Ministério da Cultura

‘Precisamos ver o que é possível’

Sérgio Sá Leitão assumiu pasta nesta terça (25) falando em “choque de gestão” para “diminuir custos e aumentar receita”

Qua, 26/07/17 - 03h00
Nova parceria. Michel Temer declarou que Leitão “coisas muito adequadamente reivindicou”, e pediu que ele ajudasse o Carnaval do Rio | Foto: Beto Barata/PR

Brasília. O jornalista Sérgio Sá Leitão, 49, tomou posse terça (25) como novo ministro da Cultura defendendo as reformas do governo Michel Temer (PMDB) e falando em fazer um “choque de gestão” no ministério. Terceiro titular da pasta em pouco mais de um ano, Leitão terá que enfrentar a resistência da classe artística ao governo Temer.

Leitão disse que quer ser o ministro “de toda a cultura brasileira”. Ele ainda criticou o que chamou de “reação descabida” daqueles que rejeitam “o bom senso e a contemporaneidade” e disse esperar que todos possam “baixar a bola”. Ele ainda defendeu as reformas econômicas do governo, criticadas por setores da classe artística, e criticou a “fácil omissão”.

“O Brasil de hoje exige que mais brasileiros sérios agarrem as rédeas do nosso destino. Nós precisamos sair logo da crise, em todas as áreas, e precisamos construir esse país que sonhamos. E isso se faz com reformas estruturais, não com a fácil omissão”, disse.

Leitão reconheceu que assume em um “momento difícil no país” e disse que é necessário “ressuscitar sonhos”. “As condições do país são adversas e estamos começando a sair da maior recessão de nossa história”, disse. O novo ministro afirmou querer “reconstruir o MinC”. “Farei o possível para reduzir custos e aumentar receitas por meio de um choque de gestão. Quero desburocratizar o MinC”, declarou.

No Orçamento de 2017, a pasta tem R$ 2,7 bilhões – menos, por exemplo, que o reservado à Universidade Federal do Rio de Janeiro ou ao IBGE. Está sob sua jurisdição, ainda, R$ 1,7 bilhão ao ano em benefícios tributários como os da Lei Rouanet (de renúncia fiscal). Ao ser questionado sobre a necessidade de mais recursos para a pasta, o ministro reconheceu que o momento “é de adversidade”. “Precisamos ver o que é possível, de fato fazer neste contexto”, prosseguiu.

Apesar das dificuldades, Leitão apresentou no discurso números produzidos no setor cultural que teriam impressionado o presidente. Temer, depois, avisou que diria aos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Oliveira, que precisavam conhecer aqueles dados.

Posse sem Gilberto Gil. O evento de posse do novo ministro estava marcado para um “auditório bem menor”, já que, segundo Temer, havia a suposição de que “talvez não houvesse tanto interesse” pela cultura. Mas, ele acabou sendo realocado. Estiveram presentes o ex-presidente José Sarney (a pasta foi criada em sua gestão) e representantes do setor audiovisual, como Cacá Diegues, Carla Camurati e Vladimir Carvalho.

Artistas ligados ao Carnaval do Rio também marcaram presença, como Tia Surica, da Portela. O cantor Gilberto Gil, de quem o novo ministro foi chefe de gabinete no governo petista, não compareceu. Segundo Leitão, ele estava gravando um programa de TV.

Em defesa de Temer. Após a posse, Leitão reiterou a defesa do discurso reformista do governo Temer, avisou que a gestão será “baseada no diálogo”, mas evitou responder se acreditava na inocência do chefe do Executivo, que está a uma semana da decisão do plenário da Câmara de aprovar ou rejeitar a abertura de processo contra ele, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o que poderá afastá-lo do cargo. “Não se trata de uma questão de fé, de se acreditar ou não”, respondeu o novo ministro da Cultura.

Leitão evitou politizar o tema ao não responder se achava que se seria melhor para o Brasil a administração Temer continuar ou não. “Já falei o que tinha que falar”, encerrou. Após a fala de Leitão, Temer exaltou o discurso otimista do novo ministro. “A prova mais clara dessa vitalização se revelou no discurso do Sérgio Sá Leitão, que muitas coisas muito adequadamente reivindicou”, afirmou.
Temer ainda reconheceu que o país enfrenta dificuldades, mas disse ser necessário acabar com o pessimismo. “Nós temos dificuldades? Claro que temos, mas isso é algo histórico. E há a capacidade extraordinária de otimismo do povo brasileiro e a absoluta crença de que começamos a respirar uma nova economia e novos costumes”, disse.

O ministério estava sem titular desde maio, quando Roberto Freire (PPS) deixou o cargo. Leitão era o nome preferido do Palácio do Planalto para presidir a Agência Nacional do Cinema (Ancine). João Batista de Andrade, ministro interino que pediu demissão no mês passado, discordava: queria que a presidente fosse Debora Ivanov, ligada à gestão petista da agência, principalmente a nomes do PCdoB.

 

Sobe e desce da verba do Carnaval

Desfile reforçado em 2015. Em setembro de 2015, o secretário-executivo de Coordenação de Governo e futuro candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Carvalho (PMDB), anuncia que, em vez dos R$ 12 milhões usuais, seriam destinados R$ 24 milhões às agremiações (R$ 2 milhões para cada uma) para o Carnaval de 2016.

Verba mantida em 2016. Em novembro de 2016, a Prefeitura do Rio, ainda na gestão de Eduardo Paes (PMDB), anuncia que vai manter em R$ 24 milhões o apoio financeiro para o desfile das escolas de samba em 2017. 

Verba cortada pela metade. No mês passado, já na gestão de Marcelo Crivella (PRB), a prefeitura do Rio informa que os repasses para os desfiles de 2018 serão de R$ 13 milhões, retornando o orçamento de cada escola ao valor praticado até 2015 (há uma agremiação a mais).

Temer anuncia apoio. Em reunião com o deputado Pedro Paulo, Michel Temer garante mais R$ 13 milhões ao Carnaval do Rio.

 

 

Carnaval do Rio ganhará R$ 13 mi

BRASÍLIA e RIO de Janeiro. Antes mesmo de assumir o Ministério da Cultura, Sérgio Sá Leitão participou de reunião com o presidente Michel Temer e os representantes das escolas de samba do Rio de Janeiro. No discurso de ontem, Temer contou ter pedido que Leitão auxilie as agremiações. “A cultura é um fenômeno universal e o Carnaval faz parte da cultura e do turismo”, disse o presidente.
Temer pediu que o assunto seja conduzido pelos ministros Sérgio Sá Leitão (Cultura) e Marx Beltrão (Turismo). A ideia do peemedebista é disponibilizar os R$ 13 milhões pedidos pelas escolas de samba por meio de patrocínios de empresas estatais ou por recursos orçamentários previstos para as duas pastas.

Crítica a Crivella. Após conseguir a garantia da ajuda de R$ 13 milhões do governo federal, o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio (Liesa), Jorge Castanheira, fez críticas ao prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB). Ele disse que falta interesse do prefeito ao Carnaval. Para ele, a despeito da crença religiosa de Crivella, que é evangélico, é preciso investir na festa carioca. “Não podemos deixar que o Carnaval seja repreendido pela religiosidade”, disse.

Castanheira elogiou ainda o apoio do presidente Michel Temer e defendeu a integração do Ministério da Cultura e do Ministério do Turismo para ajudar o Rio. Segundo ele, o presidente afirmou que fará “todos os esforços” para liberar o dinheiro necessário, estimado em R$ 13 milhões.

Presente na reunião, o deputado Pedro Paulo Carvalho (PMDB-RJ) afirmou que Temer garantiu o dinheiro. “Temer disse: ‘Podem dizer para as escolas que o Carnaval vai ter o mesmo volume de recursos que teve no ano passado”, contou o político.

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