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Porta aberta para novas flores

Jovem músico de Muzambinho, Tuca Oliveira se prepara para lançar seu primeiro álbum, só com faixas autorais

Qui, 08/02/18 - 02h00

O fato de ainda não ter nascido quando a canção “Abri a Porta” foi lançada pelo grupo A Cor do Som, em 1979, no disco “Frutificar”, não impediu Tuca Oliveira de, anos mais tarde, se impressionar com a parceria feita por Gilberto Gil e Dominguinhos. “Eu ainda morava em Minas quando ouvi pela primeira vez. Lembro que foi uma descoberta para mim”, afirma Tuca, hoje com 26 anos.

Nascido em Muzambinho, no interior do Estado, o mineiro se prepara para lançar o primeiro álbum solo que, por essas coincidências do destino, tem a produção de Mu Carvalho, tecladista que fez história com A Cor do Som. “Eu cantava direto ‘Sapato Velho’ (Mu, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós), me apaixonei pela música. Bem mais tarde, fui gravar com minha antiga banda no Rio, no estúdio do Mu. Lembro que cheguei todo nervoso e tímido, e ele foi muito receptivo”.

Estreia. Atualmente, Tuca reside na capital carioca e está em processo de finalização do CD, previsto para chegar ao mercado no dia 9 de março, tanto em formato físico quanto nas plataformas digitais. Batizado “As Flores do Começo”, ele enfileira canções que captam fases distintas de sua vida. “O título é uma expressão que está presente na música ‘No Mesmo Tom’, e que acho que resume bem esse momento da minha carreira. Gosto de imaginar que cada música é uma flor que está nascendo”, sublinha o artista.

Todas as canções são assinadas por Tuca, que também comparece como único intérprete. Para completar, ele se reveza entre piano e violão. Mas esses não foram os primeiros instrumentos que Tuca aprendeu a tocar. “Quando eu tinha cinco anos, pedi a minha mãe que me matriculasse nas aulas de violão, mas, como minhas mãos eram muito pequenas, alguém indicou a ela que eu fosse estudar teclado. Foi nessa época que tive meu primeiro contato com um instrumento de verdade, e pouco depois me apresentei pela primeira vez em público, num recital da escola de música”, recorda. “Daquele momento em diante, não parei mais. Aos oito anos, comecei a tocar acordeom em quermesses locais e cheguei a ir a alguns programas de televisão. Foi então que eu comecei a compor minhas melodias, mas tudo ainda muito inicial”, observa.

Embora esteja registrando o trabalho pela primeira vez no formato de álbum, Tuca já possui várias dessas canções veiculadas nas redes sociais, algumas com mais de 90 mil visualizações. “Um detalhe interessante é que esse disco é um apanhado de músicas que eu venho compondo há alguns anos e divulgando na internet de forma caseira. São canções que, embora nunca tenham sido gravadas profissionalmente, já vêm, inclusive, sendo interpretadas nos shows”, conta.

O músico admite que esse retorno serviu como estratégia para decidir quais faixas entrariam na seleção final. “Eu, Você e as Estrelas”, “Caixa Postal”, “Fotos em Cartões”, “Coincidência”, “Teu Bem” e “No Mesmo Tom” são algumas das agraciadas. “É comum me deparar com vídeos de covers, mensagens bonitas e até relatos de casamentos realizados com essas canções. Portanto, não poderiam ficar de fora. O público teve um papel fundamental na definição do repertório”, afirma.

Temática. Além da música, Tuca sente a influência de outras áreas, que lhe trazem inspiração na hora de compor. No cinema, ele cita o filme “A Vida É Bela” (1997), dirigido por Roberto Benini, enquanto na literatura aponta o livro “O Físico” (1986), de Noah Gordon. “Eu acho que tudo está interligado. Muitas vezes, uma cena ou passagem me vem à mente quando estou escrevendo uma determinada letra, e isso me ajuda a criar. O mais curioso é que, às vezes, podem levar anos para que reflita em uma música algo que li ou assisti, e, mesmo assim, eu só percebo depois que a música está pronta”, confessa.

“É uma coisa meio misteriosa mesmo, como imagens guardadas em algum lugar e que vêm à tona de maneira bastante intuitiva”. Tendo como referências Clube da Esquina, Roupa Nova, A Cor do Som, Boca Livre, 14 Bis, Guilherme Arantes, Ivan Lins, Nando Reis, Taiguara e os internacionais Beatles, Queen e Billy Joel, o jovem músico não titubeia sobre seu tema predileto de criação.

“Esse é um disco que reflete bastante a minha personalidade. Nele, falo muito de amor”, destaca. Apesar de ter saído de casa em 2010 para cursar Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF), quando morou em Niterói por cinco anos, antes de fixar residência no Rio em 2016, as raízes de Tuca permanecem presentes.

“As minhas referências musicais de origem são as tradicionais modas de viola que tocavam no rádio quando eu era criança. Isso me levou a compor ‘Simples Cantador’, que estará no CD e que faz um resgate desse período onde eu costumava ouvir música caipira com o meu avô no sítio”, relembra.

Compositor reflete momento musical

Criado na área da ascensão digital, Tuca decidiu por disponibilizar seu álbum de estreia em todas as plataformas digitais que estão à disposição. Para ele, essa experiência prática será fundamental para dizer como se sente no papel de criador de música. Como consumidor, ele vê muitos benefícios.

“Penso que o acervo fonográfico mundial nunca foi tão acessível, e isso é maravilhoso, porque torna mais democrático o acesso à música”, opina. “Antigamente, para conseguir ouvir canções de um artista angolano, por exemplo, você teria que adquirir um disco, que dificilmente seria encontrado em qualquer loja”, completa.

Sabedor de que nem tudo são flores, Tuca acredita que o passar do tempo tem tudo para aperfeiçoar os atuais mecanismos. “Há ainda um longo caminho a ser percorrido, sobretudo no que se refere a uma melhor arrecadação dos valores que se destinam aos músicos, ouço muitas reclamações nesse sentido”, aponta. Por ser compositor e também intérprete, ele ainda se ressente do devido crédito para os criadores das obras.

“Sinto falta da ficha técnica, mas acho que em breve as plataformas irão mostrar esses dados. Estou otimista, acho que o futuro do mercado da música já não está mais tão nebuloso”, aposta Tuca, que menciona um exemplo passado a ser seguido.

“Eu tenho a impressão de que antes havia uma valorização maior do compositor. A Elis Regina, por exemplo, foi uma artista responsável por alavancar várias carreiras, já que ela fazia questão de gravar compositores de quem gostava, e sempre falava sobre eles”, exalta.

Aliás, o próprio Tuca teve uma canção interpretada por outros artistas, que ultrapassou as fronteiras. “Fiz uma música chamada ‘Em Algum Lugar’, uma parceria com a Lidi Satier e a Vanessa Pinheiro, gravada pela Lidi e pelo Cláudio Venturini, e que ganhou videoclipe filmado em Hong Kong”, orgulha-se.

“As Flores do Começo”, primeiro álbum do cantor, compositor e instrumentista Tuca Oliveira, mineiro de 26 anos nascido em Muzambinho. O trabalho, que tem produção de Mu Carvalho, apresenta somente canções autorais e chega ao mercado no próximo dia 9 de março. 

 
 

 

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