Há dez anos, Marcos Braccini começou a mostrar que a música erudita e a popular são indissociáveis para ele. Em “Noturno” (2014), seu álbum de estreia, a canção poética foi protagonista majoritária nos arranjos eruditos de cordas e piano. Amanhã à noite, porém, esse processo se inverte. “Wiara”, segundo álbum do cantor e compositor mineiro, que será lançado em show no Teatro da Fundação de Educação Artística de Belo Horizonte (FEA), é todo composto de arranjos instrumentais de música contemporânea de câmara escritos por ele – mas, claro, com uma influência nitidamente popular.
Esse olhar atento para captar a confluência do pop e do erudito fizeram de Marcos Braccini um artista plural, graduado em composição pela Escola de Música da UFMG, mas também interessado em despejar criatividade com o rock n’ roll do Junkie Dogs e o experimentalismo contemporâneo do Derivasons, que foi levado a alguns países, entre eles Cuba – seus dois projetos paralelos.
Para ele, sua carreira fecha um ciclo agora, quando “Noturno” e “Wiara” finalmente se encontram, fazendo a ponte entre suas diversas experiências. “Um não seria possível sem o outro. O ‘Wiara’, inclusive, veio até antes do ‘Noturno’. Foi a partir dos meus estudos em composição, testando experimentações mais eruditas desse disco, mas com a minha bagagem de canção popular, que vi como podia mostrar a naturalidade em comum entre esses dois estilos”, diz o músico.
Gravado ao vivo, “Wiara” terá um show rigoroso, com o registro do álbum a ser interpretado na íntegra na FEA. O curioso da apresentação é que Braccini acompanhará quase todo o espetáculo da plateia. Isso porque, de dez obras, em oito a música contemporânea de câmara instrumental aparece absoluta e interpretada por um competente time de músicos, desde arranjos de cordas como violinos e violoncelos dramáticos até assobios, oboés e pianos experimentais. “Eu não domino esses instrumentos e a intenção não era essa. Escrevi os arranjos para oboé da mesma forma que fiz para violino, pensando a maneira popular da música chegar às pessoas”, avalia Braccini.
Músicos. No palco, Braccini conta com todos os 14 instrumentistas que gravaram “Wiara”, a exemplo do regente convidado Daniel Magalhães e do arranjador Rafael Martini (piano), além de alguns experientes integrantes da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, como o alemão Frank Hämmer (violino), a polonesa Katarzyna Druzd (viola) e a sérvia Jovana Trifunovic (violino).
Apenas três músicas do repertório são cantadas por ele, como “Mãos Vazias”, com participação da cantora Leopoldina, e “Noturno” – ambas presentes em seu primeiro disco –, além da inédita “Nas Marés”, interpretada por Braccini, com apoio de um quinteto de cordas. “Essa música representa o todo, meu lado compositor popular e os arranjos de cordas para música de câmara. Mostra o quanto é possível transitar pelos universos instrumentais e da canção ao mesmo tempo”, avalia Braccini.
Durante todo o show, as artistas visuais Sara Lana e Aline Xavier vão manipular enormes projeções pelo Teatro da Fundação, bem ao estilo do que foi visto nas apresentações de “Noturno”, onde, pouco a pouco, imagens sombrias dialogavam com cores mais vibrantes.
“Posso dizer que são shows irmãos, com linguagens bem comuns em ambos. E o efeito visual, que é indispensável para o espetáculo como um todo, completando a sensação das músicas, também será provocativo, tanto quanto o som”, avisa.
Agenda
O QUE. Marcos Braccini lança o álbum “Wiara”
ONDE. Teatro da Fundação de Educação Artística de BH (rua Gonçalves Dias, 320, Funcionários)
QUANDO. Amanhã, às 20h
QUANTO. R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Projetos
Mais ações. Marcos Braccini também pretende lançar no segundo semestre deste ano um documentário inspirado no álbum “Noturno”. Além disso, os shows do álbum “Wiara” acontecem simultaneamente a algumas apresentações de “Noturno”, como o músico fez recentemente em sua estreia no Rio de Janeiro.
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