Bárbara Barcellos

Presente da voz de Deus

Mineira irá integrar a banda de Milton Nascimento em “Semente da Terra”, turnê que estreia em BH no dia 25 de março

Qui, 23/02/17 - 03h00
Bárbara Barcellos foi descoberta por Beto Lopes e convidada a integrar a banda de Milton Nascimento pelo próprio Bituca | Foto: Lincon Zarbietti

Uma rodinha de violão num bar do Santa Tereza foi o suficiente para o destino da cantora Bárbara Barcellos mudar radicalmente. Descoberta em cantoria informal por Beto Lopes, um dos eternos meninos do Clube da Esquina, a tímida jovem de 23 anos acabou encantando Milton Nascimento e foi convidada neste ano a participar como cantora da turnê “Semente da Terra”, que Bituca estreia no Palácio das Artes no dia 25 de março, em sua volta aos palcos após um ano sem fazer shows. “Eu estava simplesmente cantando em um bar, e, de repente, tudo começou a mudar rápido, até um belo dia eu estar cantando com gente do Clube, indo à casa do Milton”, lembra a belo-horizontina.

Lisonjeada pelo convite de cantar com Bituca em uma turnê inteira, ela reconhece que a chance envolve uma responsabilidade enorme, vide as cantoras impulsionadas por Bituca em sua discografia, como Alaíde Costa e Maria Rita – sem contar Elis Regina, que sendo musa maior na história musical e sentimental de Milton, decretou: “Se Deus cantasse, seria com a voz do Milton”.

Sem comparações com ícones da música popular brasileira, claro, Bárbara se resume a uma identificação singela, interiorana e à parte com o Clube da Esquina. “O Milton tem muitas cantoras na história dele. Sempre tive uma identificação muito forte com o Clube da Esquina porque era o que eu ouvia nas viagens para a roça, todo fim de semana indo para a região de Engenho de Minas, para as cachoeiras da Lapinha da Serra. É uma memória de nostalgia que me remete à roça, à estrada, ao sertão e àquela coisa do interior. Eu realmente acredito no que dizem as músicas do Clube, fora as harmonias maravilhosas. É minha vida também”, explica a cantora.

Praticamente autodidata, a mineira começou a cantar ainda aos 14 anos, acompanhando o pai e a mãe pelos bares da capital mineira. “Cheguei a fazer aula de violão um tempo, mas quase tudo fui absorvendo com meus pais; cantar, para mim, sempre foi natural”, diz a artista, que, em 2005, chegou a ingressar na Universidade Bituca, em Barbacena, mas não concluiu o curso, e hoje faz aulas particulares de canto com Andrea Amendoeira – professora da universidade.

O talento de Bárbara, porém, não está restrito à técnica, para Beto Lopes. “É uma postura natural que ela tem. Poderia estudar a vida toda que não aprenderia o que já sabe. Bárbara nasceu para cantar e faz isso, simplesmente, como poucas”, diz o músico.

Com Lopes, a cantora começou a dar canjas, em 2015, no extinto Godofrêdo Bar, onde dividiu o palco com Beto Guedes, Lô Borges, Paulo Braga (conhecido por tocar bateria com Elis Regina), entre inúmeros instrumentistas e cantores da cena local. O encontro mais especial, porém, foi quando ela interpretou um repertório de mais de dez canções de Milton, com o próprio compositor assistindo ao show.

“Ele chegou a me ver uma vez, mas estava com os músicos da turnê ‘E a Gente Sonhando’, e não conseguimos nos falar muito. Depois, ele voltou para me ver quando fiz um repertório maior. Aí, no fim do show, ele pediu para sentar do lado dele, ficou me abraçando. Ficamos mais próximos, ele me convidou para ir à casa dele, quando ainda morava no Rio, no Recreio (atualmente o cantor e compositor mora em Juiz de Fora). Até chegar agora, com esse convite para a turnê”, diz Bárbara.

A cantora até chegou a ser cotada para fazer uma participação na turnê “Linha de Frente: Milton Nascimento Convida Criolo”, que rodou o país em 2014, mas acabou não podendo participar. “Era um show só, o Milton acabou convidando a Julia Vargas, que é uma cantora incrível, e ela fez essa participação especial. Agora, vou ter a chance de cantar numa turnê inteira”, comemora Bárbara.

Turnê. A mineira será praticamente a única novata no time impecável que acompanha Bituca há mais de duas décadas, incluindo o arranjador Wilson Lopes, o baterista Lincon Cheib e o pianista Kiko Continentino.

Com viés altamente político, a turnê “Semente da Terra” apresenta canções dedicadas aos indígenas e aos negros. Entre elas, “Credo”, a preferida de Bárbara Barcellos, “Milagre dos Peixes”, “Terceira Margem do Rio” e “San Vicente”. Ainda sem todos os shows marcados, a expectativa é que as apresentações no país sejam contadas nos dedos – sem descartar chances de levar o show para o exterior.

Além da turnê com Milton, Bárbara Barcellos prepara o lançamento do seu primeiro disco, previsto para março. Sem um conceito temático, a cantora reuniu interpretações. Além disso, ela também apresenta ao público duas canções próprias: “Serra do Espinhaço”, parceria com Beto Lopes, Tavinho Moura e Gabriel Grossi, e“Ciranda de Maria”, outra dobradinha com Gabriel Grossi.

Sob a alcunha de “Ubuntu”, palavra presente na filosofia africana que diz respeito à coletividade, o disco reúne uma penca de participações, como Sérgio Ricardo, Bebê Kramer e Vander Lee interpretando “A Voz”, em uma de suas últimas gravações. “Não tive um tema específico no disco. Só quis juntar os amigos e refletir o momento musical que estou vivendo, cercada deles”, diz, com simplicidade, a cantora que conquistou Bituca e sua voz de Deus.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.