala do meio, que contava com itens do acervo etnográfico, de arte popular e parte do acervo de zoologia, foi parcialmente atingida. As duas últimas salas, com itens de arqueologia de origem orgânica e zoologia, foram as mais afetadas. “Era uma das melhores edificações do museu, com controle de temperatura e controle de umidade do ar. Ela atendia a todas as necessidades de manutenção e monitoramento do acervo”, ressalta a diretora do Museu, Mariana Lacerda.

Comissão 

A UFMG criou duas comissões para auxiliar no resgate e na preservação dos acervos após o incêndio que atingiu salas da Reserva Técnica 1, no último dia 15 de junho. A comissão "Emergencial de Resgate" vai coordenar ações de salvaguarda das coleções e dos objetos afetados pelo incêndio, enquanto a comissão de "Gestão de Preservação de Acervos" vai assessorar a Diretoria do Museu na elaboração de medidas e estratégias de gestão para assegurar a manutenção adequada do acervo, incluindo a adequação das edificações às exigências do Corpo de Bombeiros. 

Os grupos são formados por professores e servidores técnico-administrativos em educação da UFMG.

Segundo a professora Bethânia Veloso, coordenadora do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais da Escola de Belas Artes da UFMG (Cecor), a comissão "Emergencial de Resgate" já atua no local para realizar as primeiras medidas de recuperação do acervo atingido. 

Foram montados um laboratório emergencial e uma reserva técnica provisória para onde estão sendo levados todos os objetos e fragmentos recolhidos. Todas as peças receberão tratamento adequado e passarão pelos procedimentos necessários para preservação das coleções. O trabalho conta com o apoio de professores e estudantes voluntários

“Nós transferimos principalmente os objetos frágeis que se salvaram, como sementes, insetos, fósseis, mantendo uma organização”, explica Bethânia. A área incendiada guardava coleções de arte popular, arqueologia, paleontologia, etnografia, botânica e zoologia. “Nesta semana, continuam os trabalhos de transferência das coleções para a reserva técnica provisória. Elas ficarão lá, em situação de pré-acondicionamento, até que tenhamos um novo projeto de reserva para abrigar esse material”, completa.

Ainda segundo a UFMG, também será criado um Comitê de Governança responsável pela formulação de estratégias de ação de comunicação, captação de recursos e apoio administrativo e logístico para as comissões criadas no Museu. 

Irregularidades

Segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), cerca de 7,5 mil imóveis de interesse cultural, entre museus e prédios tombados em Minas Gerais, não possuem sistemas de prevenção a incêndio e pânico. As falhas constatadas motivaram o MP a instaurar quase 500 inquéritos para investigar as medidas de prevenção a incêndios em bens de interesse cultural (museus e igrejas) no Estado.

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O número de inquéritos instaurados, que investigam a situação de segurança em museus e prédios tombados, saltou de 200 em março para quase 500 em maio.

As penalidades previstas para os locais irregulares vão desde advertência e multa até interdição parcial ou total das atividades. Os responsáveis por esses espaços também podem ser processados para que sejam obrigados a regularizar a situação, informou o MPMG.

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